terça-feira, setembro 29, 2009

Casa Albano

Em Matosinhos a necrologia é afixada na Casa Albano, esquina de Brito Capelo com a Rua do Godinho. A Casa Albano é a casa de lotarias de Matosinhos, o que não deixa de ter a sua lógica.

Junho 2009

Instalação sanitária.

The new stone age?As três idades do Homem representadas no parque habitacional de A Coruña.
Assim estamos.Soajo. Peneda.Vai abrir.
Pobres miúdos.

JJ

Lembremos que Jackson é apelido de Janet, e esta foi a sua melhor canção até hoje - para mim, claro - com a colaboração de Q-Tip, dos A Tribe Called Quest, e a recuperação de Joni Mitchell. 2001, álbum Velvet Rope.



05 Got'Til It's Gone - Album Version.mp3

[JANET:]


What's... what's the next song?

[Q-TIP:]

The one about me

[JANET:]

Oh yeah?

I like this song

Uh-uh like Joni says...

[JONI]

Don't it always seem to

go that you don't know

what you've got 'til

it's--

(x3)

You don't know what

you've got 'til it's--

[JANET:]

Gone

Have a feelin

Now believin

That you were the one

I was meant to be with

Oh how I'm wishin

Thinkin dreamin

Bout you

And the love

How'd I ever let you get away?

Got 'til it's gone

[JONI:]

Don't- don't- don't it always--,

Don't- don't- don't it always--

[JANET:]

Got 'til it's gone

[JONI:]

Don't- don't- don't it always--

[Q-TIP:]

Yeah, yeah, yeah...

[JONI:]

Don't it always

seem to go that you

don't know what

you've got 'til

it's

[JANET:]

Gone

[JONI:]

Don't it always

seem to go that you

don't know what

you've got 'til

it's

[JANET:]

Gone

[JONI:]

Don't it always

seem to go that you

don't know what

you've got 'til

it's

[JANET:]

Gone

[Q-TIP:]

Joni Mitchell never lies

[JONI:]

You don't know what

you've got 'til it's

[JANET:]

Gone

If I could turn back

The hands of time I'd make you

Fall in love

In love with me again

So would you give me

Another chance to love

To love you

In the right way no games

Got 'til it's gone

[JONI:]

Don't- don't- don't it

always--, Don't- don't-

don't it always--

[Q-TIP:]


Here we go again...

[JANET:]

Got 'til it's gone

[JONI:]

Don't- don't- don't it

always--, Don't- don't-

don't it always--

[Q-TIP:]

Joni Mitchell never lies

[JONI:]

Don't it always

seem to go that you

don't know what

you've got 'til

it's

[JANET:]

Gone

[JONI:]

Don't it always

seem to go that you

don't know what

you've got 'til

it's

[JANET:]

Gone

[JONI:]

Don't it always

seem to go that you

don't know what

you've got 'til

it's

[Q-TIP:]

1,2... 1,2...

[JANET:]

Gone

[Q-TIP:]

Yo lemme just f*ck wit

it for a minute

[JONI:]

You don't know what

you've got 'til it's

[JANET:]

Gone

[Q-TIP:]

Now you're realizin

when the nights go long

right?

Campaign for me stay

when you know that I'm

gone right?

You act all wild when I

tell you to settle

I was workin round the

clock but your girls

wanna meddle

Talkin bout, "I heard he

swims with this chick on

the beach."

That was out with the

tide but my love you

impeached

Now you lookin at the

walls head in hand cold

Jonezin

Ringin my house, hangin

up, and then posin

Now why you wanna go and

do that love huh?

Now why you wanna go and

do that and do that,

huh?

(x4) and

do that?

[JONI:]

Don't it always

seem to go that you

don't know what

you've got 'til

it's

[JANET:]

Gone

[JONI]

Don't it always

seem to go that you

don't know what

you've got 'til

it's

[JANET:]

Gone

[JONI:]

Don't it always

seem to go that you

don't know what

you've got 'til

it's
it's

[JANET:]

Gone

[Q-TIP:]

Joni Mitchell never lies

[JONI:]

You don't know what

you've got 'til it's

[JANET:]

Gone

[JONI:]

You don't know what you've

got 'til it's gone

You don't know what you've

got 'til it's gone

[Q-TIP:]

Dust


Canalhas

“Eu elegeria como primeira coisa a fazer o debate, a luta imediata contra a corrupção. Importantíssimo, o exemplo do Estado, os gestores das grandes empresas têm que ter as mãos limpas, os dos bancos. Os professores têm que ganhar mais para terem vidas mais dignas, para poderem viajar, comprar livros, para nunca pararem de aprender e poderem transmitir os seus conhecimentos. Sem o entusiasmo das pessoas, não há país que avance. Sem arte e sem cultura os países são tristes e não produzem nada. Sem a solidariedade para com os mais velhos e os mais pobres, somos todos uns canalhas. Um país de canalhas é um país que não vale nada."

Teresa Villaverde in "Publico", ontem.


.

segunda-feira, setembro 28, 2009

Quebra de ligação.

Há aproximadamente dois minutos a internet avisou-me de uma possível quebra de ligação.

Nos próximos dias estarei atento.

domingo, setembro 27, 2009

Nada? Nada.

"O PS e o PSD não se diferenciam essencialmente em nada, a não ser na questão do TGV (sorrisos dos presentes...)!"

José Miguel Júdice*, in  SIC Notícias, há 15 minutos.


*um já antigo contratado para a His Master's Voice, inc.

sábado, setembro 26, 2009

A recidiva

A minha amiga Maria Emília tem uma recidiva abdominal dum melanoma, está contente, a quimio já parou, engordou três quilos, trabalha.
Em dois, três anos, estará morta.

sexta-feira, setembro 25, 2009

Casa Confiança, funerária de Matosinhos.

910 930 930 - fácil de fixar por se nos morre de repente alguém.

Maio 2009

Um escorrega.Instalação interior que não serviu para nada.Freita.
Uma ilha.  Continental.Portugal em marcha.Um lavor que se revelou inútil.

quinta-feira, setembro 24, 2009

Fazem-me falta (12 coisas que).

Um Citroen AX.




Boa rádio.



A poesia portuguesa.



Tempo livre.



O Jacinto.



O Acosta.



Escrever melhor.



Um cigarro às três da manhã, o Luis, o Jorge, e outros mais.




Iluminação.



Sair e ser ofuscado pelas cores e pelas coisas.



Ir ao cinema.



O indizível e incontornável prazer de estar vivo.

Abril 2009

Um anjo não, uma fada.


Chocolate.                                                   Terra de gigantes.Santo?

Up - Altamente

"Mas é um cão falante!"

25

Pronto, vai ser assim um tema do sonywalkman para cada dia útil de trabalho da semaninha. E para amanhã já adianto um Caetano da última apanha, Zii e Zie. Reparem na letra - os poemas de Caetano são sempre... demais.


24

Os Arcade Fire já despertaram - "cá" e "lá" - paixões tão extremas que até um bloguista da nossa praça os comparou a Agustina Bessa Luís. Passe os exageros e boutades, são do melhor que o século este botou cá para fora, esta torch-song do seu famoso disco Funeral, 2004.



23

O "defunto" Maxwell - desaparecido ao que parece - foi, enquanto durou a coisa mais deliciosamente dançável da New-Soul - este tema é de 1996. Dançemos portanto em memória de.


22

Eu estive nesta digressão do Zé Mário Branco, e acho que este Ao Vivo em 1997 é um must. A Cantigo do Trabalho, é, creio do tempo dos GAC, e mais não digo, é ouvir. Um génio da música portuguesa.



21

Os Fujiya @ Miyagi já forma referidos neste blog: trata-se de música pop alemã feita por ingleses, aqui o 2º disco, Lightbulbs, de 2008. Este tema, não sendo dos mais imediatos serve para explicar o ambiente.




segunda-feira, setembro 21, 2009

Speechless (sem palavras)!


Tempos lá vão e foram em que ficar sem palavras era a manifestação mais provável de um qualquer bem-estar que finalmente era decidido, acontecido ou encontrado.


As esquinas mantêm-se e são idem viradas para surpresa de nós muitos, os que distraídos vivem por incapacidade e não por compra de fichas para o hoje jogo da distracção. E ficar sem palavras é agora isto, uma e outra e outra vez: o fantástico espectáculo da quase universal estupidez humana, ano domini 2009.

Aplicando um pequeno rewind sobre conversa prévia, vi umas semanas atrás o enésimo doc – podíamos-lhe chamar docudrama – sobre “a imensidade do universo” – sim, nós sabemos que sim – e lá era referido como a ditosa pátria minha amada, ie o cérebro humano, seria a máquina privilegiada para melhor o entender. Seria, Cova da Iria, porque para milagres o céu anda nublado e curto. Certo. Uma praia do Algarve e vários centros comerciais depois, digamos que estou esclarecido.

Sei porém para quê queria eu este universo, para além do meu isolado e não partilhado espanto perante a sua negra e fina beleza. Adquirida a potência para o adequado disparo porque não mandar no sentido do eterno nada – o mesmo falado universo, as pessoas “a”, “b”, “c”, enfim, teremos que usar vários alfabetos para, e mesmo assim...

Temos a situação documentada, e é o universal drama! Resta-nos vivê-lo?








P.S.: tema de Robert Wyatt, disco Old Rottenhat.

Ascensão ao Vale de La Larri.


O percurso mais fácil para fazer em Pineta é este: percurso em curva desenhando o fundo do vale em lenta ascensão, coleccionando cascatas até rodear todo o "U" terminal e subir ao vale de La Larri, um vale glaciar tributário de Pineta, similar ao de Ozal em Bujaruelo. Como prémio as vistas para trás - Pineta escavado a formão por milénios de gelo - e para cima o monte Perdido "e amigos" com o entrever do mini-glaciar que resta subjacente à montanha-mãe. Assim foi e lentamente embora a subida fez-se muito bem, a descida não pois choveu e muito, granizou um pouco, relampejou bastante. Chegámos ao carro molhados até ao osso, saímos de Pineta com a estrada em vias de enxurrada, enxurrada que aconteceu realmente em alguma que outra aldeia por ali. Os Pirinéus são assim.

Pineta



Pineta tem um imediatismo de prodígio diferente do vale de Ordesa. Calha também ser algo mais acessível, até pelo facto de só parcialmente estar integrado no Parque Nacional.
Partindo também de Ainsa em direcção norte, o percurso é mais longo e percebe-se que esta via de penetração deixa não só à esquerda - Escuaín, Añisclo - mas também à direita muito território por explorar. Finalmente o desvio em Bielsa. É preciso subir um pouco mais até entrar no vale. Imaginem um vale glaciar tão perfeito como o do Zêzere no Estrela mas três vezes mais largo e com paredes de mais de mil metros de altura. No fundo um circo rodeado de picos como não há outro e, à esquerda o próprio Monte Perdido. Esta última visão pode ser tirada enquanto se come num Parador, e foi o que fizémos. O Parque Nacional só começa no fim do vale, imediatamente antes uma enorme zona de acampada a criar um absurdo contraste visual, auditivo e o que mais se possa imaginar. Continuo a não perceber porque quem vai acampanhar para Pineta - ou para onde quer que seja - tem que levar aparelhagem de som, televisão com plasma, etc.

Entrámos portanto no Parque Nacional acompanhados por um som qq latino-americano. Ameaçava chover.

Laruns

Depois de Panticosa decidimos ir a França - escassos quilómetros, bastava passar o Portalet. Assim se fez. A estrada é lindíssima, bordejando o rio Gállego. Antes de Portalet uma enorme estação de esqui cujos campos agora em verão pareciam enormes campos de golfe a 1600m de altitude. Há quem goste, eu não. Portalet não teve nada que se dissesse, umas vendas deste e do outro lado da fronteira. O tempo incerto só ficou certo do lado francês: um nevoeiro cerrado e húmido que nos acompanhou convincentemente até às portas da primeira povoação decente que existia bem lá para baixo, dez-quinze quilómetros sem ver mais do que asfalto, branco e a traseira do carro em frente.
O povoado era Laruns e nele a minha filha aprendeu que os Franceses se parecem muito conosco, só falam um bocadinho diferente. Havia festa na vila, passeámos um pouco - fazia frio, a face francesa dos Pirinéus está virada a norte - comprámos especialidades. O verão nestas paragens obrigará a anorak. Voltámos por donde viemos, adivinhámos alguma que outra paisagem superlativa. Em Sállent de Gállego festa "pachangueira" que se evitou com cuidado.

Balneário de Panticosa


Para descansar de tantas emoções decidimos neste dia fazer uma viagem rodoviária menos exigente - pelo menos foi o que nos pareceu.
Fomo almoçar a Panticosa e depois visitar o respectivo Balneário.
Este - visitado sob chuva miudinha - é um grande circo de montanhas com linhas de gelo no alto a rodear um  lago represado. Cascatas aqui e ali descem pela encosta. Não se pode pedir mais.
As construções antigas do Balneário estão em ruínas, há um hotel Art Nouveau renovado, e um balneário novo todo mordenaço logo ali ao lado. Enfim... para o espanto tinhamos portanto apenas que olhar para cima e esquecer o humano estrago.

domingo, setembro 20, 2009

Añisclo inferior ou o Canhão Inferior do rio Bellós


Subindo de Aínsa em direcção norte, encontra-se um desvio à esquerda que indica cañon de Añisclo. Passamos um campismo - cheiro a águas fecais logo ao lado... - e depois a estrada, já de si bem estreita ganha sentido único, que rapidamente se percebe porquê - o rio Bellós criou aqui um canhão profundo, sinuoso, carregado de vegetação em paredes de vertigem, com a adição pelo homem de uma estreita tira de asfalto, enterrada na parede, pendurada sobre o rio, como calha. É uma dezena de quilómetros de espanto, infelizmente feitos de automóvel mas para os quais recomendamos a bicicleta ou a caminhada. Aqui ainda não será verdadeiramente o vale de Añisclo - o caminho feito tem vários nomes, a zona mais fechada é Los Estrechos de Las Cambras. No fim, quase de noite, chegámos à boca do Añisclo que se fende para norte, em direcção ao maciço do Monte Perdido e "amigos", ladeado pelas Sestrales à direita, e o Mondotó à esquerda. Era de noite, voltámos a Ordesa por más estradas e sem sinalização - o Pirinéu Aragonês é pródigo em estradinhas perigosas... - mas sabíamos que íamos voltar...

Bénédicte Houart - dois.

"tenho um mamilo sempre erecto e
outro sempre murcho
ora bem,
a interpretação que faço do fenómeno
embora duvidando que entusiasme alguém
é a seguinte:
um pressente coisas de que o outro nem suspeita
coitado do primeiro
quando não há nada
coitado do segundo se quiser arrebitar"




"má língua:
aquela que se porta bem
na minha boca"




in "Vida: Variações" livros cotovia, 2008

sábado, setembro 19, 2009

JMB

"Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto."

Assim termina o poema "FMI" do Zé Mário. Já lá vão 30 anos, não é? Mais coisa menos coisa...

MFL

Claramente é importante que Manuel Ferreira Leite ganhe para que a direcção do PS mude.

Hoje

É um dia do mais puro inverno...

sexta-feira, setembro 18, 2009

Aínsa



Aínsa fica num entroncamento de rios que desenha um vale relativamente amplo. É uma verdadeira porta para Ordesa. Seguindo para norte encontramos os momentos para entroncar para Añisclo, Escuaín e Pineta. Voltando para trás regressamos à antesala de Ordesa. A vila moderna fica em baixo, o pequeno burgo histórico lá em cima. Quem vê uma destas pequenas vilas fortificadas talvez as tenha visto todas, mas mesmo assim o enquadramento de Aínsa entre os dois rios e a Peña Montañesa merece a nossa atenção. E a praça principal, adequadamente porticada, é o sítio ideal para almoçar. No recinto amuralhado estava uma exposição sobre a ligação do Homem à Água, no Pirinéu Aragonês e um pouco por todo o mundo. As hidroeléctricas eram adequadamente insultadas.

quinta-feira, setembro 17, 2009

Eu explico

Estou a tentar por música no blog pela primeira vez. Os temas escolhidos são "randomizados" do meu Sonywalkman (sim, claro que eu não podia escolher com iPod com o resto da humanidade, até porque eu já tive um Sony Walkman antes...). Com tempo melhoraremos embora nunca atingindo o nível da Radio Blas do meu amigo Señor Blas!

quarta-feira, setembro 16, 2009

Quinta tentativa.

Os DJ Food, ou Coldcut, se preferirem, editaram um álbum em 1996, Refried Food com remisturas por outros DJ's da sua música. Estavam lá "todos" os que ream alguém então: Herbert, Luke Vibert... Não resistiram porém a apresentar um dub dum tema seu pretérito, este "Spiral", donde o verdadeiro nome disto ser "Spiraldub".


Food of DJ!


02 Spiral.mp3

Quarta tentativa

Luomo é o disguise de um DJ finlandês de grande saída neste nascer de século. Estamos aqui no seu último álbum, Convivial.


Segunda Tentativa

Junior Boys em 2006, 2º álbum, So This Is Goodbye. Soam muito a OMD, claro!



Também!

10 FM.mp3

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Terceira tentativa

Ashley Beedle nos Black Jazz Chronicles em homenagem a Fela Kuti, 1998, álbum Future Ju-Ju.




Primeira tentativa

Scritti Politti em 2006 no álbum White Bread, Black Beer. Green Gartside aos 50 anos a cantar (ainda) como um adolescente.




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terça-feira, setembro 15, 2009

Ferida 1

O meu nome é Ferida, Ferida Calo. Pinto a manta. Eu explico. Nasci em Arraiolos, na minha juventude sempre me dediquei à apanha da azeitona. Muita desta azeitona não era minha, tinha então que fugir, percebem, várias vezes caí da oliveira, à quarta queda fiquei numa cama, daí estar um pouco marrequinha, eu não me queixo. Também apanhei com um seixo entre as sobrancelhas, ficou um risco escuro assim como uma prateleira sobre os olhos piscos, também não me queixo. Por isso dizem que eu me calo, daí o apelido. Sim, porque de pai e mãe eu sou ali da família dos Incógnitos, mais para o Redondo embora tenha aparecido aqui em Arraiolos, quando eu disse nascida não terá sido bem… ninguém sabe, nem eu. Comecei a pintar a manta bastante mais tarde, depois de ter sido adoptada por um homem aqui da terra para funções não abrangidas pela convenção de Genebra. Ferida tinha ele, dizia, como um cão a ganir, a ganir, e eu era o calmante, sabia a vila toda, fiquei a ser conhecida como a Ferida Calo, dizem que hoje os meus tapetes são os mais bonitos da vila, não sei, os motivos parecem-se bastante com os de uma tipo ali de Lisboa ou de Londres, a Paula Rego, é tudo raparigas feias com pernas abertas e tal, vá-se lá saber porquê, para quê, etc. Mais não digo, porque me calo.

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António Osório

Mãe que Levei à Terra




Mãe que levei à terra
como me trouxeste no ventre,
que farei destas tuas artérias?
Que medula, placenta,
que lágrimas unem aos teus
estes ossos? Em que difere
a minha da tua carne?


Mãe que levei à terra
como me acompanhaste à escola,
o que herdei de ti
além de móveis, pó, detritos
da tua e outras casas extintas?
Porque guardavas
o sopro de teus avós?


Mãe que levei à terra
como me trouxeste no ventre,
vejo os teus retratos,
seguro nos teus dezanove anos,
eu não existia, meu Pai já te amava.
Que fizeste do teu sangue,
como foi possível, onde estás?



António Osório, in 'A Ignorância da Morte'

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segunda-feira, setembro 14, 2009

Ponyo e Up


Up é muito bom. Ponyo é altamente! Melhor ainda, quero eu dizer...

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Um simples trocadilho

Hoje surgiu-me de repente este trocadilho sobre uma conhecida figura pictórica: a "Ferida Calo" - "Ferida" de 1º nome, "Calo" de apelido!
Pois, e agora o texto? Estivessem as coisas mais calmas e...

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sábado, setembro 12, 2009

Do Gilson alguns problemas

Já todos ouvimos falar do jovem médico em formação no serviço de Cirurgia Torácica que esteve algum tempo em greve de fome encerrado numa sala dentro do Hospital de São João. Conversei este dias um bom bocado sobre este tema com um amigo meu, médico, e esta conversa ajudou-me a ter ideias mais claras sobre o acontecido e o que ainda está a acontecer.
A especialidade de Cirurgia Torácica, de todos conhecida, trata de cirurgias de enorme responsabilidade e de grande risco, necessitando de um grande expertise em situações de coração aberto, clampagem de aorta, bla bla bla, etc. Quem falha nem que seja um pouquinho nestes temas mata o doente nas calmas e sem tempo para exéquias prolongadas: em segundos. O internato de Cirurgia Torácica, ou seja, o tempo de treino necessário para adquirir o título de especialista de, seis anos, é um tempo de enorme sobrecarga de trabalho, horas muitas a mais, stress, pressão, esforço. Neste como noutros internatos médicos a sobrecarga horária aplica-se por conveniência e/ou necessidade do interno, dos doentes, do serviço. Acontece, o sistema vive dela. Assim se aprende também. É assim na Torácica como em Dermatologia. Com a diferença que na Torácica podemos ter que operar quatro-cinco horas de pé e praticamente sem interrupções. É assim no Porto, em Coimbra, em Barcelona, em Londres, em Los Angeles, nas Ilhas Caimão. Um qualquer "flip" mental no meio deste filme mata.
Posto isto, não existe qualquer direito à formação, ao ensino, que se sobreponha ao dever de eximir um doente numa mesa de operações do risco - rapidamente letal - de alguém instável psiquicamente e incapaz de se controlar perder a mão e, digamos, abrir quando devia fechar, apertar quando devia soltar, clampar quando a dica era descamplar.
O resto é um enxame de detalhes, uns mais importantes do que outros, que giram à volta da dignidade de uma pessoa transtornada, o Gilson, a sua parece-me enorme solidão, a alguma/muita inabilidade para um Hospital ou Faculdade ou o que seja lidar com alguém que possivelmente não devia ser sequer licenciado em Medicina.
O meu amigo médico lembra-se de um colega de curso que terminou o curso entre crises de pânico e estudo de testes cedidos pelos colegas de turma. Num ano lectivo nunca foi a nenuma aula, por medo. Tem corrido várias especialidades médicas não terminando nenhumas, de vez em quando despe-se em fontes públicas.
Não me parece ser o caso do Gilson. Obviamente o Gilson não pode prosseguir o internato de Cirurgia Torácica.

Vidé o seu blog: http://www.grevedefomeemdirecto.blogspot.com/

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quinta-feira, setembro 03, 2009

Dos irmãos

“Eu conheço-o de algum lado” “Não se lembra?” “Eu estive internado no Magalhães de Lemos, no Conde de Ferreira, na Psiquiatria – sabe, eu sou irmão de...” Ele era irmão de. Eu não tenho irmãos. Ele viu-me, sim mas, num internamento psiquiátrico – que vês? E que reténs? Qual a “memória futura”? Aí começou a formar-se uma segunda hipótese, menos racional mas estava ali, crescia, que podia eu fazer. Seria este reconhecimento através da irmã? Seria possível que, mais ainda estando eu a ser interpelado por um homem considerado não no seu perfeito juízo, que a sua mente, literalmente descontrolada ou seja, capaz de coisas que em outras pessoas não teriam cabimento – cabem, não cabem, porque várias portas estão fechadas, cimentadas, coisas como alucinações, vozes, ordens, transmissão do pensamento, hummm... Porque sempre teremos que assumir que estas coisas não acontecem? Porque vamos nós os pobres normais fazer tímidas investigações em impostores e fraudulentos quando ao nosso lado – “Não a conhece?” - à nossa frente pode estar um homem que recebeu informação privilegiada da irmã sobre mim sem o escrever de uma letra, sem o mover de lábios... ok, não privilegiada mas mesmo assim...
Eu não tenho irmãos. Não entendo, não leio, não assumo o reconhecimento que pode existir entre irmãos. A minha mãe tem uma irmã que só lhe deu problemas, pessoais, financeiros, de saúde. Apercebo-me mesmo assim da pena que tem da ausência de um contacto actual, nem uma chamada telefónica. De vez em quando põe-se a falar e explora lembranças de uma ninez onde as duas eram felizes, como depois não aconteceu. Essa sua irmã, minha tia, parece-me a mim ser apenas uma muito má pessoa, sem mais. O meu pai tem irmãos muitos. Com trajectos vários, uns mais acertados do que outros, Homens todos, a única irmã já morreu, a mais velha, morreu portanto solteira. Com excepção do mais novo hoje um septuagenário mas ainda visto como o rapaz que “perdeu a cabeça” e o respeito pelos irmãos em várias manobras de má espécie, estes homens quando se encontram pouco falam, usando aquelas curtas frases de reconhecimento e penetração, como se já estivesse tudo dito há anos. São como penedos num mesmo monte, a olhar-se há milénios. São irmãos.
Não percebo.

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quarta-feira, setembro 02, 2009

Diariamente

Para calar a boca: rícino
Pra lavar a roupa: omo
Para viagem longa: jato
Para difíceis contas: calculadora

Para o pneu na lona: jacaré
Para a pantalona: nesga
Para pular a onda: litoral
Para lápis ter ponta: apontador

Para o Pará e o Amazonas: látex
Para parar na Pamplona: Assis
Para trazer à tona: homem-rã
Para a melhor azeitona: Ibéria

Para o presente da noiva: marzipã
Para Adidas, o Conga: nacional
Para o outono, a folha: exclusão
Para embaixo da sombra: guarda-sol

Para todas as coisas: dicionário
Para que fiquem prontas: paciência
Para dormir a fronha: madrigal
Para brincar na gangorra: dois

Para fazer uma touca: bobs
Para beber uma coca: drops
Para ferver uma sopa: graus
Para a luz lá na roça: duzentos e vinte volts

Para vigias em ronda: café
Para limpar a lousa: apagador
Para o beijo da moça: paladar
Para uma voz muito rouca: hortelã

Para a cor roxa: ataúde
Para a galocha: Verlon
Para ser "mother": melancia
Para abrir a rosa: temporada

Para aumentar a vitrola: sábado
Para a cama de mola: hóspede
Para trancar bem a porta: cadeado
Para que serve a calota: Volkswagen

Para quem não acorda: balde
Para a letra torta: pauta
Para parecer mais nova: Avon
Para os dias de prova: amnésia

Para estourar pipoca: barulho
Para quem se afoga: isopor
Para levar na escola: condução
Para os dias de folga: namorado

Para o automóvel que capota: guincho
Para fechar uma aposta: paraninfo
Para quem se comporta: brinde
Para a mulher que aborta: repouso

Para saber a resposta: vide-o-verso
Para escolher a compota: Jundiaí
Para a menina que engorda: hipofagin
Para a comida das orcas: krill

Para o telefone que toca
Para a água lá na poça
Para a mesa que vai ser posta
Para você, o que você gosta:
Diariamente.




música e letra de Nando Reis no álbum "Mais" de Marisa Monte, 1991.
(um doce de letra, verso-a-verso!)

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Otal


Custa sempre bastante mais do que aquilo que vem nos livrinhos de percursos pedestres, mas lá se conseguiu: Otal é um pequeno vale glaciar perfeito, pendurado sobre Bujaruelo e rodeado de montanhas cujos cumes ultrapassam os 2500m. Tem o riacjo da praxe, vislumbres de gelo lá em cima...

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Bujaruelo


O vale de Bujaruelo é um vale lindíssimo, não pertencente ao Parque Nacional, e que vem terminar ao entroncamento onde também termina Ordesa. O seu pico de origem já não o Monte Perdido mas sim Vignemale, outro "três-mil". Ao não ter o mesmo grau de defesa é acessível ao trânsito automóvel em boa parte do trajecto e tem uma carga de campismo interna considerável, e talvez responsável pelo cheiro a matéria fecal de alguns desagues perto... Bujaruelo precisa de quem lhe ponha a mão com urgência!
Como primeira incursão nos Pirinéus fizemos alguma caminhada no vale de Bujaruelo com posterior inflexão com razoável subida anexa até um vale de origem glaciar colateral, o vale de Ozal.

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Ordesa in the morning


De manhã finalmente percebemos logo porque tanta gente procura Ordesa.
Em direcção a norte do parque de campismo onde estávamos, via-se em anfiteatro as paredes nuas de mais de mil metros de altura de Mondarruego, postal de boas-vindas de Ordesa. E que postal!

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Ordesa by night.

De Pamplona chegámos já de noite a Ordesa. Ordesa, esclareça-se, é muitas coisas. Começa porém e termina sobretudo por ser um grande vale de origem primariamente glaciar no Pirinéu Aragonês, cara sudoeste do maciço do Monte Perdido, 3ª cota mais alta dos Pirinéus (3355 m). O vale tem portanto uma orientação predominantemente para poente, com vertentes rochosas delimitantes de aprox. uns mil metros de um e do outro lado. Sendo um vale de uma beleza natural estonteante dá portanto nome primeiro ao Parque Nacional del Valle de Ordesa y Monte Perdido.
Dois km ao norte da aldeia de entrada no parque, Torla fica um complexo de camping, bungalows e hotel que toma o nome do vale. Fomos dormir então nessa noite a um bungalow. Percebemos que o hotel era interessante e o camping uma confusão. Agosto...

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terça-feira, setembro 01, 2009

Anunciação

Não tenho palavras, nem entendo
formas visíveis.
Elas vêm concretas como aragem
a que dou nome.

Tenho-me, eis tudo. Acontece.
Há uma folha que desce,
que sobrenada, que desce,
que submerge no ar e depois desce
longe de mim no ar fundo.

Nós não somos deste mundo.

Fresca e limpa como a chuva,
ouço a tua voz cantada
descer do céu ao silêncio
que vem da terra molhada.

Nós não somos deste mundo.

Ouso dizer-te o meu nome
como quem se atreve a dar-te
a minha imagem.

Nós não somos deste mundo.

O que não vejo, entendo.
Pelos rios do meu sangue,
atrevo-me.

Anoitecendo, a vida recomeça.

Dou-me em palavras
que ressuscitam.
Algures no céu amanhece.

Só, intranquilo, pela vereda, desce
o nómada meu amigo.



de Ruy Cinatti, in Corpo-Alma, Presença, 1994 (abrindo a Telhados de Vidro nº12, Averno)

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Já não há quase e devia haver muito mais!

(...)
""Amigo" é a solidão derrotada!
"Amigo" é uma grande tarefa,
É um trabalho sem fim,
Um espaço sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
"Amigo" vai ser, é já uma grande festa!"

de Alexandre O'Neil

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