sábado, setembro 12, 2009

Do Gilson alguns problemas

Já todos ouvimos falar do jovem médico em formação no serviço de Cirurgia Torácica que esteve algum tempo em greve de fome encerrado numa sala dentro do Hospital de São João. Conversei este dias um bom bocado sobre este tema com um amigo meu, médico, e esta conversa ajudou-me a ter ideias mais claras sobre o acontecido e o que ainda está a acontecer.
A especialidade de Cirurgia Torácica, de todos conhecida, trata de cirurgias de enorme responsabilidade e de grande risco, necessitando de um grande expertise em situações de coração aberto, clampagem de aorta, bla bla bla, etc. Quem falha nem que seja um pouquinho nestes temas mata o doente nas calmas e sem tempo para exéquias prolongadas: em segundos. O internato de Cirurgia Torácica, ou seja, o tempo de treino necessário para adquirir o título de especialista de, seis anos, é um tempo de enorme sobrecarga de trabalho, horas muitas a mais, stress, pressão, esforço. Neste como noutros internatos médicos a sobrecarga horária aplica-se por conveniência e/ou necessidade do interno, dos doentes, do serviço. Acontece, o sistema vive dela. Assim se aprende também. É assim na Torácica como em Dermatologia. Com a diferença que na Torácica podemos ter que operar quatro-cinco horas de pé e praticamente sem interrupções. É assim no Porto, em Coimbra, em Barcelona, em Londres, em Los Angeles, nas Ilhas Caimão. Um qualquer "flip" mental no meio deste filme mata.
Posto isto, não existe qualquer direito à formação, ao ensino, que se sobreponha ao dever de eximir um doente numa mesa de operações do risco - rapidamente letal - de alguém instável psiquicamente e incapaz de se controlar perder a mão e, digamos, abrir quando devia fechar, apertar quando devia soltar, clampar quando a dica era descamplar.
O resto é um enxame de detalhes, uns mais importantes do que outros, que giram à volta da dignidade de uma pessoa transtornada, o Gilson, a sua parece-me enorme solidão, a alguma/muita inabilidade para um Hospital ou Faculdade ou o que seja lidar com alguém que possivelmente não devia ser sequer licenciado em Medicina.
O meu amigo médico lembra-se de um colega de curso que terminou o curso entre crises de pânico e estudo de testes cedidos pelos colegas de turma. Num ano lectivo nunca foi a nenuma aula, por medo. Tem corrido várias especialidades médicas não terminando nenhumas, de vez em quando despe-se em fontes públicas.
Não me parece ser o caso do Gilson. Obviamente o Gilson não pode prosseguir o internato de Cirurgia Torácica.

Vidé o seu blog: http://www.grevedefomeemdirecto.blogspot.com/

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1 Comments:

Blogger Sr Blas said...

Hostia, me acabo de quedar tonto con esta historia. Entré en su blog y lo he reconocido, lo recuerdo de cuando era alumno de la facultad y de haber trabajado con él en varias ocasiones en el SU. Y recuerdo que no me pareció un chico normal. Me he tomdo la molestia de leer su blog entero y de leer los comentarios, y basándome en lo que viví con él personalmente, con lo leído en tu blog y en el suyo y en que creo conocer algo el Hospital Sao Joao, Hospital del que guardo un recuerdo excelente y que nunca olvidaré y acabo plenamente convencido de que Gilson no puede acabar el internato de Cirugía Torácica. Es más, siendo rigurosos no sé si puede acabar el internato de ninguna especialidad. Y que conste que me da mucha pena.

8:37 da tarde  

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