quarta-feira, janeiro 22, 2014

A Longa Costa

Com um considerável atraso acabo aqui a récita dos (poucos ) duas de férias que vivi em Agosto. O último foi um sábado, e um sábado onde cedi e fomos almoçar ao Colombo. Depois derivámos para a baixa e visitámos um Museu cujo nome já me escapa (October... a song from U2) e que recria a história de Lisboa, dando especial atenção ao terramoto de 1755. Girinho que não girino... A seguir evitámos subir ao Arco da Rua Augusta - uma fila de cinquenta pessoas - e entrámos no MUDE. O Museu de Design é um pouco confuso e alguma informação em cartaz também é confusa. A colecção não é muito grande. Mas visita-se muito bem e é um regalo para os olhos. Os funcionários porém, não concordarão pois começámos a ser expulsos do museu uma boa meia hora antes da hora de fecho. As férias aproximavam-se de um triste fim, mas um mistério queria eu ainda resolver: afinal o que tem a Costa da Caparica que os lisboetas não lhe saiem de cima? Aproveitando que era já o fim da tarde e, portanto, o trânsito enorme era o de volta, fomos ver. Andamos, andamos, andamos, sempre em contra-corrente,até chegar à Costa da Caparica. Praia grande, perpendiculada por esporões que a defendem do mar. Ainda bastante gente que, pela tarde devia ter sido imensa. Passámos um parque de campismo muito parecido com um campo de concentração improvisado e fomos à procura da Fonte da Telha. No caminho para a estrada acaba por subir a arriba para ao fim de uns quilómetros a descer: Fonte da Telha. Já foi praia clandestina, percebe-se. A construção anárquica e inacabada, as mais das vezes em cima da areia. A praia vem lá de cima e tem o debrum da arriba a perdoar tanta casa malfeitora, tanto atentado terrorista. A Fonte da Telha mereceu a visita, mas... haverá melhor? Chegámos à Lagoa de Albufeira ao fim da tarde. É mesmo uma lagoa, uma coisa pequena, onde pescam. A arriba abre-se aqui para criar um anfiteatro onde a areia nasce da lagoa e corcova até ao mar. Uns chapéus de sol "caribenhos" não estragam. Jantei uma dourada divina no restaurante que ali está sobre a lagoa debruçado. Voltámos para Setúbal com a sensação do dever cumprido. Estava um luar maravilhoso, despedimo-nos de Tróia. Domingo era dia de voltar.

Victor Hémery (1876-1950)

O piloto francês mais importante de todos os tempos, para além de Alain Prost, foi provavelmente Victor Hémery. Não tendo o valor de Felice Nazzaro - porque também não conseguiu prolongar devidamente a sua carreira para depois da Grande Guerra, sendo cinco anos mais velho, teve porém o seu ano de glória em 1905, vencendo o Circuito das Ardenas - o primeiro circuito construido especificamente para corridas de automóveis - e a Vanderbilt Cup em Long Island, então a mais famosa corrida do mundo. Conduzia um Darracq - uma marca pre-histórica francesa. Tornou-se conhecido também porque ora ganhava ora (mais vezes...) ficava em segundo... Anos depois (1910), expulso da Darracq aparentemente por mau comportamento em corrida (tinha um temperamentozinho...), ajudou a Benz a vencer o record de velocidade em carro "lançado" (record que já tinha sido seu com um Darracq), 209 km/h, - com o chamado Blitzen-Benz, um achado para a época - na pista de Brooklands no Reino Unido. Este carro ficou com o record de velocidade - que então era para terra, mar e ar - não havia comboios nem barcos nem aviões mais rápidos - até 1919. Viveu sempre na zona de Le Mans, cidade onde se suicidou em 1950. Tinha sido "inspecteur des permis de conduire" e vivia na mais absoluta pobreza.

Migrei.

Migrei para www.completoefechado.blogspot.com

segunda-feira, outubro 21, 2013

Antes que me esqueça.

Costumo fazer um balanço por itens do ano. Vou adiantar o serviço, até por esta sensação amarga de rentrée - que é como quem diz lá vêm eles outra vez foder-nos a vida... 2013, so far... 1. Jorge Martins em Serralves. 2. Livro de Ilustrações. 3. A case of you. 4. Pizzaria Donatello. 5. Apresentação de Lisboa à Catarina. 6. Ana Moura. 7. O espectáculo de ballet das Sete Bicas. 8. Vera gone English. 9. Samuel Úria. 10. O luar de Agosto a reflectir-se no Sado e na Península de Tróia. 11. Um jantar com a família Varandas. 12. Swirl Olá on demand. 13. Passear a Melodia no parque da cidade de Ovar. 14. Ainda haver abelhas no Caramulo.

Hummm...

I'm back, i think...

segunda-feira, setembro 09, 2013

Tour de France

A Volta à França de 1930 foi determinante para o futuro da mesma. Dominada nos últimos anos da década de vinte apenas por uma ou duas equipas, com pouca luta nas estradas, Henri Desgranges decide passar a disputar a prova com equipas nacionais, substituindo o dinheiro das equipas comerciais por uma caravana publicitária que chamava dezenas de milhar de pessoas à estrada, à procura dos brindes. Com este apelo ao nacionalismo a Volta à França internacionalizou-se como nunca. Logo em 1930, a maior estrela do ciclismo até então, Alfredo Binda, vencedor de cinco Giros, apresentou-se pela primeira vez em França como chefe de fila italiano. Caiu com dureza à 7ª etapa e abandonou na 10a etapa. Learco Guerra foi o italiano que ficou, quase sózinho, a defrontar a esquadra francesa - fez segundo lugar. Ganhou o francês Leducq, Demuysere foi o primeiro belga. Charles Pélissier, o mais novo de três irmãos ciclistas, ganhou oito etapas, um record igualado mas não ultrapassado... por Merckx. Os irmãos Pélissier tinham ficado famosos entre outras coisas por uma reportagem onde descreviam a verdadeira farmácia que os acompanhava e mantinha a correr. "On cour au dinamite!". Nessa reportagem nasceu a expressão "forcados da estrada"! O livro da prova de 1930 - com as etapas, o regulamento, etc., avisava que a organização da Volta à França não fornecia "les pilules"... Finalmente, 1930 foi o primeiro ano em que os ciclistas puderam ser assistidos por mecânicos e inclusivé mudar de bicicleta. Anos antes um ciclista com o quadro da bicicleta partido concertara a mesma na forja dum ferreiro de aldeia na presença dos juízes da prova e depois continuou a correr, outro trocara de bicicleta como uma senhora da assistência e fora penalizado...

Listas, listas, listas...

Onde estão elas? Aqui vai uma: Os dez maiores ciclistas portugueses de todos os tempos: José Maria Nicolau, João Rebelo, Alves Barbosa, Ribeiro da Silva, Joaquim Agostinho, Fernando Mendes, José Martins, Acácio da Silva, José Azevedo, Rui Costa. Como se chega a esta conclusão? Através dos resultados obtidos por estes rapazes no exterior. O exterior para Portugal sempre significou Espanha primeiro, França depois. Acácio da Silva foi uma excepção pois fez-se ciclista nos anos 80 no Luxemburgo (ele e um irmão mais velho) e fez carreira no circuito europeu, com base em Itália, até com mais regularidade do que Agostinho antes dele. José Maria Nicolau foi o único destes a não competir no exterior a não ser quando se inventou uma prova Madrid-Lisboa, sponsorizada por Franco e Salazar, em 1939. Que aliás só aconteceu nesse ano. José Maria Nicolau venceu duas etapas mas o vencedor final foi Mariano Cañardo, o maior corredor espanhol dos anos trinta. Nicolau vencera antes duas Voltas a Portugal e tivera uma grande rivalidade com Alfredo Trindade, num Benfica-Sporting aplicado ao ciclismo. O Madrid-Lisboa já lhe apareceu no ocaso da carreira. Quatro vezes Campeão Nacional de Estrada, vencedor de três Porto-Lisboa (uma das clássicas do ciclismo mais antigas e mais longas, desaparecida porque a distância foi declarada "ilegal"...). Mariano Cañardo, já agora, nunca venceu uma Volta/Vuelta a España. A Volta a España só se iniciou a 1935(trinta anos depois das provas italiana e francesa) e só ganhou regularidade em 1955. Ganhou sim cinco vezes a Volta à Catalunha, a prova espanhola mais importante antes da Vuelta aparecer e com início em 1909. Teve também direito a conseguir um sexto lugar num Tour de France, não a melhor classificação de um espanhol até então, Salvador Cardona conseguira um quarto lugar anos antes. O primeiro top-ten português numa Grande Volta estrangeira foi obtido por João Rebelo, integrado numa das selecções portuguesas que nos anos quarenta disputava a Vuelta, quando esta acontecia. Em 1945 João Rebelo foi sexto na Vuelta e ganhou uma etapa. Repetiu em 46 o top ten, sendo décimo. Pode dizer-se que a Vuelta nestes anos de guerra não recebia a visita dos corredores italianos, franceses, belgas, os melhores do mundo, mas o pelotão espanhol por si já era bastante forte. Em 46 o nosso melhor sprinter de então, e um dos maiores de sempre, João Lourenço, venceu duas etapas. Tinha ele sido aliás o primeiro português a vencer uma etapa fora de portas, uma etapa da Volta a Catalunha em 1942, mais uma vez a guerra a facilitar a concorrência... João Rebelo, ciclista do Sporting, nunca venceu uma Volta a Portugal, curiosamente, sendo nisto um antecessor longínquo de um Acácio da Silva ou de um José Azevedo... O primeiro top ten numa Volta a França pertenceu a Alves Barbosa, um fantástico décimo lugar em 1956. Alves Barbosa teve também o seu rival, Ribeiro da Silva, que obteve um quarto lugar na Vuelta em 1957, à frente de grandes corredores internacionais como Geminiani, Fornara, Nencini. Nesse ano Ribeiro da Silva foi ao Tour passar em primeiro lugar no Tourmalet, à frente de Anquetil. Ribeiro da Silva morreu em 1958 num acidente de motorizada. Joaquim Agostinho é, claro, o detentor de todos os records. Duas vezes terceiro em França, uma vez segundo em Espanha. O primeiro top ten em Itália pertenceu a Acácio da Silva em 1986, um 7º lugar. Acácio da Silva tem o record de etapas em Grandes Voltas, oito, mais uma do que Agostinho. Paralelamente à carreira de Agostinho outros dois corredores portugueses conseguiram bons resultados no estrangeiro, Fernando Mendes e José Martins. Fernando Mendes começou a sua carreira de cilcista na Ovarense, à sombra do seu irmão mais velho, Laurentino. O melhor resultado no exterior foi em 1975, um sexto lugar na Vuelta à frente duma equipa do Benfica. Nesse mesmo ano José Martins foi oitavo enquanto chefe de fila de uma equipa da Coelima, empresa com tradições no ciclismo. José Martins teve uma carreira no pelotão internacional meritória, integrado nas equipas espanholas KAS e Teka. Conseguiu posições de top five e/ou vitórias de etapa em várias clássicas espanholas - Volta à Catalunha, Volta a Aragão, Volta ao País Basco... Chegámos a José Azevedo. Os seus sexto e quinto lugares no Tour ao lado de Lance Armstrong merecem o benefício da dúvida - o seu nome nunca saiu a público no enorme lavar de roupa suja que rodeou Lance. Não esquecer que antes, como lugar-tenente de Abraham Olano na ONCE, fora 5º em 2001 em Itália, ultrapassando a marca de Acácio da Silva. E agora, há Rui Costa... O ciclismo e a sua história é como as cerejas...

quarta-feira, setembro 04, 2013

Troia merece um beijo?

"De cigano pra cigano, nã quer comprari? Baxe prá polícia nã vere...". Estávamos na fila para o Ferry e vários homens de etnia cigana queriam vender-nos relógios e óculos de sol. Percebi que sabia regatear - nem me pareceu difícil - e para fim até tive pena, os relógios eram bem giros. Tróia está completamente domada. Troiaresort.sonae.com, suponho. Estacionamento só de madrugada, muito longínquo ou subterrâneo. Subindo as escadas à direita uma Worten, à esquerda uma Sportzone. Almocei um bom bife de atum no Ribamar, virado para a baía e para Setúbal. Ser empregado de mesa é viver em conflito, assim viviam. O bife de atum, morto e bem confeccionado, foi em paz apreciado. A praia logo ali, e fomos. O Design Hotel, visto de perto, parece mais um capricho do que um belo hotel. Melhor vê-lo de longe. Mas, agora a sério, Troia está bem e recomenda-se.
A foz do Sado deve ser o paraíso das alforrecas. Vistas do ferry achamos giro. Abandonadas na areia da praia. Nem por isso. Abstive-me de assustar a Cata, delirante dentro de água, mas estive atento. Em Portugal faz vento e o Troiaresort.sonae.com não ia ser excepção. Ao voltar no ferry ainda mais alforrecas do que à ida, centenas e centenas. O ferry parecia abrir caminho num mar de alforrecas. Golfinhos não vi o que me criou dúvidas sobre a cadeia alimentar na foz do Sado. O Ribamar não tinha sido barato pelo que, após alguma piscina buscámos o Mac de Setúbal. Existe, claro, anexo a um Jumbo como se uma cafetaria do mesmo se tratasse. Como pode?
Pena tive de não ter comprado um relógio...

Não entretem o Poente de Lisboa como a casa de Gente Boa.

Quinta-feira foi o dia reservado para jantar em casa de gente Muito Amiga. O Luís e a Cláudia são pais de três valerosas raparigas. A do meio estava algo adoentada, pelo que o convívio teve de ser restrito ao jantar. Como sobreviver até lá? Voltámos a falhar a exposição da Joaninha. Desta vez, pelo contrário, a expo não só estava aberta como tinha uma fila para adquirir bilhetes de umas sessenta pessoas. Passámos. Estranho foi poder visitar o claustro dos Jerónimos de graça. Vê-lo não, eram às dezenas, e nem o claustro mais bonito do mundo resiste, ou quase. Se vou a Lisboa e não visito os Jerónimos passa-se qualquer coisa. Ter acontecido os Jerónimos justifica um País. Almoçamos numa pizzaria muito perto do Padrão dos Descobrimentos. Pelos vistos agora é muito in soprarem-nos uns borrifos de água para cima em calor havendo. No começo é giro, para o fim irritante. Depois acudi ao recém aberto - mas, descobri, despido - Museu de Arte Popular. Pavilhão da exposição do Mundo Português de 1940 reconvertido a museu em 48, esteve muitos anos abandonado. Entrar nele é uma viagem ao Portugal idealizado dos anos quarenta, idealizado pelo Estado Novo e curiosamente com a colaboração de alguma intelectualidade plástica- esculturas exteriores de Barata Feyo, murais interiores de Carlos Botelho e Eduardo Anahory...
Meio século depois ergueu-se outra história para ser contada, o CCB. Que em dez anos seria tomado e parasitado pelo nosso "aveque"-"nãoaveque"-"sulafricanomadêrense" Joe Berardo. Fomos ao Museu Berardo. O Museu Berardo é de entrada grátis, livre, frei, free. Por isso é mais visitado do que Serralves. Divide a sua exposição em dois sectores, 1900-1960 e 1960-2010. À entrada de cada sector por ordem alfabética exibe-se os nomes de tooooodos os artistas. Não está tudo. Mas há muito. Desde Khitaj a Picasso. Desde Balthus a Picabia. Alguns portugueses seleccionados. O retrato de Berardo por Pomar, encomenda não paixão, pareceu-me, à entrada. Gostei mesmo muito duma série de fotografias de Fernando Lemos. O museu Berardo também cansa. A igreja-salão dos Jerónimos só pôde ser visitada ao fim da tarde. A minha filha ficou muda de espanto. Eu fico sempre.
Fomos jantar com gente Muito Amiga e isso foi Muito Bom. Mas por aqui me fico.

Sempre houve Lisboa, n'est ce pas?

Percebido de dias anteriores que o mar à volta de Setúbal estava "tomado" e "domado" por um outro mar mas este de gente, decidi para o terceiro dia de umas curtas férias apontar a Lisboa. Primeiro tentou-se a exposição de Joana Vasconcelos no PN da Ajuda. Surpreendido com o pouco movimento só depois de estacionar me apercebi que a exposição estava fechada. Meditabundo (palavra gira), reencaminhei a nossa expedição para o Jardim Botânico da Ajuda, pouco abaixo. Um elegante parque na encosta da colina quase extra-muros onde, por ilusão de segurança, os reis tinham decidido construir um palácio depois do terramoto, palácio que nunca foi terminado. As paredes por acabar, as janelas cegas, vêem-se do Jardim Botânico. Num dos lados um restaurante - Estufa Real - onde o senhor simpático e obeso que nos vendeu as entradas mencionou ter "o José Sócrates" organizado baptizados e/ou comunhões de "vários" filhos. Mencionei desconhecer ter o ex-primeiro-ministro descendentes directos, ficámos pela expressão "sobrinhos". Uma forma de a minha aperceber-se das dimensões de Lisboa, para além da entrada pela Ponte sobre o Tejo, é - e foi - o calmo fazer do caminho marginal desde a Ajuda até ao Parque das Nações. Os objectivos eram dois: CC Vasco da Gama e Oceanário. Embora com um fluido trânsito de Agosto a coisa fez-se demorar. Conseguimos almoçar sentados no Mac do Vasco da Gama, algo só possível devido à persistência e faro da Cata. O Vasco da Gama é o CC mais giro que eu conheço por cá, e ainda tem aquela coisa gira da água a escorrer por cima, apesar da crise. Depois fomos ao Oceanário. Nós e dezenas de "aveques". Isto da "Gaiola Dourada" ser um êxito e tal não impede que o françuguismo disseminado e as placagens e as carga para-além-do-ombro com o objectivo imediato de melhor ver o peixe e fotografá-lo e filmá-lo e aterrorizá-lo tornaram a visita ao aquariozinho um pouco menos do que habitualmente é: memorável. Um PS: parem de alimentar aquele tubarão ali, porque ele já quase não cabe, certo?
Retornámos à baixa e triangulámos as praças de referência, Figueira, Rossio, Restauradores. Tentei resistir a entrar no Hard-Rock Café e na tentativa acabei por esbarrar nele - fica no antigo Condes... e entrámos. Consegui lanchar e não ficar para jantar. A empresa Hard-Rock Café pertence a uma tribo índia, os Seminole da Florida, inc.,  especialistas em diversão e jogo. São riquíssimos. Eu e a minha filha discutimos demoradamente sobre se seriam originais ou cópias os instrumentos musicais e as peças de vestuário expostas nas paredes. Parece que ela tem razão. Ouvi Prince e U2 e Bruce bastante alto. Não foi mau, fomos depois comprar pin's e a miúda da loja era muito simpática. Voltámos a Setúbal e, para fugir da má comida fomos ao Portugália que fica junto ao cais dos Ferrys. Nunca comi bem nos Portugália do Porto. Em Setúbal comemos. O bife de hamburger da minha filha estava supino. Uma surpresa que se adicionou ao facto de que nesse dia também dormimos bem: estávamos de férias, certo?

Felice Nazzaro 1881-1940

Felice Nazzaro foi a primeira grande estrela das corridas de automóveis: aos 26 anos, ao volante de carros FIAT, venceu em 1907 as três provas mais importantes do ano, o Targa Florio em Itália, o KaisersPreis na Alemanha e o Grand Prix em França. Cada corrida era sob regras diferentes, com limitações diferentes, durações diferentes, características diferentes, etc. Nazzaro ganhou-as todas porque, mecânico antes de ser piloto, sabia que era preciso ter calma, deixar estourar os outros e depois ganhar. Ganhou fama de sortudo (isto é, nunca teve grandes acidentes) e perguntavam nas corridas sempre "dove Nazzaro?" - mais tarde ou mais cedo o primeiro lugar seria dele, era essa a impressão geral. Interrompida a carreira por uma Guerra Mundial, paragens na produção FIAT e uma aventura chamada "Nazzaro & C.", voltou a ganhar o Grand Prix francês em 1922, quinze anos depois da primeira vitória, ao fim de mais de seis horas de condução e a mais de 100 km/h de velocidade média, outra vez num FIAT. Morreu um sobrinho seu na mesma corrida por despiste, com um carro igual ao seu
. A esposa morreu meses depois num acidente de viação. Parou de correr em 1925, ficando ligado à FIAT. O seu sucessor na FIAT, Pietro Bordino, morreu em 1928 na pista de Alexandria (Itália), quando se atravessou um cão à sua frente. Porque falo de Felice Nazzaro? Porque na minha fúria de listas dos últimos tempos o primeiro, o mais velho dos vinte maiores corredores de Fórmula Um/Grand Prix Racing de todos os tempos é/foi Felice Nazzaro.

quinta-feira, agosto 29, 2013

Da Bacalhoa e das Torres.

A Quinta da Bacalhôa foi transformada por Joe Berardo, seu proprietário, numa famosa marca de vinhos. Não deixa de ser uma quinta de edificação renascença única no país, agradável de visitar. O "senhor Comendador", citando o guia com as sobrancelhas mais espessas que eu já conheci, comprou a quinta a uma casal americano. Não foi referido que tem tido problemas com o IPPAR nas obras de restauro que tem feito na sua quinta, sendo ela Monumento Nacional. Entrámos.
A quinta é um museu para a colecção de Joe Berardo (que na realidade chama-se José) de escultura antiga, cerâmica grega e azulejos romanos, islâmicos, barrocos. E muitas coisas mais. O comendador é um coleccionador compulsivo, diz a Wikipédia. Um friso de azulejos que não cabia na horizontal está exposto numa zona de transição entre duas salas na vertical. Duas loggias dão o carácter italianizante à quinta, e as abóbadas que fecham os corpos da casa um aspecto mourisco. No passeio que nos leva até um lago há um muro onde se localizavam vários medalhões do escultor italiano Andrea della Robbia, séc. XVI. Um S. Leonardo de della Robbia é uma das dez obras de referência do nosso MN de Arte Antiga, a par do Bosch, de Nuno Gonçalves, da custódia de Belém... Bom, os medalhões estavam muito maltratados. Joe Berardo encomendou uma dúzia de medalhões à fábrica de louça das Caldas e vá de guardar em reserva o único medalhão que ainda era minimamente observável, encaixotado. Não admira que o IPPAR esteja zangado. Uma ruína do séc. XVI não se compara ao brilho deste século. Não fiquei para a prova dos vinhos pois os meus amigos provadores do Expresso habitualmente consideram os vinhos do Berardo caros para o que valem. Ora toma...
Na área de Azeitão outra quinta é muito conhecida e chama-se quinta das Torres. Aberto que estava o portão entrei e estacionei. Uma senhora simpatiquíssima disse-me ter eu entrado em propriedade privada, o hotel que havia tinha fechado, agora só organizavam eventos, pedi para mostrar à Cata o lago. Neste, em frente à decadente casa, no meio uma "torre", não mais do que um coberto mágico, abobadado em gomos - que se poderia usar para uma leitura, descanso, um almoço no exterior. A ele só se pode aceder de barco. Afinal não é só ao inferno que se chega de barco mas também ao céu... O resto do dia foi espreitar a pousada de Palmela e comer os caracóis de que já se falou...

Como a dieta não se transmite de pais para filhos, vejamos o segundo dia de férias.

A pedido da minha filha ela começou a seu jantar do dia dois com um pires de caracóis.
Abomino caracóis. Consigo dizer a única vez que os comi. Foi no Hotel da Lapa, ao lado de um professor meu da Faculdade e após ter recebido um prémio de investigação. Sim é verdade, eu então investigava. Em 1996, para ser mais exacto. O dinheiro recebido ajudou a pagar estágio em país vizinho. E sem esse estágio eu hoje não teria filha, voilà. No Hotel da Lapa não se comem caracóis mas sim "escargots". E, discutindo com o saudoso prof. Coimbra as pinturas do tecto - Columbano Bordalo Pinheiro, consegui engolir, para nunca mais. Pois a minha filha despachou na baixa de Setúbal mais de meio pires de caracóis sem dizer um ai. Extraía-os e mostrava-mos, a mula, antes de os engolir inteiros. Parece-se comigo.
O dia tinha nascido radioso. Estando no sopé da Arrábida, vai de a visitar. De carro, claro. As pequenas praias estavam preenchidas, o estacionamento na berma complicado, o Portinho da Arrábida foi a aventura automobilística do costume - sabes que desces, que não estacionas, que talvez consigas voltar a subir. Deu porém para reparar na limpidez das águas, na rocha, no manto verde. Sim, a Arrábida tem magia. Que ficará para melhor descoberta noutra visita. Subimos, descemos, fomos ter a Azeitão, Vila Nogueira de. Antes de "cheirar" a Bacalhôa fomos agradavelmente surpreendidos por um restaurante tailandês, de nome "Éden". Comemos muito bem. Da Bacalhôa já vou contar.

Férias, como quem desce em direcção ao sul.

Em Portugal, férias que são férias dirigem-se para o Sul ou para Leste (leia-se Aldeia). E assim fiz: Sul (leia-se sopé da Arrábida, península de Setúbal).
Não me canso de agradecer as nossas germânicas auto-estradas. Não sabem mas o record mundial de velocidade em estrada "circulável", "pública", vigora desde os anos trinta e foi estabelecido por Rudolf Caracciola, o maior piloto alemão de sempre (sim...), numa manhã fria de 1938 e numa auto-estrada alemã. O km protocolar foi percorrido acima de 430 km/h num Mercedes de Grand Prix modificado. Rosemeyer, a estrela da Auto-Union (antecessora da Audi), horas depois tentou recuperar o record na mesma auto-estrada e despistou-se, morrendo, claro.
Bom, as minhas velocidades não foram nada disso, sendo eu motorista de uma jovem dama de quase quinze. Lanchámos numa E.S. decorada com motivos desportivos onde um cartaz das primeiras olimpíadas modernas. Decidi discursar sobre a pobre Grécia, hoje tão mal amada e a iniciativa deles de reiniciar os Jogos Olímpicos... "Ah, tinham parado?", pergunta-me. Ao contrário do que ela pensa o sentido de humor da adolescente de que falo ainda não está completamente apurado, mas vai lá chegar.
Setúbal é Alcácer do Sal mas maior, Lisboa é Setúbal mas maior. Reduzindo explico. Para a casa onde fomos ficar sobe-se à direita da estrada que leva à pousada do forte de S.Filipe. Uma piscina de brincar espreitava Tróia ao fundo, iluminado de vermelho o Design Hotel, impressão digital um pouco discordante numa baía perfeita, o fim do Sado, a serra, os meandros de Tróia e da Comporta. Apenas circulavam os ferrys.
Descemos a jantar - mal - na Av. Luisa Todi. Contei à minha filha duas anedotas do Bocage. Voltámos a subir, já era noite. É impossível dirigir o caminho de um filho. E se possível, não é bom sinal, para além de em si não ser bom. A minha filha sabe umas coisas de astronomia. No terraço de um bungalow onde por uma noite ficaríamos, estivemos a descobrir estrelas e constelações, a luz de Setúbal não demasiado próxima. E começaram as estrelas cadentes. Uma duas, quatro, teremos visto mais de dez, linhas mensageiras, dirigidas a ninguém. Cada um de nós recebe-as como se nossas. Eu assim fiz. Foi uma festa e por causa desta festa dormiu-se bem. Pensei ainda porém um pouco, antes de adormecer, na razão de, quarenta e nove anos cumpridos, nunca antes ter visto assim uma chuva de estrelas.

segunda-feira, agosto 12, 2013

As listas.

Devia ter seguido Matemática e não Medicina. Ou não. 
Sempre gostei de números. E de contas. E de gráficos. De pegar no mundo e transferi-lo para um rectângulo quadriculado onde as várias peças se encaixam ordenadas por abcissas e... ordenadas. A palavra chave: ordenar. Sim, tenho as minhas obsessões. Concedo, às vezes sou compulsivo.
E... ordenar o quê? Este mundo não tem ordem, não tem. Vejam a actual situação política portuguesa.
Antigamente o Verão vinha acompanhado por uma ausência de política refrescante. Chamavam-lhe a "Silly Season". Não sei porquê.
Este Verão em que estamos, incerto de temperaturas e desfechos, tem tido a maior quantidade de patetices políticas de que há memória no pós-74. Como se um barco, com se ratos que, não sei... 
Querem mais "Silly Season" do que esta?
Bom, adiante. Então... as listas.

Isto das listas começou com a triste ideia de Expresso de me indispor o estômago veraneante publicando, aos bochechos de 25 em 25, as cem figuras que "fizeram" o século XX português. 75 já estão cá fora. Cecília Supico Pinto e Rolão Preto mas não Jorge de Sena? Foda-se! Fica isto para resolver em Setembro mas, Expresso, doeu!

Adoro ciclismo. Acho que a tríade de heróis desportivos portugueses do século XX foi Eusébio, Agostinho e Rosa Mota. Com o extra de Joaquim Agostinho - ainda há quem se lembre que ele era o "homem das Berjenjas"? - ter mais histórias para contar que os outros dois juntos. Portugal e o ciclismo no fim uniram-se para o matar. Mas... que viagem, amigo!
E as listas, perguntarão? Já vai.
O ciclismo vive ensombrado - definitivamente? - pelas suspeitas de doping. Lembro só que a antiga clássica Porto-Lisboa - proibida ao fim de noventa anos por se considerar demasiado longa... - começou a ser cumprida há mais de cem anos com tempos de mais de dez horas em cima de uma bicicleta! O record está em pouco mais de oito. Oito horas para trezentos e trinta quilómetros! Um ciclista de topo pode fazer mais de dez mil quilómetros em competição num ano. O doping é uma deslealdade, um embuste, deve ser perseguido e castigado. Mas são eles que pagam, são eles os ciclistas que são definitivamente humilhados, castigados, ostracizados. Ou que morrem. Ricco, um prodígio italiano, aqui há uns dez anos, tentou fazer uma transfusão em casa. Acabou no hospital em choque. Em 1967 Tom Simpson morreu a subir o Ventoux: anfetaminas e álcool. Muito mais recentemente cá em Portugal morreu um rapaz de seu nome Bruno Neves. Há uma corrida hoje em dia com o seu nome. Agostinho foi várias vezes apanhado. Anquetil, nos anos cinquenta recusava-se a ser controlado. Dizia que a água de Vichy não ganhava etapas. Anfetaminas, corticóides, eritropoetina, autotransfusões. hormona de crescimento. Longe vai o tempo - anos quarenta, cinquenta, sessenta - em que os ciclistas levavam umas pastilhas no bolso para chegar lá acima. Onde acabavam desfalecidos a pedir oxigénio. Muitos no fim da carreira profissional precisavam de tratamento médico para desmame da medicação. Alguns suicidaram-se. Comparado com isto comprar acções a um euro e vende-las a dois e meio porque estamos a falar de um preço de amigo é, para mim, crime de pelotão de fuzilamento. Vejo ciclistas a sofrer monte acima rumo à glória e à minha admiração e são para mim como que amigos.

As listas? Um dia explico.
Vou para fora. Com licença.

domingo, junho 30, 2013

A Impossibilidade segundo António José Seguro.

A pele hidratamos e a carne. Oleamos os tendões à espera. E passa a hora, que é breve segundo, para nada houve tempo, espaço, verdade.

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Este trabalho de almofariz, como podia correr bem?

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Não tens pressa, as costas contra o que pensas ser o definitivo muro, fazes a que julgas ser a definitiva força, o muro cede e transforma-se em chão. Vês, agora tudo é outra vez possível.

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Não precisas de asas: a terra voa contigo.

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Prender as peças soltas não é uma espécie de prisão?

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Nunca se sai de alguém por onde se entrou.

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O iogurte é uma metáfora ardilosa: ele há os de aromas e ele há os com sabor. Assim os anos, ora um aroma, ora um sabor intenso. Não duvidem, o fim sempre será um iogurte magro, comido até ao fim mas a medo, a embalagem atirada para um buraco que recicla.

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Sempre que vejo essa gabardina páro de pensar.

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O desvão: procuro e não encontro.

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Nunca foi tão necessário o engenho.

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Não vale a pena reclamar, nisto do corpo também as leis do mercado são soberanas.

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Aconteces como quem parte um vidro.

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Guilherme, o taciturno:  sexta-feira.

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É sábado e tenho um humor vítreo.

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Destruir à paulada, refazer como se nada.

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Dor sinuosa, abdominal.

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Semanas e semanas. Descem e sobem persianas.

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E as folhas do Gingko da Portucalense tão verdes, tão jovens, tão pelo meio harmoniosamente fendidas, tão decididas a ser, a estar, a iluminar.

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Suporte vital, as mãos tão escassas.

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Haverá uma página em que eu conseguirei meter lá tudo.

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Não requer mais água o peixe graúdo?

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Define-se valete como um rapaz que olha de lado, à espera. Agora vamos falar de outro jogo.

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Há jogadores de futebol que só são bons na primeira parte. Se a equipa deles dependesse não havia campeonatos para ninguém nem, fossem eles a maioria, nunca as partidas acabavam, a meio da segunda parte saindo eles todos, lesionados.

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Neste copo de base larga está o meu sangue. E neste caso uma pedra de gelo vinha mesmo a calhar.

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Escrever sobre a morte é uma forma de não ter coragem.

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Há por aqui demasiado sangue. Conheces algum sucateiro?

The Eighties according to... ME!