quinta-feira, setembro 03, 2009

Dos irmãos

“Eu conheço-o de algum lado” “Não se lembra?” “Eu estive internado no Magalhães de Lemos, no Conde de Ferreira, na Psiquiatria – sabe, eu sou irmão de...” Ele era irmão de. Eu não tenho irmãos. Ele viu-me, sim mas, num internamento psiquiátrico – que vês? E que reténs? Qual a “memória futura”? Aí começou a formar-se uma segunda hipótese, menos racional mas estava ali, crescia, que podia eu fazer. Seria este reconhecimento através da irmã? Seria possível que, mais ainda estando eu a ser interpelado por um homem considerado não no seu perfeito juízo, que a sua mente, literalmente descontrolada ou seja, capaz de coisas que em outras pessoas não teriam cabimento – cabem, não cabem, porque várias portas estão fechadas, cimentadas, coisas como alucinações, vozes, ordens, transmissão do pensamento, hummm... Porque sempre teremos que assumir que estas coisas não acontecem? Porque vamos nós os pobres normais fazer tímidas investigações em impostores e fraudulentos quando ao nosso lado – “Não a conhece?” - à nossa frente pode estar um homem que recebeu informação privilegiada da irmã sobre mim sem o escrever de uma letra, sem o mover de lábios... ok, não privilegiada mas mesmo assim...
Eu não tenho irmãos. Não entendo, não leio, não assumo o reconhecimento que pode existir entre irmãos. A minha mãe tem uma irmã que só lhe deu problemas, pessoais, financeiros, de saúde. Apercebo-me mesmo assim da pena que tem da ausência de um contacto actual, nem uma chamada telefónica. De vez em quando põe-se a falar e explora lembranças de uma ninez onde as duas eram felizes, como depois não aconteceu. Essa sua irmã, minha tia, parece-me a mim ser apenas uma muito má pessoa, sem mais. O meu pai tem irmãos muitos. Com trajectos vários, uns mais acertados do que outros, Homens todos, a única irmã já morreu, a mais velha, morreu portanto solteira. Com excepção do mais novo hoje um septuagenário mas ainda visto como o rapaz que “perdeu a cabeça” e o respeito pelos irmãos em várias manobras de má espécie, estes homens quando se encontram pouco falam, usando aquelas curtas frases de reconhecimento e penetração, como se já estivesse tudo dito há anos. São como penedos num mesmo monte, a olhar-se há milénios. São irmãos.
Não percebo.

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2 Comments:

Blogger Luz said...

Non entendo ben a historia que contas de ese home que te "viu, sen mais", nun internamento nunha psiquiatría, paréceme entender que a traverso dunha hirmá que ao mesmo tempo pareces non coñecer... non o entendo ben, mais a "vexo".

De calqueira maneira, o escrito no seu conxunto, tróuxome toda unha chea de lembranzas, evocacións... onde cecáis a máis forte, fora a de cando morrera o hirmau máis novo da miña nai (ben coñecida e benquerida por ti, seino). Ela ficara moi doída, casi desesperada, e inmensamente triste. E un día me día mo dixo: "Es que esto es peor que cuando murió papá (o meu), porque a él lo conocía de mucho tiempo atrás, de cuando éramos niños, de toda nuestra vida y eso es mucho".

A hirmá maior da túa muller.

11:23 da manhã  
Blogger William said...

A história aconteceu, a do irmão e da irmã,ética oblige a por aqui ficar.
A história não deixa de ser um pretexto.
O que eu quero dizer é que de (ser) irmãos não percebo nada, e para mim acaba por ser um mundo de sentimentos que estranho... tu sabes. Bom, bom, é teres comentado.

O marido da tua irmã.

12:47 da tarde  

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