domingo, maio 29, 2011

Hoje, que é o último domingo de Maio...

Hoje dormi na sala. E nem preciso de explicar...

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E sou um projecto tipo "chave na mão". Cortesia da minha mãe...

sábado, maio 28, 2011

Outra vez António Franco Alexandre

Já estou a ficar velho, ainda que tenha
esta figura sem idade,
e me mantenha em forma o aparelho
a que todos aqui somos sujeitos:
a correria cega, a suspensão elástica,
o salto em trave e trampolim de folhas,
e outras altas artes de ginástica.
Mas eu bem sei sentir além da aparência,
e já me aconteceu, ao visitar o canto
onde o mundo se acaba em chão de areia,
ali ver o meu fim anunciado.
Quando em tranquilo pouso assim medito,
peso, e calculo tudo aquilo
que não fiz, e não tive, e não alcanço
com o rosto extravagante que me deram,
já tudo bem pensado considero
se não devo encontrar algum consolo
na ciência que conduz o feiticeiro,
e acreditar também, como me diz,
que é, esta vida, emaranhada teia
de mal fiado, mal dobado fio,
e a morte tão somente um singular casulo
de onde sairei transfigurado.
Mas não sei de que valha imaginar
um outro ser incólume e perfeito
que da minha substância seja feito
e tome, noutro mundo, o meu lugar;
se me não lembra, como serei eu?
Se for quem sou, ainda que mude a capa,
há-de voltar aqui, onde hoje estou,
viver o mesmo instante, e ver
escapar-lhe das mãos o que me escapa;
veloz embora, e exímio no salto,
 o que hoje perco, há-de então perdê-lo,
e faltar-lhe outra vez o que me falta.




in Aracne, 2004, Ass&Alvim.

Gil Scott-Heron, rest in peace!





The ultimate challenge, always be new!

Gosto adquirido.

E vai-se o dia e vem a noite, longa, descida, embalada em hertzianas.                                             

Prova da Existência da Alma

Deixaste a ressurreição a meio.
Não me lembro de nada tão incompleto como ela.
O meu director fala de objectivos, fazemos mapas
e somos despedidos se. Ou temos prémios
e corrupção. Haja alguma arte em tudo isto.
Senhor, o teu corpo está seco na gaveta.
Estás no meio de nós coberto de bolor.
Nas palavras de São Paulo a criação teve parto e dores
em relação. Um prelúdio, sabemos hoje, um prelúdio
sem mais nada. Os animais não aspiram à eternidade.
Nisto devia consistir a alma que lhes foi negada.
Por menos despediria eu um empregado.
O meu cão brinca a que eu sou o cão dele.
Atira-me um osso e corro atrás, todos corremos atrás.
Mas é assim que se sobe na vida porque aspiramos.
Prova provada de que temos alma.




Rosa Alice Branco, in Gado do Senhor, & etc., 2011.

Atendedor de chamadas.

Havia antigamente uma coisa que dava pelo nome de atendedor de chamadas. Era muito bom para situações como a minha. Hoje essas coisas já não existem, e não há nem uma máquina para atender pessoas como eu.

JMFJ

"eu tenho tantas vezes este dia."

De amor nada mais resta que um Outubro

De amor nada mais resta que um Outubro

e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.


E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.


Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.


Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.



Natália Correia, in “Poesia Completa”


(este poema, oportunamente apareceu-me como "extratexto" dentro de uma compra recente, oportunamente...)

Eu, calhau rolado...

A minha filha está fã da geologia e, professora, mostrou-me as pedras da beira da praia chamando-lhes "calhaus rolados". Cujo aspecto muda do dia para a noite quando o brilho da água os abandona. Ficam baços, perdidos, anónimos. Tal o amor quando abandona a visão de alguém.
Tenho guardadas umas dessas pedras, secas pelo calor de uma casa que o sol invade diariamente. Escolhidas por mim, passaram pelas descritas fases da água - a paixão - e sua perda - o desencanto. Hoje brilham mais, os detalhes que as distinguem bem mais visíveis no seu novo equilíbrio com a humidade ambiente, marcando uma presença forte de peças individuais, únicas e irrepetíveis. Fora do torvelhinho aquático da paixão, e da sua ressaca em vazio, agora sim posso amá-las pelo que elas são, sem mais. E assim faço. E assim espero que comigo venha a ser.

Postal Ilustrado

Quem, em anos, me dará o açúcar?

sexta-feira, maio 27, 2011

Felizmente...

há o Helder Moura Pereira...

A casa Pritzker, ou quase...

Atravancado por gente que quero tanto e coisas que me vão acontecendo e dando que fazer, o tempo, esse rapazinho brincalhão, nunca chega, ou está sempre de partida.
Por milagre dos peixes estive em casa de gente muito amiga aqui há umas semanas. O que era para ser um almoço transformou-se numa longa tarde. Conhecer de quem gostamos tem esta coisa do tempo a pedir interpenetração, como se dedos. Logo no dia antes de partir para essa casa que adorei conhecer, tinha já decidido que livro queria eu comprar para oferecer e ser a minha unha na casa, uma pequena marca, um "xis". Não encontrei o livro, arrastei quem quero tanto na minha busca e nada, chegámos até um pouco mais atrasados do que previsto. Bom, já encomendei, e tenho procurado. É um lindíssimo e esguio livrinho de que só possuo um dos três exemplares que procuro. Um que já deixei, um que comigo fique para sempre, outro para a casa que visitei.
Como viver sem procurar o muito bom, o excelente? Assim foi aquela tarde, mesmo que a ausência do livrinho como retribuição - um nada - me leve a dizer que a perfeição não existe, a sua morada é incerta, as coordenadas confusas, o espaço que nos permitem manifestamente pequeno para esta tamanha exigência que em nós resiste, eu sei, mas não podemos parar de tentar ir para lá... não é, Sandra?

quinta-feira, maio 26, 2011

Chesterton

no Leituras...

domingo, maio 22, 2011

E o impossível...

declarou-se aberto a sugestões. Tais como mudar o nome à missão.

Hipótese de trabalho

Transforma-se o intervalo na coisa intervalada?

sábado, maio 21, 2011

Ferris Bueller's Day Off 1986

John Hughes (1950-2009) definiu uma época da comédia juvenil americana, os anos oitenta. Foi sobretudo escritor e produtor. É culpado de coisas tão anormais como a saga "Home Alone", ou "Beethoven" (sim, o cão...). Também de "Pretty in Pink". Realizou nove filmes, o último em 1991, percebendo que as coisas estavam a mudar, ou que a mão se perdia... O seu Opus Magnum enquanto realizador é, na minha modesta opinião, "Ferris Bueller's Day Off". Neste filme está também o melhor Mathew Broderick de sempre. Atenção ao cameo final de Charlie Sheen...



These were the days: ser rico era cool, tinha piada, era fantástico, o sol brilhava sempre ou quase, o sexo era suposto suavemente acontecer e sem espiga nem exposição fílmica. As drogas eram leves, os carros rápidos, ninguém se magoava ao cair a uma piscina. Este sonho acabou, não sabemos muito bem quando ou onde. Ferris Bueller's é uma utopia. E também uma comédia sem um risco na carroçaria. Eu gostava de ter estado lá. Fica o filme, para ver e rever...

PS.: notice the class A script (and very up-to-date too):

(class)
Economics Teacher: "In 1930, the Republican-controlled House of Representatives, in an effort to alleviate the effects of the... Anyone? Anyone?... the Great Depression, passed the... Anyone? Anyone? The tariff bill? The Hawley-Smoot Tariff Act? Which, anyone? Raised or lowered?... raised tariffs, in an effort to collect more revenue for the federal government. Did it work? Anyone? Anyone know the effects? It did not work, and the United States sank deeper into the Great Depression. Today we have a similar debate over this. Anyone know what this is? Class? Anyone? Anyone? Anyone seen this before? The Laffer Curve. Anyone know what this says? It says that at this point on the revenue curve, you will get exactly the same amount of revenue as at this point. This is very controversial. Does anyone know what Vice President Bush called this in 1980? Anyone? Something-d-o-o economics. "Voodoo" economics."

quinta-feira, maio 19, 2011

Maio 1-15

Um poente colectivo.

Estacionamento em oblíquo.

A ponte móvel.

Smile!

Uma casa portuguesa!

"água quente em pedra fria"

"Podes estar
 descansado"
As gerberas.

Golden hour.

Albufeira, Gaia!

Areinho, Ovar.

Bucólica activa...

Logo rapidamente...

terça-feira, maio 17, 2011

Senão, vejamos...

Não há nada mais diferente que as duas faces de uma mesma moeda. Costas voltadas, nem se falam. Uma não sabe como é a outra. Nunca se viram! Odeiam-se! E quando a moeda cai, conjunto que é dessas duas metades, saracoteiam-se histéricas, uma e outra, sonhando que assim conseguem decidir a cara que fica por cima, por baixo...

Quilos.

Perdi uns quilos. Antes isso do que ganhar um estalo ou ficar p'ra camelo!

Tony Judt

No leituras...

sábado, maio 14, 2011

Manuel António Pina recebe o Prémio Camões.

Os meus parabéns a Manuel António Pina.
Leio com alguma frequência as suas interessantes crónicas no JN, já li algum que outro dos ses livros infantis. A sua poesia parece-me muito conseguida, e não só pelo diálogo com Pessoa. Já citei neste blogue poemas seus, mais do que uma vez.

Uma coisa só: se o homem Manuel António Pinto fosse menos... simpático, haveria tanta simpática euforia pelo prémio na imprensa escrita? O que fazer, uma vez mais, com Pound, Céline, ou os seus antipáticos equivalentes portugueses?
Ou, finalmente, toda esta ansiedade jornalística perante a "vitória" de um escritor que, também, manifestamente parece ser um homem bom, nasce apenas e só de os tempos que correm não estarem fáceis para os homens bons?

quinta-feira, maio 12, 2011

Chic-ism 1992

Vá lá saber-se porquê este disco não vendeu um caralho! As danças eram outras, alguém disse que soava tudo a requentado, mas que mentira mais pegada... Aqui vão os dois primeiros temas do disquinho, que aliás em suporte CD vão explosivamente colados sem interv... Dizer que então ouvi "N" disto é pouco dizer!



Another (very) Chic song!




Chic is my thing já nem sei desde quando...

Listening to...

Claramente

As eleições que aí vêm possuem - ou serão possuídas, sabemos lá, dado o feminino da palavra... - (por) um só objectivo: fazer de José Sócrates parte apenas do nosso passado!

Ou isto...

"Eu vi a luz num país perdido.

A minha alma é lânguida e inerme.
Ó! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme..."




Ou tipo deixem-me em paz...

O que eu tenho?

Uma caixa cheia de mensagens.

Será?

Que ao desenterrar um corpo começa-se pelos pés?

terça-feira, maio 03, 2011

Abril

Os pés.

A espuma de um dia.

Shrek.

Staring at the moon!

Café de canto.

Liberdade vigiada.

Number? Two.

Vigília pascal (sort of).

Do you ever get me...

domingo, maio 01, 2011

Hoje, que é o primeiro domingo de Maio...

Vou jantar a casa da minha mãe e oferecer-lhe o devido presente. Não serão muitas as palavras trocadas. Sei que os dela ouvidos estarão a ouvir-me só a mim quase, como desde sempre, ou desde que me conheço, o que vem a dar no mesmo.

Não consigo deixar de pensar que este pedregulho duro que trago no coração e me cala nasce, nasceu quando há muitos anos eu decidi que contigo já estava tudo conversado - e até então, para aí os meus doze anos... - eu só tinha conversado mesmo contigo... - e a partir daí busquei outras conversas...

Porque não consigo voltar a falar contigo? Porque não terei ainda considerado fechado este meu périplo por outros mundos? Não sabia eu que a ideia era não mais voltar mas que a porta não era preciso ser assim fechada tão sem remédio nem piedade?

P.S.:

Em tempos de "royal wedding", olha, nem me lembrei do comparo. É que... não há comparação possível, não é, Rosarinho?

Isto dos casamentos...

Isto dos casamentos é uma indústria importante. E eles ainda acontecem, nestes tempos de estreitamento, de bolsas e de saídas, ainda há quem procure os amplos espaços de um templo para professar os votos daquilo que é, antes do mais, uma firme promessa de construção civil: “para ti farei uma casa e ela será rochedo intransponível, infranqueável”. Quem promete? Hoje assume-se que aqui há equilíbrio e que um ao outro prometem o mesmo, com nuances de tom e de espírito, e de corpo também.

Hoje o país agradece que se casem as pessoas. A construção civil, como já dito, pois uma nova sede será construída para este par de escuteiros. Depois, a indústria têxtil, já que há que vestir os convivas. A seguir a restauração, pois há que alimentar e embebedar os convivas. E finalmente a indústria das inutilidades de que o covil dos lobitos será ataviado, e aqui entra a famosa subindústria das “listas de casamento”.

Bom, destilado o fel sobre um peditório onde eu já andei com o saquinho a pedir uma e... outra vez, cabe-me aqui dizer que irei no próximo sábado assistir ao casamento de dois amigos meus. NADA do que acima foi dito se lhes aplica. Nem um cêntimo. E porém passeei há uns dias pela deles “lista de casamento”. Levava um topo de gasto decidido, e pouco o ultrapassei, embora os valores em jogo fossem uma humilhação. E porém sempre a poesia nos permite uma solução simples. Falo dos meus amigos Rosário e Júlio, deles falo. A Rosário conheço eu bem. Ele há o fogo, e elas há umas pessoas, não muitas – então mulheres… - pelas quais as minhas mãos ao fogo desciam sem hesitação. A Rosário está aí, e daí não vai sair. Acontece que casam. Há aquele poema de Camões sobre Jacob pastor e o seu tempo de sete anos a servir para obter a sua amada, que mais sete anos seriam "não fora para tão longo amor tão curta a vida". “Servir” a palavra chave que decifra o sentimento de Jacob. Servir a amada. Não há melhor, não há maior plano. Eu sei que o plano do Júlio é este, tenho aliás a mais absoluta das certezas. Felizmente, na malfadada “lista”, os objectos que”serviam” eram poucos, três se não me engano, e o cômputo geral do seu ónus monetário em pouco ultrapassava o valor conjurado. Assim se fez e aqui se explica o enredo. Júlio, aqui tens a minha ajuda. Servirás, dupla palavra como as portuguesas todas. Trabalhos de encaixe, opção primeira, segunda e terceira. Parabéns, meus caros, parabéns. Sabem – sabes, Rosarinho, não sabes? – que nas coisas do céu eu não acredito muito ou melhor, quase nada, mas se casamento houve feito nos céus, foi este. Eu pessoalmente adivinho que foi também bem na terra pois o céu mais não será que um espelho melhorado onde revemos os nossos sonhos olhando para cima, e ainda há quem sonhe com as estrelas!

Parabéns, e… boa sorte! Que também precisa é…