Eu, calhau rolado...
A minha filha está fã da geologia e, professora, mostrou-me as pedras da beira da praia chamando-lhes "calhaus rolados". Cujo aspecto muda do dia para a noite quando o brilho da água os abandona. Ficam baços, perdidos, anónimos. Tal o amor quando abandona a visão de alguém.
Tenho guardadas umas dessas pedras, secas pelo calor de uma casa que o sol invade diariamente. Escolhidas por mim, passaram pelas descritas fases da água - a paixão - e sua perda - o desencanto. Hoje brilham mais, os detalhes que as distinguem bem mais visíveis no seu novo equilíbrio com a humidade ambiente, marcando uma presença forte de peças individuais, únicas e irrepetíveis. Fora do torvelhinho aquático da paixão, e da sua ressaca em vazio, agora sim posso amá-las pelo que elas são, sem mais. E assim faço. E assim espero que comigo venha a ser.
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