Miguel Gaspar
Descobri-o a escrever na última página do Público e, para já, muito bem. Veja-se o texto de ontem intitulado "O princípio da Autoridade", não linkável pelas razões financeiras do costume...
A estar atento.
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um blog discreto e inofensivo, que aspira suavemente pela primavera enquanto estes dias são do mais puro inverno
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Falo do meu amigo Sousa, Sr. Sousa claro, outro com idade para ser meu pai, 74 anos no activo. É o meu mecânico, ali da Leixonense em frente à Mauritânia, garagem aberta há mais de 50 anos. Não sei porém quem é de quem, tantas as suaves lições que o Sr. Sousa já me tentou dar sobre a complicada engenharia do Seat Ibiza ou da Renault Scénic. Devo-lhe ainda o ter levado o Ibiza à inspecção a semana que passou, e vou pagar-lhe depressinha, superstição que nasce do facto do meu amigo Sousa estar internado em Intensivos, com uma falência multiorgânica. Um seu funcionário, o Sr. Lugarinho, empregado ali 45 anos, desde os 15, pessoa tímida e fugidia de fala enrolada, terá chorado à beira do meu homem, sedado, ventilado, como uma criança. Lembro-me de ir deixar o Ibiza para uma qualquer revisão e encontrar o Sousa, no seu gabinete da garagem a ser escanhoado às sete e meia da manhã. Assim se faz, ssim se vive. Morador da Barranha, que é aquele bairro que liga Matosinhos à Sra da Hora, a enchapelar a zona da feira. Nasceu na travessa do Loureiro, que é cinquenta metros acima de onde moro. Matosinhos puro, um aristocrata. E eu peço encarecidamente ao Sr. Sousa que não morra. Mecânicos como o senhor haverá poucos. Gente, não conheço.
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Talvez seja coincidência mas o meu amigo médico repete dia após dia que a amizade está em crise e, para exemplificar, falou-me de um caso que passo a citar: "Vê lá tu o meu amigo Augusto. Vou-lhe chamar da forma que o trato habitualmente, tendo ele quase idade para ser meu pai: sr. Augusto. Conheci-o quando passei a tratar a sua esposa, portanto minha doente. Homem vindo de África, dos tempos em que Portugal a tarde e más horas ainda teimava em mandar os seus mais aventureiros para o trópico, nem sei bem qual é a sua arte. Às vezes contava-me com evidente orgulho peças e arranjos que inventava para ortopedistas ou equiparados. Um óptimo profissional. Nada pedindo para si, tudo para os demais. Bom prato, boa piada, bom amigo. Boa gente. Está a tentar reformar-se a tempo, antes de começar a arrastar-se pelo trabalho uma sombra do que foi, pois assim há quem queira que venha a ser todo um país. A esposa, talho da mesma cepa, tem estado progressivamente mais doente, mais limitada. Não tenho podido fazer mais do que monitorizar o seu declínio. Têm um único filho. Licenciado em relações internacionais mas quase sempre desempregado, influi muito o ter um déficit visual grave cuja real etiologia desconheço, adquirido já na infância e que lhe limita e muito as hipóteses de emprego. O mimo dos pais, é um homem-criança, condicionado pelo que atrás te contei. E podia ter muita pena dele, mas não tenho. É também afinal um ladrão, tendo já roubado os pais repetidas vezes, a última a semana que passou. O sr. Augusto anda desesperado. E eu com ele também. Pediu-me para marcar uma consulta para o filho, pois precisaria de fazer umas análises. Só se fosse para lhe dar um murro."
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São três uns amigos desse meu amigo, médico. E eles também sofrendo da mesma profissão.
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para a SM
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Suspendes o que separas.
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