quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Os três amigos

São três uns amigos desse meu amigo, médico. E eles também sofrendo da mesma profissão.
Conhece-os há bastante tempo, anos, mais de dez. Acompanhou o seu crescimento, pelo menos profissional. Sobre aquele que mais importa, o deles enquanto gente, vislumbrou luzes, adivinhou sombras, calou receios. Algo mais velho, o meu amigo médico quase encontrou neles como irmãos mais novos, os que nunca teve, a fraternidade indizível que o sangue traz e leva, às vezes. Melhores sempre os irmãos que se adquirem, pensava, resolvendo.
E os anos passaram. Afastaram-se um pouco - bastante até os três amigos, como dedos de uma mão que crescessem demasiado e – plás! – quebrassem para articulação metacarpiana. Talvez o verbo partir fosse o mais adequado. Não pertence a este texto desenhar a geometria espacial neste momento de onde estão as três naves de que falo. O meu amigo médico detecta ainda e sempre sinais de vida - afinal, é a sua especialidade, monitorizar a vida das gentes e demais espécimens. A história das pessoas é como a história de um povo, implica um trabalho de memória, e diário. É combustível para alimentar o adequado julgar do gesto, aferir a direcção do caminho. Lembra-me onde estive e dir-me-ás para onde vou. O meu amigo médico sabe muito pouco destes seus amigos, ele imagina coisas, é conhecido aliás por sofrer de distúrbios da imaginação, linhas de texto que no início prendem mas acabam por cansar quem lê. Por isso acabo a dizer que o meu amigo médico está onde sempre esteve, em si próprio, que é a melhor das casas. E assim espera que as demais gentes estejam, pois os tempos não estão para que se diga de quem nos preocupa: “olha como ele está fora de si!”. É que só nós nos restamos a nós próprios, “en estos tiempos inciertos, en que (sobre)vivir es un arte”.

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1 Comments:

Blogger altavenda said...

"evil wins when good people do nothing"

primeiro vieram buscar os judeus e como eu não era judeu não disse nada......
depois vieram buscar-me a mim já não havia ninguêm para falar"

34 anos após e continuamos a sobreviver ...vergados, calados, embrutecidos, manipulados, censurados......tristes.

Já ninguém exige um país que nos mereça.

11:53 da tarde  

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