Great Song... and a Great Singer.
um blog discreto e inofensivo, que aspira suavemente pela primavera enquanto estes dias são do mais puro inverno
E, pelos vistos, o pequenino João Tordo é filho do Fernando, esse cirrótico que eu tanto admiro...
Um amigo meu contou-me que se cruzou com o Rui Reininho na quinta-feira à noite. Este cravou-lhe dez euros, ao que o meu amigo, sentindo-se honrado, prontamente acedeu. Como paga o Rui declamou-lhe a "Desfolhada" do Ary dos Santos.
SPM = Sociedade Portuguesa de Matemáticas.
Há muitas formas de aquecer uma casa. Querosene, Riopele, Terylene acolchoado...
Fui a Serralves tentar reaver o dinheiro de duas entradas para um evento que, porque choveu, foi cancelado. Eram 18h50m. A rapariga da recepção interpelou-me abanando negativamente a cabeça. Uma curiosa expressão e uma elegância dura levaram-me a alguma simpatia, e contestei-me abanando um pouco afirmativamente a cabeça e sorrindo: "Eu queria a devolução do dinheiro correspondente..." "A bilheteira fechou! Às 18h45m fechou! Aliás como está bem visível..." e a cabeça dela girava à procura de um placard informativo inexistente. "Eu não quero nenhum bilhete..." "Já estamos a fazer as contas, a caixa já fechou!" Sim, a dureza mantinha-se, ida a elegância dos traços de quem estava mesmo farta de ali estar, e eu com isso, mesmo nada, arregalei-lhe muito os olhos, despedindo miradas de "calma, minha, afinal és tu, o teu patrão, quem me deve dinheiro... calma...". Dei dois passos atrás, ela fazia obviamente body combat nas horas vagas, as palmas erguidas em sinal de paz e submissão, e bati em retirada. Amanhã este dinheiro será meu!
Devo ser um bom fumador passivo.
Só para terminar as minhas reflexões sobre a minha visita recente ao Museu Nacional de Arte Antiga, se bem se lembram referi ter coexistido a minha presença por aquelas salas com três, repito, três visitas guiadas. Duas guiadas por homem, uma guiada por mulher.
Portugal vive de mitos fundadores. Os Painéis de São Vicente, pintados por Nuno Gonçalves na 2ª metade do séc. XV, é um deles. Retirando esta ganga mitológica, que é só nossa, não deixa este conjunto de painéis de ser a galeria de retratos mais impressionante da pintura europeia do século XV.

No quadro “A Descida do Túmulo” de Cristóvão Figueiredo, pintado uns quarenta anos depois, o duplo retrato das duas figuras masculinas à direita, os possíveis doadores, foi considerado herdeiro directo de Nuno Gonçalves. Na qualidade sim, aceito. Não no estilo, desenho, objectivos. Um quadro é um todo completo e único, as suas partes dialogando entre si e com o espectador. Nos Painéis de Nuno Gonçalves 58 figuras concordam entre si na imagem que querem deixar para a posteridade: uma imagem de solenidade e sério querer, de uma nação nova e que se afirma, aquém e além mar. Lembremos terem sido estas tábuas possível encomenda de D.Afonso V, o Africano, guerreiro na Península e no Magrebe, príncipe do seu tempo, antecessor directo de D.João II, aquele que viria a ser o “Príncipe Perfeito”. O quadro de Cristóvão Figueiredo acontece no auge do reinado de D.Manuel I. Portugal não está a crescer, já chegou ao topo de um mundo que se alarga ano a ano. Novas ideias, novas sensações, novos extremos. Portugal é como uma nova Itália, explode em todos os sentidos. Este quadro apresenta um triângulo de sensações, a morte do Cristo, o choro desesperado e convulsivo das mulheres e do discípulo, a serenidade atenta e preocupada dos dois observadores. Aqui, quarenta anos depois de Nuno Gonçalves, toda uma paleta de emoções nos é oferecida numa só pintura, numa só vinheta. Portanto, pode-se dizer que o quadro de Cristóvão Figueiredo, sendo tecnicamente também de grande qualidade, é emocionalmente muito mais rico do que os Painéis de Nuno Gonçalves. Como viajava depressa Portugal naqueles tempos!
Esta colecção é escassa, estreita, pontilhista quase no acaso de representar ou não fases, momentos, movimentos da história da pintura europeia. Mas um quadro só chegaria e chega para justificar a viagem, e esse quadro chama-se "As Tentações de Santo Antão", de Bosch. Não se sabe como chegou a Portugal, e é contemporâneo da pintura luso-flamenga de Frei Carlos e do Mestre da Lourinhã, por ex. Reproduz-se aqui uma das três tábuas, para melhor atenção ao detalhe.Esta exposição não é uma exposição exaustiva destes anos e, porém, não consigo na net retirar imagens de algum que outro quadro que também me impressionou.
A terminar a exposição o conhecidíssimo - e também anónimo - "Ecce Homo". Mistério da pintura portuguesa destes tempos, atribuido antes ao séc. XV, por datação da madeira de carvalho sobre o qual está pintado parece ser de c. 1570 - cópia de quadro anterior, a ajuizar pela iconografia, "arcaica"? Isto não lhe retira o valor, o ser a chave de ouro que fecha uma exposição desigual, mas interessante.
Esta exposição começa mesmo quando saímos da sala dos painéis de São Vicente. E entramos numa longa sala dividida em três sectores, em que cada um destes residinodo um dos três pintores flamengos que se radicaram em Portugal e abriram o século XVI português à pintura. De seu nome Frei Carlos (ver imagem), Francisco Henriques e Mestre da Lourinhã - nome certo desconhecido - que estes nomes não enganem pois são aportuguesamentos. Há muito decidido este raid, aconteceu hoje - visitei a exposição sobre pintura portuguesa a acontecer no museu das Janelas Verdes - o nosso MNAA.
O MNAA é dos poucos museus portugueses que pode aspirar a ter - a nível internacional - alguma dimensão e expressão. É o nosso Prado, o nosso Louvre, passe o exagero Para alguém que faz do prazer de ver pintura um habitat ocasional mas muito aprazível, o MNAA é sempre um bom porto, embora não comparável em extensão e qualidade aos acima mencionados. O que não é obrigatoriamente um defeito. O Louvre é demasiado grande, mesmo. E o Prado é no geral inacessível, dadas as intermináveis filas que sempre o precedem. Pela qualidade intermitente da pintura apresentada, o MNAA não proporciona aquela sensação de banho, de submersão que as referências oferecem. Logo, o prazer será mais cirúrgico, o que não será assim tão mau.
Passado este quadro chegamos à sala que é hoje e sempre uma das piéces de resistence do museu: a sala dos Painéis de São Vicente. Escuso de acrescentar mais discurso ao muito que já se disse e escreveu sobre. A cada exposição é alterado o entorno do políptico. Desta vez, à sua esquerda sucediam-se duas pinturas presumivelmente não portuguesas, o "Homem com o copo de vinho" e o "Retrato de Santa Joana", quadros contemporâneos dos painéis e que in illo tempore foram atribuidos a Nuno Gonçalves. Logo a seguir o "S.Vicente atado à coluna", atribuido sim ainda hoje a Nuno Gonçalves, e o 1º nu - masculino - da história da pintura portuguesa. Adiante falarei mais sobre este quadro, de valor superlativo.
Como passa o tempo... e neste apartamento como se conta o tempo! Neste preciso e vário momento ouço não um mas dois relógios, a enunciar: o do mini-forno que me devolverá cozinhados com meças em delta tê um panado de pescada e três douradinhos vegetais; o relógio comprado no DeBorla e que, ocasionalmente, desde há seis meses funciona.
Não vou recorrer à Wikipedia nem a nenhum qualquer outro manjar dos deuses da internet para lembrar-me agora adequadamente da história de Scott - qual era o primeiro nome? - e da sua fatídica expedição ao Polo... Sul. Perdeu contra um valente e simpático rapaz Norueguês, Amundsen - em que ano? - que apenas se dedicou ao Polo... Sul porque o Polo... Norte já tinha sido conquistado, e que entrou nesta corrida dos pólos pelo desporto. Scott não, era um cientista, um tipo sério, a sua equipa era maior, com propósitos mais elevados e por aí adiante, e Amundsen ganhou, a sorte a ajudar a maior experiência, espetando a bandeira norueguesa qual bandarilha primeiro no nunca antes encontrado Polo... Sul. Scott chegou depois, encontrando a bandeira do seu rival já ali - this seat is taken, old chap, sorry... - e ao voltar para trás o frio da Antártida matou-o. Há algumas chatices com isto de ser gajo. Uma delas é não poder mudar de clube. Não é uma hipótese que venha contemplada no kit de manufactura de gajo! Mas quase apetecia...