Os Primitivos Portugueses - Museu Nacional de Arte Antiga - parte 1.
Há muito decidido este raid, aconteceu hoje - visitei a exposição sobre pintura portuguesa a acontecer no museu das Janelas Verdes - o nosso MNAA.
O MNAA é dos poucos museus portugueses que pode aspirar a ter - a nível internacional - alguma dimensão e expressão. É o nosso Prado, o nosso Louvre, passe o exagero Para alguém que faz do prazer de ver pintura um habitat ocasional mas muito aprazível, o MNAA é sempre um bom porto, embora não comparável em extensão e qualidade aos acima mencionados. O que não é obrigatoriamente um defeito. O Louvre é demasiado grande, mesmo. E o Prado é no geral inacessível, dadas as intermináveis filas que sempre o precedem. Pela qualidade intermitente da pintura apresentada, o MNAA não proporciona aquela sensação de banho, de submersão que as referências oferecem. Logo, o prazer será mais cirúrgico, o que não será assim tão mau.
Comecemos pela exposição "Os Primitivos Portugueses - 1450-1550", subtitulada "O Século de Nuno Gonçalves". Este subtítulo não se entende. Tendo menos obra sua consensual do que Da Vinci, Nuno Gonçalves pouco tempo terá dominado um tempo que era ora mais lento ora mais rápido do que o actual. A sobrevida média das gentes e dos pintores rondaria os cinquenta anos, com as variações inerentes a que uma epidemia de peste te acerte ou não. Logo, o teu período artisticamente fértil podia consistir em duas, três, quatro décadas no máximo. Pode-se portanto falar do século que "começou" com Nuno Gonçalves. E aí a data 1450 é precoce.
A exposição começa com um quadro de Álvaro Pires de Évora. O 1º pintor português de renome, fez toda a sua actividade em Itália, pelo que quase se podia dizer que é tanto português como El Greco não é espanhol... de qualquer forma a sua referência à terra de origem é simpática. Pintura agarrada aos primitivos... mas italianos, foi um prazer uma 1ª visão ao vivo deste primitivo italiano... português! Claro que, esclareça-se, este pintar em nada influenciou NunoGonçalves e em nada serve como introdução ao famoso século de referência. É uma curiosidade cuja apresentação se agradece.
Passado este quadro chegamos à sala que é hoje e sempre uma das piéces de resistence do museu: a sala dos Painéis de São Vicente. Escuso de acrescentar mais discurso ao muito que já se disse e escreveu sobre. A cada exposição é alterado o entorno do políptico. Desta vez, à sua esquerda sucediam-se duas pinturas presumivelmente não portuguesas, o "Homem com o copo de vinho" e o "Retrato de Santa Joana", quadros contemporâneos dos painéis e que in illo tempore foram atribuidos a Nuno Gonçalves. Logo a seguir o "S.Vicente atado à coluna", atribuido sim ainda hoje a Nuno Gonçalves, e o 1º nu - masculino - da história da pintura portuguesa. Adiante falarei mais sobre este quadro, de valor superlativo.
À direita do políptico de S.Vicente estão várias obras dele contemporâneas e de qualidade bem inferior mas onde o interessante é notar a influência do mestre no modelar das faces, no desenho da figura humana. Interessante curiosidade, não mais: Nuno Gonçalves não só existiu como influenciou...
Visitar o MNAA ao sábado de manhã revelou-se uma aposta não tão segura quanto isso: coincidi com três repito três visitas guiadas à exposição. Um dos velhotes dum dos grupos interpelou um dos vigilantes: "Então, isto é que é um frete, hã?"
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