Primitivos Portugueses - fase dois.
Esta exposição começa mesmo quando saímos da sala dos painéis de São Vicente. E entramos numa longa sala dividida em três sectores, em que cada um destes residinodo um dos três pintores flamengos que se radicaram em Portugal e abriram o século XVI português à pintura. De seu nome Frei Carlos (ver imagem), Francisco Henriques e Mestre da Lourinhã - nome certo desconhecido - que estes nomes não enganem pois são aportuguesamentos.
Estes três pintores fornecem ao 1º quartel do século XVI uma qualidade de pintura interessante, dentro de uma 2ª linha flamenga, capaz de monumentalidade e harmonia, capaz de pormenores interessantes e de um estilo. Não estamos a falar de génios, de grandes pintores europeus, esclareça-se. Mas é pintura que merece a pena ser visitada e admirada.
Depois, o espaço seguinte faz referência às oficinas de Coimbra, Guimarães e Viseu. Em Viseu manda Vasco Fernandes e seu discípulo Garcia Vaz. O Grão Vasco é o primeiro pintor acima da média português de nascimento, depois de Nuno Gonçalves. Por demasiado conhecida esta pintura não me surpreende. Sigamos.
A seguir temos Jorge Afonso, o homem que pintou as tábuas da charola de Tomar e que deu oficina a toda a geração seguinte de pintores. O meu conhecimento da pintura portuguesa deste tempo é todo bebido nos "Oito Sécuilos..." de Reynaldo dos Santos, médico e crítico de arte, obra comprada em fascículos pelo meu pai. Conheço portanto muita desta pintura a preto e branco, assim era há cinquenta anos, cara e rara a reprodução a cores. Muito evoluiu o conhecimento sobre este misterioso pintor. É-lhe atribuida a autoria do retábulo da Igreja de Jesus de Setúbal, por ex., obra também de valor bem acima da média.
Mas, e porque ainda mantenho a minha teoria dos "oito-miles", viramos à direita e finalmente estamos perante a "Deposição no Túmulo" de Cristóvão de Figueiredo. Esta pintura é um dos pontos altos da produção artística do século XVI português, na minha opinião. Os rostos dos possíveis doadores, que serviram e muito bem como cartaz da exposição, contrastam na sua severidade com o pathos das restantes figuras, quase todas femininas, e o rosto do Cristo morto, cinzento, desfeito. Um pathos dito "italiano" mas cujo diálogo com as duas caras da direita ganha um valor especial. Quadro a ser visto e revisto, uma obra-prima. Infelizmente muito castigado pelas visitas de estudo com as quais tive de conviver, não desfrutei dele como queria. Mas a deslocação a Lisboa estava ganha, e só aqui. Os dois retratos são referidos como herdeiros de Nuno Gonçalves. O resto do quadro desmente esta ideia. Cristóvão Figueiredo está bem para além do mestre, e adiante se escreverá sobre isto.
Os outros discípulos de Jorge Afonso foram Gregório Lopes e Garcia Fernandes. Pintores de grande qualidade mas onde não encontrei obra que se comparasse ao quadro de Cristóvão de Figueiredo. De Gregório Lopes destaco um "Martírio de S.Sebastião" cujo diálogo, não assumido nesta exposição, com o quadro já referido de Nuno Gonçalves se impõe, e será feito mais adiante.
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