E se...
Este Mundial acabar na merda do Brasil-Alemanha do costume?
um blog discreto e inofensivo, que aspira suavemente pela primavera enquanto estes dias são do mais puro inverno
Quando ligues o teu portátil, não te esqueças de desligar o espelho que está à tua frente.
"Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Atão... lá vamos jogar com Espanha nos oitavos...
"Bokuwa ongakuka, dentaku katateni
"Logo, se puderes estar comigo, dá-me um toque!" Ela bebeu do copo de Pepsi dele e compôs-lhe o tabuleiro. Foi e veio e tornou a ir. Ele funcionava por ali, centro comercial, mas era o tempo do pequeno-almoço. Ela pertencia aos serviços de limpeza e já estava em horário de trabalho - farda azulina, sigla EULEN. Pelos anos mãe e filho. Pela densidade das rugas, pelo irregular acrescido no quadrado de uma das caras, as duas assim eram. Mas não parecidas. Mãe e filho...
Catálogo de samples da IDM dos últimos 15 anos, desde os Fila Brazilia por ex e sempre pescando na herança germânica, este é um disco de equilíbrio perfeito. Não digo perfeito tout court porque de inventivo realmente não tem muito. Mas que é uma delícia para os ouvidos lá isso é!
Entro e saio do Cidade do Porto pela "saída de emergência". Emergente nunca ninguém entra, serei eu o primeiro. Emergente não no sentido de novo, não me façam rir, está difícil.
Há umas décadas terá havido uma revista de poesia em Portugal, ou algo parecido (título, país, revista, poesia...) com este nome.
Morreram António Manuel Couto Viana e José Saramago.
TRÁS OS MONTES (contigo também).
DA INDECISÃO COMO PECADO ORIGINAL (A Bang? A Big Bang?)
Imagina um rebanho. O das tuas coisas. Imagina ainda que os habituais caminhos de todos os anos foram apagados. Pelos séculos, pela internet, o que tiver sido. Apagados com borracha, pelo vento, pelo asfalto. Tens o rebanho. Tu és aquele rebanho. A condução tem de seguir. Pode o rebanho parar um tempo aqui, ou ali, comendo a erva que há, mas o corpo múltiplo pede o lento movimento de antigamente. Mas para onde, por onde? O rebanho não sabe nem lhe está sabê-lo, espelho de quem apascenta e rege.
CAFÉ DO MOLHE
... por solidariedade com o pobre do ZP...
CLARA REFLEXÃO SOBRE O NEGRO FINAL DA EXISTÊNCIA
DA SERVENTIA COMO ETERNA JUSTIFICAÇÃO DE PRESENÇA E COMUNIDADE
Diz-me, silêncio, em ruidos permanentes
Ocuparam o meu sábado de manhã com um "percurso de orientação em Mira". Mira, sempre achei que era Mira ali em Miramar. Resultou ser Praia de Mira, distrito de Coimbra. A bem disposta que aceitou a nossa inscrição disse que tudo o que era preciso era isso mesmo: boa disposição. Esqueceu-se de mencionar bússola, calçado apropriado... Chegámos a MiraVillas às 9h30m. Tivémos treino de quase hora e meia, antecedido de cafezinho e pão com fiambre para todos. Tive direito a t-shirt de "Amigo" de um determinado Hospital... para o caso de me perder. Portanto, dispersou-se o ATL em grupos de três em direcções opostas num circuito que era pinhal e pinhal e pinhal, sobre duna transformada. Até aqui nada de especial, ali no Furadouro há kms disto. Tinhamos que passar por dez "balizas" e, para o caso de nos perdermos, não tinhamos o contacto de ninguém da organização, e a Figueira da Foz era 40 kms para sul. Ah, e estava nublado, portanto nem adiantava ver a direcção do sol pois não havia sol para ver. Bom, foi-se fazendo. Na baliza 4 cruzámo-nos com quem já vinha em sentido contrário e para ganhar, nomeadamente um fds nas pousadas Pestana p/2. Eu também, queria o quê, tenho o cartão, que este ano não será usado, so... Bom, o 7 foi encontrado por acaso, o resto foi-se efectivamente fazendo, acabámos por ir encontrando outros grupos e acabar a coisa um pouco em comunidade, diziam que era percurso para uma hora, o par ganhador gastou 78 min., nós duas horas e meia. Tudo o que era para ser feito de tarde foi anulado. Às 16h ainda estávamos nas MiraVillas, toda a gente, eu, e o litro de areia que havia sedimentado nas minhas sandálias.
Era uma vez um poeta que era um citador
E, finalmente, este fantástico... cavalo! Sim , o truque está no cavalo. Caído Saulo, ou Paulo, uma possível personificação do pintor, também um mau rapaz, o cavalo calmamente entrega-se ao seu cuidador e evitar pisar o soldado que sofre, caído, cego perante a luz. Que sofre? Tenho as minhas dúvidas sobre o que conta aqui Caravaggio. Pois Saulo parece mais como que fechou os olhos, fechou-se ao mundo, concentrado na sua queda. E a cara não é de quem sofre. Porque esta Revelação é uma Queda, não uma Ascensão. E "cair" era uma das especialidades de Caravaggio na vida real.
Esta pintura com uma janela tão holandesa é um dos ícones de Caravaggio. Jesus quase não se vê. A mão não chega a sustentar a luz que se sobrepõe e que é ela o verdadeiro apelo, a ilustração do contraste, este de acontecer uma vocação num cobrador de impostos, um publicano. A taberna que aqui se vê, a ilustração do meio em que Caravaggio se movia, explica todo um projecto pictórico onde carácteres vulgares subitamente desatam a jorrar poder e iluminação, dos quadros de Caravaggio para fora, em nossa direcção, numa frequência de onda que nos fere e interroga.
Nesta pintura de Caravaggio o que eu vejo é o choque de contrastes entre Cristo e Tomás, o Evidente e o Incréu. Cristo ao levar a mão de Tomás - e o dedo que penetra - às suas feridas, testemunhos do acontecido, sujeita-se a uma humilhação mais, ele que é Deus. E uma vez mais está a lavar os pés dos homens. Mas pensativo, um Deus melancólico. Custa-lhe possivelmente reconhecer até ao toque a extensão da imperfeição dos homens, sua fábrica.
A propósito de uma extensa retrospectiva sobre Caravaggio a decorrer em Roma, este quadro, dos seus últimos, é das melhores reflexões visuais sobre o amor e o seu último fim, sabido que aqui Golias é o pintor e David o modelo/amante.
Muito curioso como o escritor albanês mais conhecido, nesta interessante entrevista, se refere mais do que uma vez à ocupação otomana dos balcãs como o grande desastre...