sexta-feira, junho 18, 2010

Transumância

Imagina um rebanho. O das tuas coisas. Imagina ainda que os habituais caminhos de todos os anos foram apagados. Pelos séculos, pela internet, o que tiver sido. Apagados com borracha, pelo vento, pelo asfalto. Tens o rebanho. Tu és aquele rebanho. A condução tem de seguir. Pode o rebanho parar um tempo aqui, ou ali, comendo a erva que há, mas o corpo múltiplo pede o lento movimento de antigamente. Mas para onde, por onde? O rebanho não sabe nem lhe está sabê-lo, espelho de quem apascenta e rege.
Bom, vejamos. Serás algo mais do que este rebanho. Lembras-te? Quando ainda não havia coisas. Este peso. Tralha. O caminho será o teu e o rebanho vai, irá.
Outro rebanho porém existe. Se abrires bem os olhos verás as múltiplas implicações e porquê? Onde estás já estiveste. Uma e outra vez. O que fazer já fizeste. Esta vez e a outra. Os gestos são repetidos. Os pensares. O acelerar do passo e o fechar do pensamento. O refazer do sentir. A talvez fuga, a quiçá procura. Este é o rebanho mais difícil de levar. É o teu passado. É o teu presente. É a impureza obrigada do teu futuro, o chamado futuro imperfeito.
E tu és este rebanho. Ele existe. Não precisas imaginá-lo.
Agora vai.