domingo, junho 13, 2010

De como é fácil esta merda da poesia - IV

O El Pais Semanal de hoje traz uma reportagem sobre os novos poetas espanhóis. Já tinha eu lido alguma coisa sobre estes meninos na colectânea publicada na Hyperion "Cambio de Siglo". Li o artigo, algures entre o ineficaz e o interessante, duas palavras que quase se sucedem no dicionário, ficando com aquele amargo de boca por algum do desintesse vir dos poetas em si e não do articulista. Achei curioso que se desconsiderasse alguém que afirme Dylan (Bob e não Thomas...) mais importante do que Quevedo enquanto influência. Achei curioso que Dylan (Bob e não...), que ainda não morreu mas já teve tempo para isso, seja influência ainda para gente 20 a 40 anos mais nova mas, bom, estamos a falar de poesia e não de música...
Achei muito estranho que estes poetas posassem para as fotografias de geração que compõem o artigo vestindo peças de marca a ser explicitamente mencionadas em subtítulo. Por ex.:  Lorenzo Plana veste "camisa de lino lila de Hartford, tejano de Lacoste y fular de L’Habilleur".   Ou então.: Elena Medel "vestido azul Tsumoda, pantalón de Tommy Hilfiger y sombrero de L’Habilleur". Podemos assim concluir que, para além desta geração não se ter criado contra nenhuma outra nem a favor do que quer que seja, é manifestamente uma geração do seu tempo. Falta conhecer em que condomínio vivem, qual a marca do automóvel, do portátil, e da máquina fotográfica que com certeza levam para as suas férias ecológico-artístico-alternativas, para fazer fotografias diferentes tendo em vista futura publicação tipo "o mundo visto pela objectiva dos poetas" ou uma merda assim.
Noutro lugar escrevi não me atrapalhar a sessão de fotografia de Gabriela Canavilhas para a Vogue portuguesa de Julho. Explico: primeiro, ela é apenas a ministra da cultura de Portugal, isto é, "incha, desincha e passa". Segundo, nada me desagrada na moda, no bem vestir, bem calçar e bem adereçar. Um poeta não tem porque andar mal vestido. A moda e a arte sempre andaram de mãos dadas. Porém, coisas em forma do artigo no "El Pais Semanal" de hoje são simplesmente fúteis. A futilidade poética existe, e pode ser uma forma de expressão e uma arma, por ex. contra levarmo-nos demasiado a sério. Não me pareceu o caso. A ironia e o sorriso não estavam. A expressão era apenas pobre, se bem que razoavelmente bem vestida...
Da poesia não falo.