domingo, junho 13, 2010

"Diz-me, silêncio..."

Diz-me, silêncio, em ruidos permanentes
singelamente confusos primitivos -
que mão estender à voz que ouvida não
fala comigo ou com ninguém, silente:
Devo tocar como quem chama e pede?
Ou agarrar o que não fala ainda
senão por gestos quase imperceptíveis?
Esperarei perguntas sem resposta?
Responderei perguntas não faladas?
Diz-me, silêncio, em ruídos de que és feito,
como entender-te quando és corpo humano.




Jorge de Sena, in Conheço o Sal... e outros Poemas (1974) - Poesia III.