DêDêTê (desconfia dele também...)
um blog discreto e inofensivo, que aspira suavemente pela primavera enquanto estes dias são do mais puro inverno
segunda-feira, novembro 30, 2009
L'Année Dernière À Marienbad
Não, nada aconteceu. E muito menos estive eu ontem à tarde a ver na minha velha de 13 anos televisão a 2ª longa metragem do meu bem-amado Alain Resnais.
Por adequada que seja a transcrição para DVD, por aferido que esteja o ambiente para o visionamento de tão difícil obra, népias. L'Année Dernière À Marienbad não permite ser visto em espaços tão restritos, com meios tão primitivos. Pede uma sala de cinema, e ampla, a poder ser. Para que o seu negro-e-branco se espraie com deve ser, as geometrias, o frio barroquismo, a banda sonora exasperante, surrealista. É um filme do seu tempo, pendurado do guião áspero de Alain Robbe-Grillet. X quer A, a quem quer convencer que seduziu no ano anterior, em Marienbad. E há M.
Existem mil interpretações à volta de um filme quase impenetrável. Freud, claro. O surrealismo e o Nouveau Roman. Um esquema de dream-within-a-dream que depois usaria D Lynch por ex. em Mulholand Drive. Buñuel, também, claro, pela possível maldade. Mas este é um filme muito francês, intelectualmente francês, intratávelmente francês. Onde dizem que também aparece Hitchcock! Um filme que eu aliás acabei por não ver, ontem à tarde.
Notícias da evoluída Suiça
O referendo sobre a proibição de minaretes (sim, há quem decida levar estas coisas a referendo...) ganhou na maioria dos cantões suiços...
domingo, novembro 29, 2009
sábado, novembro 28, 2009
Duas visões do mesmo problema
Elegia do Douro
VIII
Arrepia terem morrido tantos
na troca incauta de margem
à procura de quê.
Afinal, o lado de lá repete
o lado de cá.
A. M. Pires Cabral, in Telhados de Vidro nº9, Nov 2007, Averno.
Xadrez
(...)
Nada a fazer. O mundo é gerido
por zeros e uns, fragmentos de dados - coisas
que o progresso inventou para nos assustar.
E se pudéssemos começar de novo?
Renasceríamos das cinzas
com permissão para fazer tudo?
Vítor Nogueira, in Telhados de Vidro nº9, Nov 2007, Averno.
sexta-feira, novembro 27, 2009
Ó pá, não pode ser!
Vai um gajo e liga para ver o 2º canal e - tau! - está a dar o chato do Aguiar Branco! Não pode ser, meu!
quinta-feira, novembro 26, 2009
27
"Kashmir" é sempre "Kashmir", um clássico dos Led Zeppelin. Nem vale a pena dizer mais.
E está mais uma semana feita. A music a day keeps the doctor fuckin' distracted!
26
Se há disco subvalorizado é Raise the Pressure dos Electronic, 1996. Influenciará que o ouvi todo ao sol e na praia nesse glorioso ano?
António Franco Alexandre
7.
Choro por ti, interminavelmente.
Sem poesia alguma, será que assim fico
mais feminino, diz? Na aula de boxe
hei-de esmagar um crânio, e levantá-lo
num plinto de cristal sobre esta cama
onde esqueci o clube a que pertenço.
Que farei eu, se me acontece
Amor sem corpo ao corpo atravessado
e, contra tudo, quero o que não sou?
Também tu és criança, mulher, homem,
bicho tardio que me consome o rosto,
misturado comigo é quando existes.
Já de olhos secos me vesti de tudo,
até quando quiseres que seja nada.
in Duende, 2002
John Updike
Biópsia com Agulha 22/12/08
Bendito seja o Valium em nome de Jesus:
uma biópsia com agulha dirigida por TAC mandou-me
para um beco sem saída feliz, um desvio não
despegado da consciência, mas docemente separado dela -
ouvi máquinas e técnicos murmurando sobre mim -
um tubo suave em que eu fiquei seguro e quente,
pensando pensamentos criativos, tão, tão intensos como
no meu vigor agora ido. Floresciam os planos e os sonhos.
Tudo ficaria bem, sentia eu, todas as coisas, tudo.
A agulha, cuidadosamente manejada, estava em mim,
para lá dor, dirigida a uma glândula ad-renal.
Não esperara encontrar, neste lugar brilhante, uma paz
tão solvente. Dias depois, de forma casual, chegaram
os resultados: na biópsia, a glândula mostrava metástases.
in Ponto Último e outros poemas, trad. Ana Luísa Amaral
quarta-feira, novembro 25, 2009
terça-feira, novembro 24, 2009
domingo, novembro 22, 2009
Leitura de merda.
Hoje na Livraria Leitura perguntaram-me se tinha cartão do Automóvel Clube. É o que faz por uma vez na vida andar de gravata. Foda-se!
sábado, novembro 21, 2009
sexta-feira, novembro 20, 2009
JS
"It's that I can save lives too, you know?" said the boy with the strange beard, nervous hands looking for a job...
segunda-feira, novembro 16, 2009
quinta-feira, novembro 12, 2009
Minuet nº 2.
Quando estou a ouvir a Catarina a tocar Bach, por mal que seja e é razoavelmente mal, outras vezes bastante mal, e ocasionalmente apenas um pouco, eu digo que as coisas reunem-se e fazem sentido.
segunda-feira, novembro 09, 2009
Fast Way Home & Home
Stereolab, Japan, Gaiteiros de Lisboa, Fun Lovin' Criminals, The Pretenders, The Troublemakers, Paul Murphy, Buraka Som Sistema, Sigur Rós.
sábado, novembro 07, 2009
Dos barbudos...
Ora não esquecem:
O Fernando Assis Pacheco, o Herberto Helder, o António Sérgio, o Robert Wyatt...
Já agora, Robert, aguenta mais uns anitos...
quinta-feira, novembro 05, 2009
A Vara e o Vara.
Armando Vara é um viciado em corrupção - é óbvio. Necessita de tratamento com internamento compulsivo após peritagem psiquiátrica adequada. Não sei é se teremos psiquiatras cá que percebam adequadamente da poda... talvez uma acolitagem de... Itália?
E com esta vara não se pode medir os restantes casos de corrupção em trânsito, senão ninguém mais é culpado!
Ovar e a sucata.
Segundo informações fidedignas o Godinho, o guru da sucata, não é mesmo de Ovar, Ovar, é sim aquisição recente - não é nativo.
Fica portanto ainda com figura mais importante da história vareira o médico.. Joaquim... Guilherme... Gomes Coelho, aliás Júlio Dinis, nado e criado no Porto mas residente em Ovar - nos Campos - durante uns meses, e tendo em gestação As Pupilas do Sr. Reitor... Ovar é a única terra do mundo a ter uma rua dedicada a um tal de Zé das Dornas...
quarta-feira, novembro 04, 2009
Jean Améry
Comprei deste autor o livro ""Atentar contra si - Discurso sobre a morte voluntária". Ver quem foi. -
Na contracapa escreve-se que "Améry descobre o suicídio como um acto paradoxal, mas não absurdo; paradoxal como contrário à lógica da vida, mas não um sem-sentido. No embate com a morte voluntária, o encontro do paradoxo permie-lhe tentar a conquista do lugar que é o de todos os suicidas, seja qual for a sua situação particular. (...) Suicidou-se em 1978 num hotel em Salzburg."
Hummm... a ler.
Três excePções à Poesia do costume.
Dando as voltas habituais deparei-me com três livros de poesia três, cada um do seu canto editorial, mas os três a possibilitar adquirir a uma primeira vista bom material de estudo:
a)
Vitor Nogueira, Mar Largo, ed. & etc., 2009.
"PONTAS
Estamos perdidos e ainda não o sabemos.
Aprender com os seres humanos demora
mais tempo. As casas estão identificadas,
mas as pessoas não. Como sabes que é por aí?
"Neste prédio iniciou a sua vida literária
o grande escritor Eça de Queiróz".
Distraído com a placa, eu só tinha um cigarro
e acendi-o pelo filtro. Em todos os mundos
de cada universo, o azar é quase sempre
uma questão de perspectiva. Dois homens
vêm voar o mesmo pássaro. Um deles é o que
escreve este poema, um carvão retirado do fogo.
Acho até que já vi isto: dus pontas
de um cigarro, dois rostos de um homem só."
b)
Luis Quintais, Mais Espesso Que A Água, Livros Cotovia, 2008
" A fome
A fome desata os nós da consciente
vontade que a escrita denuncia.
Literacias são perfeitas rituais
entregas do acaso,
e tu recensearás acasos,
porque a fome te acomete
sem reservas, sem interlúdios.
O que és transbordará
em longos signos negros.
A luz virá como um sortilégio
de Verão em pleno Inverno.
Um bicho gritará a sem harmonia
que te desenha, a tão real ficção
desa fome."
c)
Rui Pires Cabral, Oráculos De Cabeceira, Averno, 2009.
""And so on, and so forth."
Mas vejam que miséria quando o clube
perde em casa, quando chove no molhado
do recreio a tarde toda, quando o carteiro
faz greve e o outono se insinua -
vejam que miséria este défice de razões
para pôr em movimento a roda perra
do dia, esta pomba trucidada pela ambulância
que guina, enquanto o vizinho almoça e o poeta
transfigura - mas vejam que miséria
qundo a arte não resgata e a miséria
não anima e o amor torna mais árdua
a triste faina da vida."
Afinal o rectângulo ainda faz o que deve ser feito: -
terça-feira, novembro 03, 2009
Morreu o António Sérgio
Texto da revista Blitz
"O radialista António Sérgio , uma das figuras mais importantes na divulgação de música em Portugal, faleceu este Domingo cerca das sete da manhã, aos 59 anos, de forma inesperada.
O velório de António Sérgio tem lugar a partir das 18h00 de hoje, domingo, na Basílica da Estrela , em Lisboa. Amanhã dia 2 de Novembro realiza-se uma missa de corpo presente às 15h00 na Igreja da Basílica das Estrela, saindo às 16h00 o cortejo para o Cemitério dos Prazeres.
Na próxima semana, o programa de António Sérgio na Radar - " Viriato 25" - será emitido como habitualmente, pois já se encontrava gravado.
António Sérgio foi o mais importante divulgador de música "da frente" desde os anos 70 em Portugal. Na Rádio Renascença ou na Rádio Comercial,e posteriormente na XFM, Best Rock e Radar, foi autor de programas, juntamente com Ana Cristina Ferrão, que marcaram gerações e abriram Portugal à música mais aventureira produzida no mundo.
Programas como Rotação (de 1977 a 1980), Rolls Rock, Som da Frente (de 1982 a 1993), Lança-Chamas, O Grande Delta (de 1993 a 1997) e, ultimamente, A Hora do Lobo ou Viriato 25 abriram os ouvidos de milhares de portugueses ao longo das décadas, sobretudo numa época em que o acesso ao "novo" era tarefa dificultada pela não existência de discos à venda em Portugal , ou programas de rádio em consonância com aquilo que se fazia "lá fora". Trabalhou ainda com as editoras Nébula e Música Alternativa.
António Sérgio colaborou durante vários anos com o jornal BLITZ , onde era responsável pelo suplemento mensal Manifesto. Trabalhou também na indústria discográfica, sendo autor da polémica edição da colectânea Punk Rock 77 , um caso que chegaria aos tribunais. Na editora Nova foi um dos produtores do álbum "Música Moderna", dos Corpo Diplomático, que mais tarde dariam origem aos Heróis do Mar. Dirigiu o selo Rotação da editora Rossil, onde se estrearam uns tais Xutos & Pontapés , com o single Sémen . Sérgio seria aliás creditado como produtor do primeiro álbum da banda. Os Xutos seriam, por sua vez, os autores do genérico do programa de rádio O Som da Frente.
Premiado com um Globo de Ouro da SIC na categoria de Rádio, António Sérgio completara, em 2008, 40 anos dedicados àquele ofício e foi considerado pela BLITZ uma das 50 personalidades mais importantes da música portuguesa. Ainda este mês, participara na eleição dos melhores discos de sempre da música portuguesa, iniciativa que marcou os 25 anos de BLITZ.
Pela sua importância na divulgação musical e pela paixão pelo rock, António Sérgio era conhecido como "O Mestre" ou "o John Peel português".
À família de António Sérgio, Ana Cristina, Paulo, Fausto e Sofia, a BLITZ endereça os seus mais sentidos pêsames.
Sérgio, aqueles que amam a música e a sua partilha te saúdam mais uma vez, que não a última.
Texto de Miguel Francisco Cadete
Fotografia de Rita Carmo"
Comecei a ouvir o António Sérgio no Rolls Rock, em 81. Com ele aprendi que há uma música antes das editoras, que há a música, só. Que com a música se sobrevive às vezes, outras vive-se mais. É tudo. Um grande abraço.