Três excePções à Poesia do costume.
Dando as voltas habituais deparei-me com três livros de poesia três, cada um do seu canto editorial, mas os três a possibilitar adquirir a uma primeira vista bom material de estudo:
a)
Vitor Nogueira, Mar Largo, ed. & etc., 2009.
"PONTAS
Estamos perdidos e ainda não o sabemos.
Aprender com os seres humanos demora
mais tempo. As casas estão identificadas,
mas as pessoas não. Como sabes que é por aí?
"Neste prédio iniciou a sua vida literária
o grande escritor Eça de Queiróz".
Distraído com a placa, eu só tinha um cigarro
e acendi-o pelo filtro. Em todos os mundos
de cada universo, o azar é quase sempre
uma questão de perspectiva. Dois homens
vêm voar o mesmo pássaro. Um deles é o que
escreve este poema, um carvão retirado do fogo.
Acho até que já vi isto: dus pontas
de um cigarro, dois rostos de um homem só."
b)
Luis Quintais, Mais Espesso Que A Água, Livros Cotovia, 2008
" A fome
A fome desata os nós da consciente
vontade que a escrita denuncia.
Literacias são perfeitas rituais
entregas do acaso,
e tu recensearás acasos,
porque a fome te acomete
sem reservas, sem interlúdios.
O que és transbordará
em longos signos negros.
A luz virá como um sortilégio
de Verão em pleno Inverno.
Um bicho gritará a sem harmonia
que te desenha, a tão real ficção
desa fome."
c)
Rui Pires Cabral, Oráculos De Cabeceira, Averno, 2009.
""And so on, and so forth."
Mas vejam que miséria quando o clube
perde em casa, quando chove no molhado
do recreio a tarde toda, quando o carteiro
faz greve e o outono se insinua -
vejam que miséria este défice de razões
para pôr em movimento a roda perra
do dia, esta pomba trucidada pela ambulância
que guina, enquanto o vizinho almoça e o poeta
transfigura - mas vejam que miséria
qundo a arte não resgata e a miséria
não anima e o amor torna mais árdua
a triste faina da vida."
Afinal o rectângulo ainda faz o que deve ser feito: -
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