quarta-feira, novembro 04, 2009

Três excePções à Poesia do costume.

Dando as voltas habituais deparei-me com três livros de poesia três, cada um do seu canto editorial, mas os três a possibilitar adquirir a uma primeira vista bom material de estudo:

a)

Vitor Nogueira, Mar Largo, ed. & etc., 2009.

"PONTAS


Estamos perdidos e ainda não o sabemos.
Aprender com os seres humanos demora
mais tempo. As casas estão identificadas,
mas as pessoas não. Como sabes que é por aí?

"Neste prédio iniciou a sua vida literária
o grande escritor Eça de Queiróz".
Distraído com a placa, eu só tinha um cigarro
 e acendi-o pelo filtro. Em todos os mundos
de cada universo, o  azar é quase sempre
uma questão de perspectiva. Dois homens

vêm voar o mesmo pássaro. Um deles é o que
escreve este poema, um carvão retirado do fogo.
Acho até que já vi isto: dus pontas
de um cigarro, dois rostos de um homem só."

b)

Luis Quintais, Mais Espesso Que A Água, Livros Cotovia, 2008

" A fome


A fome desata os nós da consciente
vontade que a escrita denuncia.

Literacias são perfeitas rituais
entregas do acaso,

e tu recensearás acasos,
porque a fome te acomete

sem reservas, sem interlúdios.
O que és transbordará

em longos signos negros.
A luz virá como um sortilégio

de Verão em pleno Inverno.
Um bicho gritará a sem harmonia

que te desenha, a tão real ficção
desa fome."

c)

Rui Pires Cabral, Oráculos De Cabeceira, Averno, 2009.

""And so on, and so forth."


Mas vejam que miséria quando o clube
perde em casa, quando chove no molhado
do recreio a tarde toda, quando o carteiro


faz greve e o outono se insinua -
vejam que miséria este défice de razões
para pôr em movimento a roda perra

do dia, esta pomba trucidada pela ambulância
que guina, enquanto o vizinho almoça e o poeta
transfigura - mas vejam que miséria

qundo a arte não resgata e a miséria
não anima e o amor torna mais árdua
a triste faina da vida."



Afinal o rectângulo ainda faz o que deve ser feito: -