Ano Novo.
Feliz 2013, ou isso...
um blog discreto e inofensivo, que aspira suavemente pela primavera enquanto estes dias são do mais puro inverno
"E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa terra vi. E se a um pouco alonguei, Ela me perdoe. Porque o desejo que tinha de Vos tudo dizer, mo fez pôr assim pelo miúdo.
Vejamos portanto sexta-feira passada. Foi um dia longo.
"Maria e José descansaram comendo um pouco daquele pão que tinha nascido ali, do sangue de Maria. E pediram à estrela que se recolhesse um pouco, pois agora queriam dormir. E o Menino era um pequeno Deus de olhos fechados e segurava com os dedos o dedo de sua mãe e mais nada, por agora."
Percebi há pouco tempo porque o realizador Manoel de Oliveira assim escreve o seu nome. É porque nasceu assim e assim foi registado. Assim também o meu avô materno. Assim assinou a posse de um livro que eu acabei recentemente de reler e sobre o qual já aqui escrevi, de Alexandre Dumas. E ele não tem culpa nenhuma que uns catraios filhos da puta se divirtam a chamar "vaca" diariamente à minha filha.
Foi ontem. Hoje já é dois. Afinal choveu, afinal. A minha filha correu o seu primeiro concurso de cinquenta, enganaram-se ao anunciar o seu nome porque ela saiu antes a substituir uma concorrente atrasada, uma tal de Cristiana, só o nome da égua saiu bem, Tiara, a camisa e o casaco também foram emprestados. Esqueci-me de gravar o vídeo com a atrapalhação. Gritei, não caiu, não hesitou, e foram cinquenta e um segundos de glória. Não é minha filha. Ontem foi um de dezembro, repito. E foi um dia importante. Pode não ter parecido, ou se calhar disfarcei. Tinha saído de vinte e quatro horas. Onde o trabalho nem foi muito. Cheguei a casa e enganei-me, tomei café, não dormi. Almocei sopa e sopa, nem pensar em manufacturar comida. Um sms a chamar-me, um telefonema: "já começou?". Hoje vivemos com estas correntes subterrâneas, mandamos mensagens para todo o lado e a toda a gente, as respostas a diária pontuação. A minha filha lembrou-me a importância do dia, "hei hei, foi a minha primeira vez!", estávamos no McDonalds de Leça, fazia frio, as portas não paravam de abrir embora fosse difícil mas não o bastante e eu perguntei-lhe: "como podes tu querer um Mc Flurry?" embora a pergunta fosse "como vou fazer para um dia algum dia entender-te, filha minha, e tão diferente, tão longe de mim?". Voltei para casa, enfim, o Altea já a antecâmara deste meu tardio ninho de defesa, onde jantei uns benditos pastéis de Chaves, eram cinco, o Sporting ganhou e tão calmamente que adormeci aos 65', percebi pouco depois que o euro talvez acabe, talvez não, as eleições em França sendo a nossa última esperança, senão as alemãs... E decidi escrever isto. Pode não ter parecido, ou se calhar disfarcei. Mas não houve dia mais festivo para mim.