segunda-feira, janeiro 12, 2009

"We ask the international community for more time..."


Oh, Israel, Israel, ínvios e difíceis são estes caminhos agora trilhados! E porém a curta memória dos homens esquece que já foste exemplo de país novo e diferente, a juventude viajava para trabalhar nos teus kibbutz, terra ganha em guerra mais ou menos limpa e sangrenta de exército contra exército, assim estava escrito, 48 e depois. O teu sonho perdeu-se, vê como a palavra “colonato” não rima com “kibbutz”, embora se consiga ver no Google Earth, nos Microsoft Maps – são aquelas zonas arrumadinhas e ajardinadas pela Cisjordânia fora…
Sim, Israel eu li – há muitos anos, é certo - o Êxodus de Leon Uris, depois deixei de o ler e de o considerar mas sei que a tua história não começou em 1948 mas muito antes, os judeus não foram transplantados pela Europa para ali, decidiram por eles ir à procura da sua terra e foram indo, comprando, lutando, comerciando, (também roubando, também expulsando, eles que tinham sido expulsos do mundo - crime sob a forma de tentativa) em 1948 já havia centenas de milhares de judeus na Palestina, quase todos de extracção europeia, os sobreviventes, exactamente, de algo que tinha acontecido e para o qual ainda não se decidiu o nome definitivo.
Os anos passaram, os inimigos são agora adolescentes barbados com fisgas ou jovens moças suicidas, são rockets lançados a partir de túneis escavados sob hospitais, ao lado de escolas, em mesquitas. A guerra de 67, chamada dos Seis Dias porque isso durou e não mais, dura há 40 anos, pois o mapa em que naufragamos nela foi desenhado. Entretanto, Israel, cresceste. Foste ganhando judeus e judeus. Onde metê-los, esta nova gente menos secular, crentes tardios num Eretz Israel e num desígnio bíblico que, para os pais da nação era um património cultural único e imperdoável mas não uma ordem divina real. Se o palestiniano é a tua imagem negativa ao espelho e mais não consegue ser – até porque não o deixas existir - tu, novo Israel, és cada vez mais a imagem cada vez menos positiva deste lado do espelho. E cada vez mais só te sentes bem em diálogo com os tais extremistas, partilhando até algum que outro raciocínio. Por isso a tua política já não é o que era, o “trabalhismo”de uma Golda Meir ou de um Rabin, herança paradoxal dos “colonizadores” ingleses, cedeu lugar a um Likud colonizador e perpetuador do pesadelo cisjordano – e invasor do Líbano, donde metastizou Sharon e o actual Kadima, “centrão” de interesses rodeado pelos partidos religiosos dos colonos. Para o mês eleições que serão ganhas por Netanyahu, um Santana Lopes armado. Cada vez mais judeus foste portanto importando de todo o mundo já não como um projecto único de país mas sim pela ameaça demográfica palestiniana, e para alimentar, afinal aí como aqui o interesse de construtores especuladores de novas casas no deserto em condomínio blindado, eis porque tantos governantes teus têm ultimamente tido problemas com a justiça por corrupção. Os palestinianos com menos de 40 anos, portanto a imensa maioria, é como se não sentissem como natural um direito à existência tal a dificuldade que frequentemente sentiram para atravessar uma rua, pegar no emprego, comprar dois litros de leite. Ao fim de quarenta anos acabamos por acreditar no Deus mais incrível no mais extremo das suas promessas, e vestimos o mais improvável dos coletes, nem que seja o último. A culpa do Hamas existir não é da Fatah, é tua. A corrupção da Fatah levaria à criação de outros partidos, de outras correntes, seculares também, e a Palestina sempre teve gente para isso, acredita, a Cisjordânia em tempos que já lá vão era tão secular como Tel Aviv. A faixa de Gaza é uma invenção tua também, com os seus túneis de contrabando por onde passavam armas – e a comida e os medicamentos e as gentes. Aquelas dificuldades que eu refiro acima, frequentes mas não sistemáticas na Cisjordânia fizeram-se perétuas em Gaza. Saíste de Gaza unilateralmente apenas porque perdias mais do que ganhavas em lá ficar, pareceu-te. As terras e a água estão na Cisjordânia, portanto havia que concentrar forças. Gaza tem o nome de Faixa de mas é realmente como uma prisão, a maior prisão que existe no mundo. Tem mil vezes mais presos que Guantanamo, ora pensa. E a democracia dificilmente cresce numa prisão.

Este filme eu já vi, onde se procura vencer a encarnação do mal, o Hamas – e até aqui estamos todos de acordo – com uma ultrapassagem pela “direita”, ainda mais brutal, ainda mais violenta, ainda mais terrífica do que o próprio mal encarnado nos tipos das barbas, os extremistas islâmicos. No fim, quando a poeira assentar, Israel pára, vencedor, desafiante e dirá: “ganhei!” “mas não se esqueçam, o bom continuo a ser eu!” Claro que fica por resolver o que fazer com o milhão de habitantes de Gaza já que pelo andar da carruagem Israel só conseguirá matar 0,2-0,3% deles e ferir até 1-2%. Isto aproximadamente.

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