quarta-feira, dezembro 31, 2008

"Náusea, ou é a morte que não chega?"

Entrega-te, coração,
Já lutámos tanto,
Que se suspenda a minha vida,
Não fomos cobardes,
Fizémos todo o possível.
Ó minha alma,
Vais ou ficas,
Decide,
Não me apalpes assim os órgãos,
Às vezes com tanta atenção, outras tão desatentamente,
Vais ou ficas,
Decide.

Já não aguento mais, eu.

Senhores da Morte
Não vos injuriei nem aplaudi.
Tende piedade de mim, viajante de tantas viagens sem bagagem,
E sem amo, e sem riqueza, e sem glória,
Sois decerto poderosos e sois sobretudo surpreendentes,
Tende piedade deste homem aflito que antes de franquear a barreira já vos grita o seu nome,
Agarrai-o depressa,
E então, se ele puder, que se acomode aos vosso feitios e costumes,
E se fôr possível ajudá-lo, peço-vos eu, ajudai-o.




poema de Henri Michaux mudado para português por Herberto Helder
in Doze Nós Numa Corda, Ass&Alvim, 1997

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