quinta-feira, dezembro 11, 2008

O padre Inácio e outras coincidências

O meu pai parece-se bastante com o José Saramago. Diz porém quem me quer que o meu pai é bem mais simpático. Acontece-lhe rever no meu pai coisas que em mim lhe agradam. Mais a discrição, a modéstia, o silencioso empenho que sempre se admira em alguém e mais num velho. A obra do meu pai, pelo menos aquela que eu lhe conheço, aproxima-se da de José Saramago em qualidade mas parece-me ser bem mais original. Pela discrição, pela modéstia, pelo silencioso empenho que agora também eu lhe reconheço e que afinal sempre lá esteve. Escuso de esclarecer que uso a palavra obra num sentido bastante amplo: o que foi feito.
Curiosamente e há bem pouco tempo fui encontrar outro estranho parentesco entre o meu pai e um escritor, este já falecido. Estou-me a referir a Luis Pacheco. Num dos meus almoços “de trabalho” num centro comercial de alguns conhecido senti-me obrigado a adquirir alguma coisa para ler enquanto – é-me difícil almoçar sózinho sem leitura ocupativa. Comprei em mini-feira do livro que ali estava um volume de entrevistas do editor e escritor Luis Pacheco. As entrevistas, sujeitas que são à curiosidade mórbida que este personagem atraiu e atrai, acabam por se repetir um pouco. Há ali história e histórias, ambas boas. Que escrevia bem o senhor também eu sei, que já o li. Porque publicou pouco torna-se mais óbvio. Ora o que o traz para aqui é a utilização da expressão exclamativa “os-colhões-do-padre-Inácio”, já não sei a propósito de que. Assim também se exprimia o meu pai em momento de mais verbo, preso e encoleirado por um emprego filho-da-puta, ele então, como sabeis - eu, nem pensar. Mais selecto porém, curso técnico da Escola Industrial, o meu pai dizia “tomates”... Por outro lado, à pergunta balanço-de-uma-vida respondeu Pacheco que “foi como foi”, entre uns impropérios. Lembro-me bem de um dia ter invectivado o meu pai por alguma questão pretérita constitutiva sobre casa, família, tidos e acontecidos – a que ele respondeu: “olha, foi como foi!” Nestas duas vidas, a do meu pai e a do Luiz Pacheco, pouco menos que opostas mas ambas feitas por gente crescida e de barba rija, obrigada a "ser" e portanto sendo muita coisa, apenas posso sublinhar estes muito discretos paralelismos. Sendo eu o paralelismo outro que resta.
Resto eu, é isso.

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1 Comments:

Blogger Sr Blas said...

6ªF paso por el HSJ, Unidade de AVC, para saludarte y darte tus cds y tu DVD.
Unha aperta.

10:02 da manhã  

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