Tempos Difíceis
Os tempos são difíceis. Ou estão, tanto faz. As ruas já não são seguras. Num qualquer semáforo podemos ser assaltados. O insulto está a preço de saldo. Julgávamos ter qualidades que nos tornaríam imunes a determinadas situações vexatórias. Mas não. E vamos a correr para o ginásio. Fazemos constar ser para manter a forma, para abater o pneumático. Mas queremos sim criar aquele músculo perdido para quando num cruzamento as coisas correrem mal, num concurso formos humilhados ou nos ameaçarem com um taco de basebol.
Há uns anitos, nomeadamente antes do "Trainspotting" e dos "Quatro Casamentos", uma common joke era dizer que os ingleses não tinham jeito para duas coisas: comida e cinema. O cinema britânico era considerado uma chatice. Daí a minha curiosidade em ver um filme dos anos quarenta de Michael Powell e Emeric Pressburger, "The Life and Death of Coronel Blimp". Filme contemporâneo do "Citizen Kane", a ele foi comparado, pelas ousadias de montagem. Pouco depois realizariam "The Red Shoes", o filme que todos referenciam como a melhor obra da dupla.
Mas, onde quero eu chegar ? O filme conta a história de um militar que atravessa as duas guerras mundiais, a primeira e a segunda. É uma "reflexão" sobre o "cavalheirismo" dos oponentes em 14-18 e a ausência do mesmo em 39-45, o que justificaria um tipo de reacção pelos aliados nada cavalheiresca. Afinal era um filme de propaganda, 163’ dele, muito bom mas isso. E uma justificação para os bombardeamentos de Dresden por os alemães não terem pedido licença para fazer a blitzkrieg. E com completo desconhecimento do Holocausto, ao ser realizado em 1943.
Um amigo meu, que é médico, comparava recentemente o serviço de urgência do seu hospital a algumas cenas da "Lista de Schindler". E sobre determinado concurso falava de uma "desmedida desvergonha na sequenciação dos candidatos na classificação final".
Salvaguardando o neologismo e a extensão da frase, e por o que ele me descreveu, trata-se de uma situação a la "Coronel Blimp": blitzkrieg revisited, sem respeito pela linha Maginot. A França está invadida, e não há Aliados. E o Holocausto, meus amigos, neste momento é público.
Etiquetas: cinema, nada, o amigo médico
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