sábado, fevereiro 12, 2005

José Gil 1

"Como convém televiver", assim se chama o primeiro capítulo do muito comentado livro de José Gil "Portugal, Hoje - O Medo de Existir". Onde se explica como os noticiários televisivos em portugal apresentam uma visão anestesiante e pararreal da realidade. Efectivamente, após uma sucessão de eventos de terror, violência e aberração, que são apresentados numericamente, sem enquadramento estilo parede de azulejos de quarto-de-banho cheia de sangue esparrinhado, sempre para o fim um ou dois acontecimentos bucólicos vêm amainar a tempestade imagética e descer o caudal de informação ao conformismo português natural: "é a vida!". A CNN termina os seus noticiários com imagens do acontecimento mais importante do dia (tsunami, eleições, ovelha dolly, o que seja). Cá é o nascimento dum panda, o dia dos namorados, flores para a mãe. Chama-se a isto a televisão "valeriana", dentro daquela lógica de que é melhor dourar a pílula senão o português nunca tomaria remédios, nem que por remédio nos queiramos referir à própria vida.
Os alentejanos suicidam-se muito. Será diferente lá, a televisão ?

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