quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Dos Eucaliptos

Cada vez mais eucaliptos há nesta santa terra. Como diria um amigo meu, “pôça!”. Portugal vive um período de crise emocional, portugal está deprimido. E neste tempos conturbados a introspecção nacional nasce de uma pedra, após respectivo pontapé na dita. E eu digo: ninguém consegue glosar os pobres dos eucaliptos para falar sobre o destino deste pobre país ?
Olhemos. São umas no geral pobres árvores, finas e fracas e feias, plantadas a esmo e aos milhares, vidé estrada Sobrado-Arouca, por ex. Crescem muito rápido, novíssimas já estão mais altas que os mais altos pinheiros, o que dizem ser vantagem. E rapidamente são cortadas e novas plantações se fazem, se o fogo não vier surpreender este frenético ciclo de planta-cresce-corta e (não esqueçamos) ganha. Não ganha o eucalipto, que possivelmente até teria preferido ficar pela austrália em companhia de cangurus e demais marsupiais...
Tal os portugueses, reparem, tal os portugueses. Um amigo meu, que é médico, conheceu uma rapariga na consulta, que não era bem doente mas filha de uma. Teve que a observar primeiro por cismas maternais. Depois por cismas próprias (da doente). Finalmente por questões de aconselhamento quase peri-matrimonial. A miúda tem vinte e um anos. Casa em Setembro.
É um facto que os portugueses casam cedo. Que namoram de uma forma que rapidamente se torna estável. E que precocemente (elas mais) começam a suspirar com ansiedade pela estabilidade quando ela tarda em aparecer. Todos os meus amigos espanhóis já mo diziam: “todas xa casadas, tio!”
Em outras terras há uma idade para desejar grandes viagens, grandes perdas, grandes descobertas. Cá queremos sofás, mobílias de sala de jantar, um kit informático “com-tudo” tipo gigashoping. Viagens, bom, toda a malta para o brasil, para o ano todos para cabo verde. “À mólhada”. Isto após o crédito, o carro e ao mesmo tempo que... os filhos...
Os filhos... muito cedo aparecem cá em portugal, muito cedo... e duas coisas acontecem: os pais não têm tempo para eles por muito trabalharem porque têm muitas coisas por pagar, etc. E menos ainda paciência ou vocação, pela contradição entre o novos que são estes pais e o “definitivos” e “ancorados” que eles próprios se vêem. A estabilidade cedo ganha um sabor amargo, e é mal cuidada. Queremos portanto crescer rapidamente, rapidamente chegar lá acima. E depois de lá chegarmos, nós e dez mil, fazemos o check in, todos iguais, eu um bocadinho melhor, repara bem...
Assim os portugueses, e os eucaliptos. Rapidamente crescidos, para a vida, para o emprego e o casório, fraquinhos de tronco e de folhagem mas esticadinhos a acenar, até que.
Apesar de tudo, considero o destino dos portugueses mais abominável que o das árvores em questão. Estas cheiram bem, cheiram a eucalipto. O “cheiro a português”, por enquanto, ainda não ganhou contornos de “agradabilidade”.
E ao fim de vinte anos, ou menos, aos eucaliptos corta-se – mata-se portanto. Os portugueses não, mantêm-se mortos-vivos, a fazer asneiras, rodoviárias ou outras, muitos anos, até que venha um misericordioso enfarte ou avc que os “limpe”. Se não, demenciam cedo, claramente por desuso do órgão-pensante.
Citando um livro recente: “É a vida!”.

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1 Comments:

Blogger tripeiro said...

bonita, a analogia.

10:14 da tarde  

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