segunda-feira, agosto 12, 2013

As listas.

Devia ter seguido Matemática e não Medicina. Ou não. 
Sempre gostei de números. E de contas. E de gráficos. De pegar no mundo e transferi-lo para um rectângulo quadriculado onde as várias peças se encaixam ordenadas por abcissas e... ordenadas. A palavra chave: ordenar. Sim, tenho as minhas obsessões. Concedo, às vezes sou compulsivo.
E... ordenar o quê? Este mundo não tem ordem, não tem. Vejam a actual situação política portuguesa.
Antigamente o Verão vinha acompanhado por uma ausência de política refrescante. Chamavam-lhe a "Silly Season". Não sei porquê.
Este Verão em que estamos, incerto de temperaturas e desfechos, tem tido a maior quantidade de patetices políticas de que há memória no pós-74. Como se um barco, com se ratos que, não sei... 
Querem mais "Silly Season" do que esta?
Bom, adiante. Então... as listas.

Isto das listas começou com a triste ideia de Expresso de me indispor o estômago veraneante publicando, aos bochechos de 25 em 25, as cem figuras que "fizeram" o século XX português. 75 já estão cá fora. Cecília Supico Pinto e Rolão Preto mas não Jorge de Sena? Foda-se! Fica isto para resolver em Setembro mas, Expresso, doeu!

Adoro ciclismo. Acho que a tríade de heróis desportivos portugueses do século XX foi Eusébio, Agostinho e Rosa Mota. Com o extra de Joaquim Agostinho - ainda há quem se lembre que ele era o "homem das Berjenjas"? - ter mais histórias para contar que os outros dois juntos. Portugal e o ciclismo no fim uniram-se para o matar. Mas... que viagem, amigo!
E as listas, perguntarão? Já vai.
O ciclismo vive ensombrado - definitivamente? - pelas suspeitas de doping. Lembro só que a antiga clássica Porto-Lisboa - proibida ao fim de noventa anos por se considerar demasiado longa... - começou a ser cumprida há mais de cem anos com tempos de mais de dez horas em cima de uma bicicleta! O record está em pouco mais de oito. Oito horas para trezentos e trinta quilómetros! Um ciclista de topo pode fazer mais de dez mil quilómetros em competição num ano. O doping é uma deslealdade, um embuste, deve ser perseguido e castigado. Mas são eles que pagam, são eles os ciclistas que são definitivamente humilhados, castigados, ostracizados. Ou que morrem. Ricco, um prodígio italiano, aqui há uns dez anos, tentou fazer uma transfusão em casa. Acabou no hospital em choque. Em 1967 Tom Simpson morreu a subir o Ventoux: anfetaminas e álcool. Muito mais recentemente cá em Portugal morreu um rapaz de seu nome Bruno Neves. Há uma corrida hoje em dia com o seu nome. Agostinho foi várias vezes apanhado. Anquetil, nos anos cinquenta recusava-se a ser controlado. Dizia que a água de Vichy não ganhava etapas. Anfetaminas, corticóides, eritropoetina, autotransfusões. hormona de crescimento. Longe vai o tempo - anos quarenta, cinquenta, sessenta - em que os ciclistas levavam umas pastilhas no bolso para chegar lá acima. Onde acabavam desfalecidos a pedir oxigénio. Muitos no fim da carreira profissional precisavam de tratamento médico para desmame da medicação. Alguns suicidaram-se. Comparado com isto comprar acções a um euro e vende-las a dois e meio porque estamos a falar de um preço de amigo é, para mim, crime de pelotão de fuzilamento. Vejo ciclistas a sofrer monte acima rumo à glória e à minha admiração e são para mim como que amigos.

As listas? Um dia explico.
Vou para fora. Com licença.