segunda-feira, junho 17, 2013

O Alberto esteve em Serralves.

O MAC de Serralves transformou-se numa espécie de Coliseu para os artistas portugueses. Assim sendo, depois de Julião Sarmento e Eduardo Batarda chegou a vez do Alberto. Alberto Carneiro, para sermos mais precisos.
Assisti a uma visita guiada por Isabel Sousa Braga à exposição de Alberto Carneiro em Serralves. Trata-se de um escultor que trabalha madeira. Que começou como "santeiro" na juventude, curiosíssima história, e depois viajou. É um grande escultor. Para a guia da exposição, era "o Alberto". Não entendo. Talvez "a Isabel" pensasse que o nosso interesse em estar ali fosse saber o quanto próxima ela era do escultor, conversas tidas, etc. Não, Isabel, não. Saber o que o escultor pensou ao executar uma obra não obriga ao explicitar de uma proximidade que radicalmente não me interessa. Qualquer visita é uma interpretação, mais até, uma apropriação de uma obra. Pobres de nós que quisemos fazer uma apropriação "colectiva" com "a Isabel". Uma visita destas deve permitir pistas, abrir largas janelas, lançar pontes, a banalidade das imagens podia seguir e seguir, pois a banalidade só termina na qualidade da exposição em si. Mas Alberto Carneiro ali nunca devia ter sido "o Alberto" para ninguém. Eis mais uma exposição que melhor se revisitou depois, sózinho.

Posto isto, a exposição. Alberto Carneiro criou o seu discurso, e este mantém-se muito capaz nesta exposição. As esculturas - árvores e vimes trabalhados para o espaço das salas da exposição - dialogam com espelhos, com folhas, com palavras, com desenhos. Há algo de primordial, de violência suspensa, de paz terminal nestas salas. Alberto Carneiro é um artista em cadeira de rodas. Não sei se isto interessa. As árvores a cair do tecto/do céu pedem que se pergunte: e agora?

E também: a mensagem desta exposição, "Arte Vida / Vida Arte - Revelações das Energias e Movimentos da Matéria", é visivelmente ecológica. Há uma memória escrita pelo escultor que atravessa literalmente as paredes da exposição, esxcrita, repito. Mas, mas, mas um escultor de madeira não mata a matéria que esculpe para criar a obra? E não é isto particularmente visível em Alberto Carneiro, nas suas esculturas quase-árvores, quase-sebes-de-vime? Há uma recriação, uma re-génese? Ou um quase-arrependimento?As folhas no chão, lembre-se, estão mortas, mas como qualquer grupo de folhas no chão... E as melhores esculturas que a natureza nos oferece são, com frequência, árvores... mortas.



PS: fotografias gentilmente roubadas a serralves.pt