segunda-feira, junho 17, 2013

Ovar e a falta de uma figura que.

O Arquitecto Januário Godinho, nascido em 1910 na freguesia de Válega, concelho de Ovar, pode ser a tal figura da terra que Ovar nunca teve e tanto tem desejado. Tem hoje uma rua em Válega que é mais precisamente um troço melhorado da EN 109. Bom...
Para quem não sabe, Ovar é aquela cidade onde os personagens das "Pupilas do Senhor Reitor" de Júlio Dinis têm direito a nomes de rua, porque o escritor, tuberculoso, aqui estagiou uns meses e terá criado o seu primeiro romance.

Januário Marques Godinho pertence ao primeiro grande momento do modernismo arquitectónico da escola de arquitectura do Porto. O seu projecto do Mercado do Peixe de Massarelos, projectado aos 24 anos de idade, é considerado um marco na Arquitectura Portuguesa do séc. XX. Está ao abandono. Em Ovar tem como projectos mais interessantes o Mercado Municipal (neste momento em - preocupante? - reabilitação), o Palácio da Justiça e a capela do Furadouro. Projectos já de maturidade, arquitecto já reconhecido. Mais tarde ainda projectou em Lisboa algumas obras com João Andresen, dez anos mais novo, irmão da poetisa Sophia de Melo Breyner Andresen, este prematuramente desaparecido.

No Porto, na Av. Marechal Gomes da Costa, é seu o projecto, também de juventude, de uma espaçosa vivenda, a casa Daniel Barbosa, de 1936. Esta casa tem uma posição elevada em relação à avenida, e merece uma visita, infelizmente só exterior. Quer-se visível, como antigamente eram feitas as boas casas, longe ainda os tempos das vivendas-pátio de Souto Moura, apenas um muro e um porta em diálogo com o exterior.

Eu já entrei na casa Daniel Barbosa, hoje Serviço de Verificação de Incapacidades do Porto. Como esta magnífica casa não se ajusta ao terrível serviço que presta! A doente de que eu fui certificar a incapacidade já morreu. Lembro vagamente uma ampla escadaria, um hall generoso, muito sofrimento, muito jogo de dados. Para a entrada é necessário subir uma muito longa rampa. E a minha doente, vencida a rampa, não conseguiu subir a ampla escadaria - usada como um teste discriminatório, portanto - e desceram os médicos. O caso era evidente, o tempo perdido foi mais a espera que a descrição do desastre anunciado.




Proponho que a rua Elias Garcia - quem? - que passa pelo Palácio de Justiça e pelo Mercado de Ovar passe a chamar-se rua Arquitecto Januário Marques Godinho.