sábado, abril 09, 2005

Daniel


Eu não acredito em auras. Eu, aliás, não acredito em quase nada. Ás vezes nem sei até onde queria estar, nem a fazer o quê. Sei porém que, de todos os sítios, amanhã gostaria de estar em Baltar, a despedir-me de quem não conheci. A 10 de Abril de 1971, nasceu em Baltar, Paredes, um rapaz com o nome Daniel Augusto Faria. Um rapaz. Que morreu aos 28 anos, após um traumatismo craniano, no maior hospital de uma grande cidade aqui perto. Lembro-me de, há anos, em Ermezinde, num retiro meio-a-brincar, porem-me todos os dias a olhar demasiado para o espelho, onde se via a minha cara, o que não era, e continua a não ser, nada agradável. Antes dos poemas, este Daniel devia ser os seus olhos. Vivos espelhos donde saía uma luz que não parava, um chamamento, um pedido de namoro para a vida. Se o tivesse conhecido, a minha reacção teria sido como perante aquele espelho de há quinze anos: "não sou digno". Mas não vou inventar. Por hoje, e por respeito pelo próprio e pelo halo de veros amigos que o Daniel deixou, não invento. Explico apenas mais um pouco, que o rapaz Daniel possuia uma fúria criadora imparável, escrevia, escrevia, desenhava, colava, fazia teatro, após licenciar-se em Teologia entrou em Estudos Literários, na FLUP. Morreu em retiro, pois estava recolhido no Mosteiro de Sisrverga de Santo Tirso, sua última opção de morada. Recomendo, permito-me recomendar, o livro "Dos Líquidos", em edição da Fund. Manuel Leão, saído postumamente em 2000; o livro "Legenda para uma Casa Habitada", criado à volta da igreja do Marco desenhada pelo Siza; e o poema que dá nome a esse fantástico título de livro: "Homens que são como lugares mal situados", de 1998, da mesma editora.

E o poema termina assim:

"Não os levantemos
Nem nos sentemos ao lado deles. Sentemo-nos
No lado oposto, onde eles podem vir para erguer-nos
A qualquer instante"

Amanhã não vou estar em Baltar. Nem tenho a quem perguntar: onde queres que eu esteja ? Onde é o meu sítio ?
 Posted by Hello

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