quarta-feira, março 05, 2008

Manifestação a favor de


Longe ia o tempo em que um governo em Portugal convocava uma manifestação de apoio. Mais ainda quando este tipo de comportamento, nos anos que correm, se pode associar com linhas de pensamento mais usuais em outros países, outras latitudes, outras vigilâncias. Mas não. Fechada a remodelação, vamos ter talvez a 1ª manifestação de apoio ao governo da Nação deste século, acho. E tudo porque os professores isto, os professores assado.
A minha filha estuda o 4º ano numa escola que pertence aos 13% das escolas que ainda têm horário dito “não-normal”, isto é, só aulas de tarde. Isto permite-lhe estudar e trabalhar os deveres num dedicado ATL de manhã, excepto uma vez semana, quando tem aulas de instrumento musical. Depois das aulas, que acabam agradecidamente tarde, tem a miúda ainda ballet ou karaté, alternando. É esta criança (e seus pais) uma vendida à iniciativa privada? Não: o ballet é da paróquia, o karaté acontece nas instalações doutra escola pública. Com o horário dito “normal” não havia ATL para ninguém, a aula de instrumento teria que rodar para onde o resto das aulas de música já estão, o fim-de-semana. Sem ATL o apoio escolar ficaria entregue à escola pública (mais do mesmo) ou aos pais. Idem a remodelação das assistências – agora vais ao ballet, agora vais ao karaté. Um edifício cuidadosamente construído – o dia-a-dia da minha filha, destruído porque a Sra. Ministra não está de acordo.
A decisão dos horários, as aulas de substituição, o ataque ao ensino musical supletivo, o fecho massivo de jardins de infância e ATL’s, etc., têm um fundo comum: pretendem poupar dinheiro. A reforma das carreiras e da gestão também, e não só: a ideia é domesticar uma área profissional ainda com alguma capacidade (e tradição) reivindicativa, e que também acontece ser quem ensina as futuras gerações. Teremos aqui o objectivo de domesticar "o molde"? O aumento das horas na escola tem qualidades mas também tem defeitos, ao minimizar na criança a diversidade de estímulos e situações com as quais ela se vai defrontar.
Ninguém respeita mais o professorado do que eu. Um amigo meu, médico, costuma contar a anedota de que entrou para a Faculdade de Medicina porque não queria ser professor e achou que médico devia ser mais fácil. Diz, sinal dos tempos, Vital Moreira que as reformas das regulamentações profissionais não podem ser feitas com os profissionais interessados. Escreveu-o ontem. Vindo de quem vem, pode-se falar de mais uma vítima da “longa marcha”. Não podia discordar mais. Por uma questão de respeito, de cultura democrática, de coragem que deve estar implícita a quem governa (a mais difícil das coragens, a do diálogo). Claro que se pode reformar as carreiras, claro que uma avaliação é necessária. A reforma da gestão escolar talvez seja necessária também, não sei, nunca reparei. Mas nenhuma reforma deve ser feita contra os profissionais interessados ou pelo menos sem uma tentativa de diálogo coerente e um explicitar adequado, público, do que se quer. Com respostas às críticas que não sejam “frentistas”, dicotómicas, maniqueístas. Queria só repetir que ao falar de “cultura democrática” acima não me enganei. Trata-se do mais frágil dos ecossistemas ainda vivos em Portugal, mas em erosão acentuada. Talvez por mais este projecto PIN recentemente aprovado.

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1 Comments:

Blogger altavenda said...

"MESMO NA NOITE MAIS FUNDA, EM TEMPO DE SERVIDÃO, HÁ SEMPRE ALGUÉM QUE RESISTE, HÁ SEMPRE ALGUÉM QUE DIZ NÃO"

TODOS Á MANIF.

11:27 da tarde  

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