quinta-feira, março 22, 2007

Joaquim Manuel Magalhães e a Língua Galega

A 10/03 no semanário Expresso JMM tece algumas considerações sobre um livro de Ivo Cruz (julgo ser este o nome) que faz a história do Português, e aí aproveita para desancar o Galego.
Primeiro, elogia o facto de em livro se assumir ser o Galego e o Português línguas diferentes. Este é um facto que a prática torna óbvio, embora tal decisão deva ser do domínio dos linguistas. Certo é que, trabalhando eu em área profissional onde a presença de espanhóis é grande, a integração linguística dos originários das terras de riba-Minho é bastante mais fácil, sobretudo para aqueles que são originariamente galego-falantes...
Sendo o Galego língua outra, não deixa de ser irmã quase-gémea, sendo que as "dissonâncias" de que o autor do texto se queixa, digamos que de uma forma pouco elegante, podem ser arcaísmos, ruralismos, sinais apenas de uma evolução outra, ou de uma interacção com o castelhano distinta, etc. São é o que são, truísmo que a todas as línguas se aplica, sem mais. Depois pode-se não gostar. Eu, a mim, o Eslovaco por ex. cai-me mal.
O pobre Galego, cuja história JMM talvez desconheça, mas que inclui o "parimento" do seu tão caro Português, difícil tem já com medir-se no espaço espanhol com a língua de Cervantes. Ainda mais quando Rosalia para o fazer seu teve que andar dele à procura. Proibidos pelos próprios (Franco, galego de nascimento), desprezado por Madrid e, pelos vistos também por Lisboa (na pessoa de JMM), é esta língua pobre e maltratada, mas o código genético não deixa mentir: se formos raspar umas "celulinhas" à língua de JMM, tentando não maltratar as gustativas papilas, por muito coimbrã ou lisboeta que seja, por aí andarão os genes de Lugo, de Ourense, de Santiago.
Eu sei que o Português maduro foi moldado em Coimbra e Lisboa, eu sei.
Eu sei, eu vi, que os poetas galegos às vezes declamam em galego e depois agradecem os aplausos em castelhano, eu sei. Eu vi.
Mas contra factos não há argumentos: a estátua de Rosalia nesta cidade do Porto, a própria Rosalia, Castelao, ou por exemplo os Rivas de hoje, que buscam (ou nem precisam buscar) a publicação também em castelhano como um facto natural e não um pseudo-oportunismo, não mereciam o que foi escrito.
JMM nasceu na Régua, povoação que não é raiana, mas é aqui perto. Venha um dia desses cá acima. Sugiro-lhe depois um passeio pela raia, do Alto Minho, do Larouco, de Chaves. Saltite um pouco a fronteira. E experimente umas falas com as gentes de um e do outro lado. Compare, e aprenda. Onde nasceu a língua que é a sua.

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