terça-feira, janeiro 15, 2013

Oração Finlandesa Para Estancar O Sangue Das Feridas


Pára, sangue, de correr,
de ressaltar aos borbotões,
de me brotar sobre o flanco.
Como contra uma parede,
imóvel como uma sebe,
lírio marinho direito
como espadana na espuma,
como pedra no talude
e o recife na corrente.
Sangue, sangue, se o desejo
te faz correr com tal força,
circula dentro da carne,
abraça-te aos ossos vivos.
Belo, belo que é correr
na obscura pele compacta,
sussurrando nas artérias,
murmurando contra os ossos.
Pára, sangue, de correr
sobre a fria terra morta.
Não, corras, leite, no chão,
sangue inocente no vale,
beleza humana entre a erva,
oiro de heróis na colina,
bate surdo nos pulmões,
desce, desce fundamente
aos órgãos vivos do corpo.
Não és rio que se escoe,
nem calmo lago parado,
nem fonte que brote assim,
Nem barca velha com rombos.


in "O Bebedor Nocturno" de Herberto Helder (poemas mudados para português)