segunda-feira, junho 05, 2006

Os santos também podem ser populares


Este mundo, digo eu, não é uma aldeia, é meia aldeia.
Um amigo meu, que é médico, vive num 3ª andar. Frequentemente adormece a sua única filha lendo-lhe histórias, pois ela tem apenas 7 anos. Frequentemente esta actividade permite-lhe actualizar o argumento de uma que outra telenovela de alguma das cadeias televisivas privadas que por cá há. A esposa desse meu amigo diz que imediatamente por baixo fica o quarto do filho dos vizinhos… de baixo. Custa-lhe a acreditar, a esse meu amigo, que um rapaz nos seus vintes aprecie tanto o telenovelário, e que ainda por cima tenha semelhantes problemas de audição de forma a permitir às vezes acompanhar diálogos inteiros. Esclareço que o meu amigo não tem mencionado queixas da parte da sua filha no que a barulhos diz respeito.
Sucede que esse rapaz tem uma namorada. Feia, mas namorada. E que é enfermeira no serviço onde esse meu amigo trabalha. Tímida, metida consigo, mas algo sorridente naqueles encontros do costume, elevadores e isso.
Um destes dias o meu amigo partilhou uma noite de serviço com a tal rapariga, enfermeira. De sorrisos nada, um espanto na cara, uma revisão actualizada e diminuída daquela figura que aterroriza os dálmatas, cem mais um, mas sem o glamour. O meu amigo deu a explicação o mais benigna possível: a miúda estaria assustada. Fazer noite de enfermagem num serviço de Medicina Interna não deve ser pêra doce, assumo eu que não sei. O meu amigo adianta que já detectou expressões assim em muitos colegas médicos, mais novos, mais velhos… e sempre com a raiz na mesma situação, o pavor perante a doença, perante o doente. Mas então...

Tudo isto poderia dar uma óptima telenovela…

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