quarta-feira, março 27, 2013

Sessão Quádrupla.

Sim, nestas "férias" aconteceu uma maratona fílmica - quase sem intervalo vi os seguintes filmes: "What Women Want", de Nancy Meyers, "HellBoy - 2", de Guillermo del Toro, "Kill Bill - Vol. One", de Quentin Tarantino, e o mais recente "The Paperboy", de Lee Daniels. Vamos conversar um pouco, filme a filme.

1. What Women Want (2000).

Nancy Meyers é mais conhecida como argumentista ("O Pai da Noiva"), mas neste filme também realiza, e trata-se do filme que precede o rotundo êxito "Something's Got To Give", com Jack Nicholson e Diane Keaton. Aqui temos Mel Gibson e Helen Hunt e a história é isto: Mel é um publicista desbocado e machista que é ultrapassado no emprego por uma recém-chegada Helen Hunt. Mel sofre um curto-circuito em circunstâncias hilariantes e fica a... ouvir o que as mulheres pensam. Sim, é mesmo isto! Esta bênção provoca êxitos, desgraças e confusões várias, e o filme tem, a espaços, muita graça. Mel Gibson é engraçadíssimo a tentar fazer-nos acreditar que aquele papel cai bem nele, mas nós nunca acreditamos. Helen Hunt tem o melhor entornar de olhos do planeta, um entornar que devia pagar imposto. A coisa dos curto-circuitos é muito anos oitenta (John Carpenter em Jack Burton... e o primeiro argumento de Meyers é de 1980), os diálogos são às vezes muito bons, senão fosse Mel o filme resultava mesmo... Falha o filme porque a piada de Mel Gibson e a dop filme raramente se encontram sem ser em conflito, mas ficam algumas coisas como Mel a depilar as pernas com cera, Helen Hunt com os pés ao alto a trautear uma canção, os deditos a bailar e a inversão de papéis final em que Mel é salvo por uma cavaleira andante, ou não fosse a realizadora e argumentista... uma mulher!


2. Hellboy 2: The Golden Army (2008)

HellBoy é a derivação cinematográfica de um comic da Dark Horse criado por Mike Mignolla. Esclareça-se, o rapaz é mesmo filho de Satanás e por isso é muito forte, tem mau feitio, é vermelhusco, e tem os cornos tipo embolados como nas touradas em Portugal. Trabalha para o governo dos EUA conjuntamente com a namorada, uma rapariga que literalmente... arde! Há também por ali uma espécie de homem-peixe muito inteligente, um ectoplásmico esquizotímico que vive num escafandro, enfim... No princípio era o verbo noutras paragens, mas aqui no princípio era a guerra entre os humanos e os trolls, elfos e outros. Declarada a eterna trégua, alguém - um principe tipo "madeireiro", um elfo - que não se conforma. O Hell Boy 2 tem como mais valia uma boa acção, um sentido de humor sem espinhas e optimos efeitos especiais com muita mitologia bem desembrulhada. Vê-se bem e termina OK. Guillermo del Toro nasceu em 1964 (o que é sempre bom...) em Jalisco, México e é muito bom a fazer destas coisas.


 
3. Kill Bill, vOL. 1 - (2003)

Tarantino é o novo Deus, ou era, quando este filme saiu, 6 anos depois de "Jackie Brown". E pela primeira vez foi criticado. Kill Bill é Hong Kong by Tarantino, sem mais. Tem inclusivé uma secção de anime estilizado lá pelo meio. Uma Thurman é Black Mamba, a mulher que, grávida e no seu casamento, é quase morta pelos seus parceiros. A vingança vai ser servida. E o estilo é supino. O filme é uma transfusão de litros de sangue derramado. Não há um mau plano. Não há um passo mal dado, uma fala mal metida. E todas as mortes são justificadas. Kill Bill é Hong Kong by Tarantino. Queriam outra coisa? Enganaram-se na sala. E acabado este, vá de pensar: "vamos ver o 2?". "Jackie Brown" tinha preparado os seguidores de Tarantino para filmes mais "sérios". "Seguidores" mas não "conhecedores"...

 

4. The Paper Boy (2012)

 
Este filme foi a rejeição de 2012. E porquê? Lee Daniels ganhara notoriedade com "Precious". Antigo membro da entourage de Prince e produtor do filme "Monster's Ball" que deu em 91 um óscar a Halle Berry, começou em 2005 a dirigir os seus projectos. Depois de "Precious", multipremiado, o que correu mal?
"The Paper Boy" é apenas mais um filme sobre o Sul Americano: south, sweat, sex... O casting é no mínimo estranho. Uma louca, louca Nicole Kidman corresponde-se com uma centena de presos no sentido de os consolar e estimular (...) os seus sonhos. Zac Efron, estrela Disney, é o Paper Boy, o irmão mais novo dum perdido Matthew McConaughey, jornalista que vai investigar um velho assassinato de um xerife - a paixão por correspondência de Nicole Kidman terá sido julgado culpado erradamente... A empregada negra do costume é uma fantástica Macy Gray - olá Macy...
De que é que os críticos não gostaram? De quase tudo. O filme salta, pula e rebola inquieto - a câmara mexe muito e muito, foca e desfoca - sobre umas cores saturadas, laranjas, amarelos, vermelhos - the sweat, the heat... Pode tanto nervo cansar um pouco, e cansa. Quanto ao sexo Nicole faz e faz o serviço (embora não com má intenção) e o silêncio de Zac Efron dá o resto. John Cusack, o preso, é solto e afinal que o soltem não corre bem. A vida também não corre bem a McConaughey e o destino de Nicole Kidman "afoga-se" nos pântanos da Florida. Bad guys can write nice letters but stay bad guys... Que a Nicole urine em cima do Zac é apenas um fait divers e não tem nada a ver com fetichismo (a não ser o nosso). O filme não é tão mau quanto isso, embora não saiba 100% bem como acabar. O coming of age de Zac Efron está bem feito, Kidman é uma figura trágica razoavelmente bem esboçada. O filme até desce o tom para o fim. Não me senti violentado. Nem todos os filmes que falham não merecem ser vistos.
Nicole Kidman tornou-se primeiro conhecida em "Dead Calm" em 89, em 99 dizia com Kubrick "let's fuck!", só estranho que lhe tenha levado treze anos (e a maldade de John Cusack) a decidir pôr o imperativo à prática sob todas as formas e feitios...