domingo, janeiro 02, 2011

The American (2010)



Ser George Clooney permite algumas situações de excepção. Em “The American”, um thriller americano atípico e demorado onde os carros não correm atrás uns dos outros e a acção, discreta, ocorre nos Abruzos italianos, tipo Beira Alta entre Seia e Gouveia, Clooney contracena com  a explosiva Violante Placido, filha de Michele Placido, o actor de “O Polvo”. Violante é Clara, uma prostituta, e representa 50% do cartaz turístico que este filme também é, como qualquer filme americano rodado na Europa. Os outros 50% dividem-se pelas montanhas e pela aldeia de Castel del Monte. Admirar a paisagem dos Abbruzos permite lavar ainda mais os olhos que já lavadinhos estão por Violante/Clara.

Quem é Clooney/Jack? É um homem que mata. Ao fim de cinco minutos de filme já matou três, e este filme tem o mérito de não enveredar pelo assassinato de minorias. Clooney mata a namorada e dois homens, sueca ela e suecos eles. A namorada é um by stander a quem ele dá um tiro na nuca, just in case. Well, so, what about it? Relocated to Italy, é-lhe recomendado ”não fazer amizades”, o que me parece sensato.

Cloney consegue construir adequadamente este personagem, ice cold outside, cold steam in the inside. É perceptível também que está um pouco farto. Enfim, matar a namorada não pode ter sido fácil, embora ela se tivesse posto a jeito para o dito tiro, isto é, de costas… e pelo que me lembro, o seu rabo não era… enfim… Clooney não devia aproximar-se de ninguém mas "achega-se" a Clara/Violante, uma prostituta duma terrinha ao lado, que ele elege para desafogo semanal. Talk about the kiss of death… Pelos vistos, no século XXI, o sonho de qualquer prostituta italiana é ainda que apareça um qualquer americano que a leve. Assim Clara/Violante.

Não gostei muito deste filme, bem filmado, bem demorado a contar a sua história, mas que afinal acaba exausto e pequenino, sem se conseguir desdobrar em algo mais do que uma promessa de boa história que acaba por não acontecer. Clooney acaba mal e, na verdade, em nenhum momento me pareceu que merecesse outra coisa. Clara é demasiado cromo para eu me preocupar verdadeiramente com o seu futuro. Gostaria de ter conhecido melhor a outra killer do filme, Mathilde/Tekla Reuten, uma holandesa filha de mãe italiana.

Consta que o modelo para este filme era os filmes de Alain Delon. Não sei se nos filmes de Alain Delon – que, confesso, nunca vi por completo – surge aquilo que me parece o mais interessante deste filme falhado: a relação próxima, irmã, entre o amor, ou melhor, a paixão, ou, apontando ao centro, o sexo, e a morte ou o impulso homicida, o uso de armas para matar o próximo, e o seguinte, e o a seguir. Lembro que o orgasmo é “la petite mort”… Clooney vive da morte e do homicídio. Cansa-se de ambos nos braços de Clara (que eufemismo, isto dos braços e tal…). Na prática tenta a sua transferência de médio defensivo homicida para avançado centro amoroso. Transição mais difícil não existe, embora à distância aparente de um telefonema. Questões sobre o futuro de uma relação entre uma prostituta e um homicida não são para aqui chamadas. Clooney usa duas tatuagens, uma delas uma borboleta no dorso. Parece aliás ser entendido em borboletas, e ambas as mulheres de que falo chamam-lhe, em diferente tom/intenção, “Sr. Borboleta”. Uma borboleta há no filme que é dita “em perigo de extinção”. Clooney tenta evitar a sua própria extinção e não consegue. How human, how… not Clooney!

P.S.: o realizador Anton Corbijn é holandês é fotógrafo, realizador de videoclips, e fez "Control", em 2007, sobre Ian Curtis. Não chega.