sábado, dezembro 25, 2010

Lá fora, cá dentro.

Faz frio lá fora. No passeio que desce pela esquerda em direcção à minha porta, à minha tão pouco usada porta, dezenas de camélias, esplêndidas camélias esperam a sua hora para cair da árvore. Estranha árvore esta, uma explosão em pleno inverno, é caso para dizer - pode a natureza gargalhar no mais frio dos dias. Digo pouco usada a minha porta mas hoje por ela saí, por ela entrei. Pouco depois de um bacalhau à brás ter sido transformado numa panqueca, sabemos bem como o tempo é o elemento dominante mesmo na mais rasteira culinária. Um copo de vinho modelou o desastre e transformou-o em suave convívio com a ausência. De quê, ou de quem, não interessa. Lá fora faz muito frio. Aqui dentro menos.
Restam-me vinte anos de vida "útil", arriscando uma estimativa simples. Esta coisa dos "vinte anos", obsessão recente mas que não desaparece, devia fazer de mim um homem paciente. Comigo próprio mas, mais ainda, com as demais pessoas. Tal não vem sendo o caso. E porém, se recuarmos vinte anos, dou comigo a fazer o pós-Natal do ano 90 algures entre esta cidade do Porto a que agora voltei e Ovar, de onde nunca por assim dizer saí. Outros os conviventes, escasso o saber da lida taurina, o bicho das emoções ainda por conter, ou soltar, o que vem a ser o mesmo.
Tem o meu pai oitenta e quatro anos hoje. Agora. Dezoito mais do que o meu apontado "fim-de-vida-útil-minha". Claro que a definição impunha-se, mas uma certa falta de respeito se adivinha. Vive o meu pai, e bem, e ainda bem. Vive, bem mais do que muitos, a maioria, arrisco. Porém, já não "anda". Já não percorre nenhum caminho. Onde era suposto chegar chegou. Ou não. E este chegar ou não é já definitivo.
Posto isto, esta coisa de eu por aqui - ou por aí... - "andar" ainda mais vinte anos afinal supõe uma expepcionalmente "larga" vida... e de "andarilho"! Presunção qb., já que costumo passar na água benta!
Não... Depois do citado Natal de 90 já mudei de casa uma, duas, três, quatro, cinco, seis e, com esta última, sete vezes. De conviventes bem menos, mas houve algum renovar do plantel, confesso. Que hoje em dia se distingue sobretudo por faltar com alguma frequência aos treinos. Faço então calmamente os meus exercícios, relembro velhos truques, vou imaginando como funcionarão - os truques - num jogo qualquer de campeonato que há de vir, um destes dias, meses, anos...
Também tenho aprendido alguns truques novos, feito uns cursos...
Se pudesse ficava nesta "minha" casa os próximos vinte anos!