terça-feira, dezembro 21, 2010

Nelson Ferraz

nós



somos como água de chuva entardecendo
vestidos de natal e de vento e de adeus
sobre estas frias muralhas embriagadas de cor

somos como letras de penumbra
milimétricas
e paginadas de medo

e depois não entendemos o ruído
somos vulgares e repetitivos
entretidos com a brisa das lágrimas
e das dúvidas

e depois
não temos o mínimo cuidado
com a súbita falência do sorriso

somos um hoje aos soluços
tracejado por luzinhas crepitando
dentro da noite antiga e miserável
das notícias

é natal
as ruas já não nos conhecem
e nós não nos conhecemos nunca