O abortamento (cujo produto final é o aborto...)
A poucos dias do referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, lembro-me de textos de Pier Paolo Pasolini coligidos a posteriori nos "Escritos Corsários" onde ele dizia ser obviamente a favor do aborto, mas que tinha pena disso, e que lhe arrepiava que a vitória da lei liberalizadora do abortamento em Itália tivesse sido comemorada pelos seus amigos de esquerda como de uma festa se tratasse. Não consigo agora citar o escrito, mas julgo que o espírito era este.
Faço meu portanto o espírito de Pasolini. Irei votar a favor no referendo em causa. Parece-me ser uma lei equilibrada. Mas não aceito manifestações, festas, beberetes, pancadinhas nas costas, flores e gritos de júbilo à volta deste tema. O abortamento é a medida de uma imperfeição. E é a possibilidade da escolha de um mal que em determinado momento se entenderá ser, no meio de todo o sofrimento, um mal menor. Acredito que poucas vezes será um gesto de egoísmo, e muito raramente uma terrível alegria. Já não vivemos os tempos antigos do abortamento como método contraceptivo. Uma gravidez indesejada, uma paternidade e uma maternidade não assumidas convenientemente, forçadas pela força das circunstâncias levam a mais perturbações mentais em todos os elementos envolvidos do que o inverso. E físicas. E frequentemente medico-legais. Pena estarmos numa sociedade que desistiu de melhorar.
Mas nunca este referendo me alegrará. E a campanha que está a acontecer é imunda. Como o cartaz ao lado, que julgo ser de induzir cadeia. Claro que se fôsse para levar o cartaz como uma pergunta a sério a minha resposta seria em dura coerência com o atrás dito... SIM!
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