domingo, novembro 12, 2006

Carta Terceira

Cara amiga:

Vimo-nos recentemente e fizemos as devidas actualizações. Ficaste a saber como vão as coisas e eu onde vão ficando. De corações se trata a tua vida e por aí andas neste preciso momento, parece.
E tudo isto para te dizer que aquela fotografia que te devolvi há muito tempo, dela nunca me irei esquecer.
Estavas então grávida do teu único e hoje enorme filho, e assim apareces nela, por entre pinheiros. Com o cabelo cortado pelo partido, estavas possuída por uma cara de espanto engraçado, que amenizava a gravidez avançada que saía do teu vestido de corte afinal clássico.
Seria um piquenique. Estariam todos a pensar o mesmo. Mas o teu pensar era sempre mais leve, um pouco mais triste. “Eu?” Isto pensarias talvez. Embora o fotograma seja de segundos depois e a boca desenhe mais um “Oh!” que sempre antecedia um riso teu em que o corpo se inclinava habitualmente em três quartos para o lado. E aí prendias o riso.
Não vou agora aproveitar para redefinir a maldade do nosso afastamento. Fiz-te mal, eu sei. Um clássico de atropelamento e fuga. Mas não importa, atrevo-me a dizer. Hoje, estes anos depois.
Ninguém tentou querer mais a mulher dessa fotografia do que eu.

Sempre atentamente

W.

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