domingo, setembro 17, 2006

Douro - Vindimas


Fomos vindimar ao Douro, na Quinta do Portal (obrigado AMAI).
Mais do que referência pequena sobre a estadia, merece o Douro o transcrever de um poema de A. M. Pires Cabral, homem de Chacim, Macedo de Cavaleiros:











Douro, S.A.

Três sócios.

Deus entrou com o xisto,
a metereologia
e a Vitis vinifera.
O inglês (ou similares),
com o paladar e o talento
colonizador.
O indígena, com os braços, com as mãos,
com as unhas (para arrebunhar a terra
em momentos de maior lucidez),
com as glâdulas sudoríparas
- e muitas vezes com o corpo todo.

Investimento
equitativamente repartido,
como se vê.
(Os dividendos é que nem por isso.)

Depois os poetas, como aqueles sujeitos
que entram nas festas sem convite,
ou talvez melhor: como ratos
vêm às migalhas do banquete.

Deus acha bem as incursões dos ratos.
O indígena não acha bem nem mal.
O inglês e similares acham que,
roendo os ratos a parte meramente
imaterial - por definição inconsumptível -,
não merece a pena investir
em raticidas nem em ratoeiras,
nem sequer em gatos.

Afinal de contas, a beleza
do Douro é um recurso renovável.
Deixá-los comer, coitados. Também
os ratos precisam de viver.

in "Douro: Pizzicato e Chula", ed. Cotovia, 2004.

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