sábado, agosto 19, 2006

2006 Sátiro


Os Gaiteiros de Lisboa apresentaram-se ao nível das edições em 1995 com o disco “Invasões Bárbaras”. Tendo em conta que alguns dos músicos provinham do GAC-Vozes na Luta, lendário projecto musical dos tempos do PREC com a mão de José Mário Branco (JMB), a co-produção do disco por este mesmo era se calhar apenas natural. Dentro da mesma lógica de continuidade, a adaptação de um tema de Sérgio Godinho e o bom gosto das recolhas populares que já alguns tinham praticado antes, como por ex. também José Manuel David nos Almanaque. Bombos, percussões, flautas e gaitas, aqui com a enorme mais-valia de Paulo Marinho dos Sétima Legião, fizeram deste disco um espectáculo para os ouvidos, e depois também para os restantes sentidos, quando os Gaiteiros começaram a espalhar a fama de indómitas apresentações ao vivo, primeiro com JMB, depois a solo.
Dois anos depois, “Bocas do Inferno” acrescentava ao som dos Gaiteiros um acento mais festivo e iconoclasta, potenciado pela explosão em disco de vários instrumentos de sopro literalmente inventados pelos elementos da banda, sobretudo pelo Carlos Guerreiro. Arriscando mais em composição própria, ficaram estas contas pendentes, pois composições de JMB são composições de JMB...
Só em 2002 tivémos novo disco, o 3º, em edição de autor e dando pelo nome de “Macaréu”. Sons mais calmos mas com a mesma panóplia instrumental, e com o acrescento muito bem acolchoado de metais por aqui e por ali. O tom geral bastante agradável não excluía esta dúvida: onde está um grande compositor para os Gaiteiros? E outra: as recolhas de música popular não podiam ter sido melhor pensadas?
E chegámos a 2006: lança-se “Sátiro”, na mesma em edição de autor, mas com maior atenção dos media. Tenta-se recuperar algum ímpeto dos tempos do “Boca do Inferno”, adicionam-se algumas cordas, semicria-se um fado sobre Florbela Espanca com a ajuda de Mafalda Arnauth, destrói-se Paredes/Movimento Perpétuo ao xilofone. Algumas boas recolhas compensam, mais alguns instrumentais bastante bons. Os arranjos vocais do grupo, nem alentejanos nem outra coisa, repetem-se. A dúvida mantém-se: estes mestres da roupagem musical não são eles próprios compositores de 1ª água. A sua música é muito bem desenhada, é muito boa, mas não é… genial. Ao vivo, a festa faz tudo isto esquecer. Mas a prova do algodão que é a gravação em estúdio não perdoa. E começamos a desesperar, já que metade do grupo já está na meia-idade das acalmias…
Nos Gaiteiros afinal é como diz a outra, não há disco como o primeiro…

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