domingo, dezembro 11, 2005

Eyes Wide Shut - take one


Desconheço as razões da separação entre Nicole Kidman (NK) e Tom Cruise (TC). O que eu sei é que, através de Stanley Kubrick (SK) e do filme Eyes Wide Shut (EWS), deixaram para a história do cinema mais um par com história. Eyes wide shut: olhos abertos de para em par, mas fechados. Ou que nada conseguem ver. Quem são TC e NK? Neste filme ou na vida real? Na vida real eram a realeza de Hollywood. Aqui neste filme, ele é médico, ela a sua esposa. Logo no início aparece a nudez de Kidman, a preparar-se para sair. T�m uma filha de 7 anos, que ficará com a ama. Em três ou quatro frases e gestos, percebemos que estão casados há muito tempo, que julgam e navegam na ideia de estarem bem um com o outro. E Kidman, enquanto TC lhe apalpa o seio, mede o espelho. A festa é de Sidney Pollack (SP), que quando é actor costuma ser muito bom. Aqui é uma espécie de mecenas de TC. Médico, ter-lhe-á... salvo a vida? Feito um favor?
Chegamos à festa e o nosso par rapidamente se perde um do outro. Casualmente? Não? A iluminação desta primeira meia hora de filme lembra muito Shining, ao ser excessiva, monótona, quase no limite da tortura. O baile roça o sonho de Jack Nicholson, com NK a ceder aos vapores do champanhe. TC e NK quase nos aborrecem com os seus flirts inconsequentes. E no meio SP chama TC ao 1º piso: uma call girl injecta speedball enquanto estava com SP, e fica inconsciente. E ele? Não viu? Não lhe interessa? No piso abaixo tinha-os recebido com a esposa ao lado. TC aqui começa a não entender, mas cumpre o seu papel, que é pequeno, constata que ela só está muito, como diríamos, decaída, e pronto. Temos um novo herói malgrait lui. Desce e ao piano apercebe-se que está um ex-colega de faculdade que agora é pianista. Muito male bondage, depois nos vemos. E voltamos para casa.
Em casa NK vai à caixa Band-Aid e retira daquilo com que se faz um charro. TC e NK deixam deixas sobre o baile anterior. O que queria aquele húngaro de ti, NK? Comer-me, claro. A assumida confiança na fidelidade de NK por parte de TC exaspera-a (sempre na América o haxixe serve de catarse nos filmes, podia-se escrever um livro sobre isto). E conta a TC uma fantasia vivida há anos numas férias em Cape Cod, onde estavam os dois, já com uma relação estável. NK terá trocado olhares com outro homem, um oficial da marinha, e o fogo desse olhar chegou para ela pôr a hipótese de abandonar tudo, o que não aconteceu apenas porque não houve outro olhar. TC fica transtornado.
Poucos homens assumirão de bom grado não serem o ideal de sua esposa, com ou sem cavalo branco. Neste filme TC e NK nunca farão sexo, ou amor, chamem-lhe o que quiserem. Houve quem na vida real falasse dos dois como um "white wedding". Mas a partir deste momento a imagem sonhada de uma NK possuida por um galante oficial da marinha persegue TC noite e dia. E faz andar o filme.
TC recebe uma chamada tem que sair. A mais estranha verificação de óbito acontece. TC conhece a filha do morto, que era seu doente. Provavelmente demasiado bem. Primeiro ela diz-lhe que vai casar, depois que não se quer separar dele. Apaixonadamente. "Mas, se apenas mal nos conhecemos..." O penteado da filha do morto lembra curiosamente o de NK, embora ela tenha uma cara mais ansiosa, e mais cheia. E chega o namorado. Um misto de TC e Christopher Reeve, antes do acidente, claro. TC mente?
TC despede-se, sai para a rua. Um bando de rapazes empurra-o e chama-lhe paneleiro. A velha questão? É TC homosexual? Quanto já se escreveu sobre. A rua não parece ser o meio de TC. Porque o episódio seguinte, com uma prostituta não demonstra grande maestria. Após um beijo, NK liga-lhe para o telemóvel. O anticlímax deriva em nada, e TC deixa à menina 150 d�lares. Uma coisa que atravessa o filme é TC a exibir dinheiro, a resolver pequenos nadas com dinheiro. E agora? Vamos ao bar do amigo da faculdade. Após umas cervejas, este conta-lhe dumas festas orgiásticas, onde toca piano de olhos vendados. Todas as noites num sítio diferente. Cerveja puxa cerveja, a chamada acontece e TC obtém a palavra-passe para a festa dessa noite, e o endereço.
E continua a abrir portas com dinheiro: como uma loja de aluguer de roupas de fantasia (TC quer ir à tal festa, um baile de màscaras veneziano com sexo). Por umas centenas de dólares o Sr. Milich arranja-lhe smoking, fato e m�scara. Aqui um fait divers acontece com a filha do sr.Milich e dois orientais, uma espécie de interlúdio felliniano novaiorquino. E vai para a tal festa de táxi (como? Você disse táxi?). Fidelio é a palavra passe, e a ela voltaremos no fim de tudo. O cenário é veneziano, já se disse, mas percebe-se que TC destaca dos outros intervenientes. Serão muitos, mas as cabeças serão contadas. O sexo é porno não complicado, e os mascarados vão passeando por aqui e por ali, vendo, escolhendo. Uma das prostitutas avisa-o uma e outra vez. Porquê? TC não atende. É desmascarado e convidado a despir-se. A prostituta aparece e "redime-o" assumindo a sua culpa. Porquê TC nunca saberá, pois é expulso da festa sem mais. Longa e escultural como a mulher que deixou em casa a dormir, ter-se-á apaixonado por si num só olhar, ao ponto de se sacrificar e presumivelmente por a sua própria vida em risco? TC não percebe, não entende. Assume-se ser a prostituta drogada que aparentemente salvara dias antes. Mas o filme nunca nos dará o prazer de uma confirmação. Aparecerá morta no dia a seguir. Mais não conto EWS é um filme a ver apaixonadamente. Mas onde está a paixão neste filme? Posted by Picasa

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