terça-feira, outubro 04, 2005

Turquia 2

Voltando ao tema turco, e agora que, por enquanto, começaram as tão faladas negociações, vejamos os argumentos em contra que eu citei ontem de um diplomata britânico, e a resposta possível aos mesmos:
a) “O que começa coxo tarde ou nunca se endireita”. A deficiência motora referida não é culpa da Turquia, mas de um corpo diplomático europeu que não prima pela coerência de processos nem pela transparência de intenções. Endireitar o raquis só pode indicar o cumprir dos compromissos assumidos...
b) “Não é possível uma negociação honesta quando não há unanimidade nos governantes, e menos ainda no eleitorado”. Se começarmos pelo eleitorado, o desvio da opinião pública em contra o acesso turco à Europa serve para muita classe política poder escudar-se no: “não somos nós, é o povo que é contra, é estúpido, tem medo...” Há que esclarecer, explicar, desmistificar, etc. Lembrar por ex. que antes de 2015- 2020 não haverá entrada, que a Turquia já tem uma união aduaneira com a UE, que os turcos não têm culpa de serem muitos... Esclarecido o eleitorado, não restará outra opção aos políticos que esclarecerem-se a eles mesmos...
c) “Alega-se que a liberdade de opinião na turquia ainda não é completa”. Na lei parece que já o é. De qualquer forma, o acesso à UE será sempre um processo moroso e de lenta negociação. Leis por cumprir devem ser vigiadas, e julgo que o detalhe referido rapidamente se tornará num exemplo de um passado que se quer distante.
d) “O acesso turco devia primeiro ser enquadrado num mapa mais vasto que definisse até onde quer a UE expandir-se”. Plenamente de acordo mas...mais uma vez a UE deixou os trabalhos de casa por fazer, mas não por culpa da Turquia. A Ucrânia pediu o acesso à UE em 2004, a Turquia em 1963. E a Ucrânia será um país de absorção muito mais difícil. Será que apetece mais por estar mais disposto a vender-se por completo a preços acessíveis ?
e) “As instituições europeias estão um caos, e a Europa não sabe como governar-se a 25, quanto mais...” Primeiro todo o processo de negociação (embora falhado...) da cosntituição envolveu já a Bulgária e a Roménia. 2º, cada vez mais a Europa se afirmará como um xadrez de países em sintonia preferencial e menos como um quase-estado federado. Já vimos que o federalismo não vai ser o caminho escolhido, até por distanciar ainda mais o eleitorado do poder realmente executivo. O xadrez é o caminho, só falta articular melhor as peças...
f) “A questão do norte de Chipre” é também um escolho importante. Com o qual, repito, a UE não soube lidar adequadamente, ao tomar partido. É com a Turquia dentro e não fora das instituições europeias que possivelmente, com o passar de eventualmente mais uma geração tudo se pode resolver.
g) “E resta o genocídio arménio”. Pede-se por uma verdade histórica. Suponho que a Turquia também a deseja. Mas seria a Turquia o primeiro país que, no presente, precisaria da caução de historiadores em relação ao seu passado para poder decidir e orientar o seu futuro. Difícil de explicar...
Só nos resta desejar boa sorte aos turcos... e com eles aos europeus como um todo !

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