quinta-feira, junho 02, 2005

E então para onde vamos ?

Uns dias antes o nosso herói tinha estado numa livraria não multinacional mas quase, e surpreendera-se com o número dos livros de fantasia, magia e mistério que eram escritos e, mais que isso, eram vendidos. Porquê ? Já não no virar do século mas ele virado já há algum tempo, e a meio da sua primeira década, era difícil entender o porquê de neste século vinte e um o entretenimento primário das pessoas – escrito – ser livros de (pouco) engenho passados no medievo. Até porque estes que os compravam ainda não eram a geração Harry Potter. A geração Harry Potter neste momento lia o Código Penal, livros de Engenharia, Arquitectura, Medicina ou sucedâneos… Mexendo e remexendo no bolso das teorias fáceis, o nosso amigo equacionara o bruxedo e decidira que uma profunda falta de magia e encantamento no dia-a-dia das pessoas de hoje só os fazia desejar a evasão subscrita em livros e mais livros sobre cabalistas, caravelas e justas de cavaleiros, dragões, bestas e pés de cabra, com ou sem dama anexa. Aliás já algum tempo antes se interrogara sobre o estrondoso sucesso da trilogia cinematográfica do “Senhor dos Anéis”, com a qual até nem simpatizava por aí além. Esta antipatia era um segredo dos mais bem guardados.
Engraçados tempos estes em que a palavra “racionalista” se transformou num insulto dos mais pesados, como se devorasse criancinhas. Magia ? Não há magia. Dragões ? Esquecendo alguns adejos dorsais de uma população rebelde ali sediada pelas Antas, não há dragões. Nunca houve. Os paleontólogos bem procuram nos sucessivos esqueletos dos répteis mais antigos sinais de movimento, de leveza, um cheiro a correnteza aérea. Mas nada. Naquela pedreira na serra de Aire onde com calculada manha os dinossauros andaram dias e dias para trás e para a frente, hoje sabemos, a deixar marcas para a posteridade, gente houve que buscou nesta ou naquela pegada sinais e sintomas de um peso mais subtil, um raspar mais leve, como quem parte, ou como quem aterra. Cálculos feitos - não senhora, o peso aplicado era o devido. Restava o acaso, a quem ninguém dava demasiada atenção. O acaso.

Etiquetas: