segunda-feira, março 28, 2005

Terri Schiavo

Ao mesmo tempo, outro debate, completamente diferente, está a acontecer no estado da Florida: uma mulher nova, sofreu há 15 anos uma paragem cardiorrespiratória, aparentemente dentro de um contexto de bulimia/medicações/hipokalemia grave. Actualmente vive em estado vegetativo persistente (dúvidas, não dúvidas...), respirando expontaneamente, etc., numa clínica de cuidados continuados, e é alimentada por um tubo de inserção percutânea que conecta com o estômago, isto porque ela não consegue deglutir.
De há anos a esta parte, existe uma luta entre marido e pais sobre a suspensão ou o continuar deste tipo de alimentação. Neste momento foi decidido não pelo marido mas por um tribunal a suspensão da alimentação e da hidratação pela gastrostomia, assim se chama a coisa, devido a segundo a lei do estado da Florida estarmos perante "medidas excepcionais e artificiais de manutenção de uma vida", e isto numa doente "sem qualquer perspectiva de recuperação e com o diagnóstico de estado vegetativo persistente".
Terri Schiavo está viva, embora a sua vida de relação não exista. Consegue-se obter imagens da TAC cerebral desta doente pela internet (!!!) e efectivamente o seu cérebro é residual. Mas respira expontaneamente, o seu coração bate, os restantes órgãos funcionam.... A discutir, seria de discutir a colocação da gastrostomia há 15 anos... tirá-la agora, independentemente do não sofrimento efectivo que se esteja a provocar, parece-me ser aqui que se está a cruzar uma linha perigosa.
Mais, se segundo a lei a remoção da gastrostomia é legal, e portanto vai-se matar quem cerebralmente já cá não está, porque não uma perfusão de opiáceos ou de um anestésico, ou cloreto de potássio (suprema ironia nesta mulher !), de forma a que não restem dúvidas que Terri Schiavo morre sem sofrimento, e o sofrimento da família é mais rápido, e o caso menos mediático ? A lei não permite não é ? Para todos os efeitos estamos a matá-la à fome e à sede e, a matar existem formas muito mais suaves e indolores.
Claro que este caso suscita efectivamente uma espiral de debate sobre a eutanásia. O caso de Ramón Sampedro não.

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