terça-feira, outubro 16, 2012

Das chaves e sua companhia.

Diz-me, mãe, para que queremos as mãos ocupadas? Sei de mim, de ti não sei, hoje diria que não sei nada de nós os dois.

Sei que às vezes ia “à praça” contigo, ao mercado do peixe, ao mercado dos legumes, à feira das roupas e do calçado, e uma das tuas mãos levava sempre as chaves da nossa casa a tilintar, a tilintar, confesso não lembrar se me davas a outra mão. Entretidas seguiam as chaves, brandidas e jogadas de uma mão para outra, porquê pensava a criança, para quê se há bolsos, se há carteiras, se há destinos alternativos para um conjunto de objectos enlaçados por uma argola de metal de que só voltaremos a precisar à volta, quando o círculo se fechar, quando a excepção terminar na casa de que saímos em aventura?
Hoje, e digo hoje pesando bem que já passaram quatro décadas, hoje ando, caminho, percorro-me, com as perdidas mãos à procura. Que nunca encontrarão o que agarrar, e talvez seja melhor assim. Temos pena, eu e as minhas mãos.
E ocupo-as, entretanto. Com quê? Com chaves.