terça-feira, fevereiro 07, 2012

A Separação - 2011.



O Irão é um país abençoado. E explico: vive sob uma democracia islâmica que não é mais do que uma teocracia mal disfarçada, com uma oligarquia de clérigos e/ou militares e/ou mafiosos a viverem de um país riquíssimo - de recursos, de gente, de história, de localização estratégica - e a conseguirem, usando um proceder religioso anacrónico como força legitimadora, dominar uma sociedade civil fragmentada e prisioneira de múltiplas contradições.
Ah, bom, e então... abençoado? Sim, porque é habitualmente nestas casas que a melhor cultura, a que resiste e confronta e sublima e ultrapassa, acontece. O Irão tem uma meia dúzia de cineastas de topo ao nível mundial.

"A Separação" trata do atrás dito. Fragmenta-se uma família, burguesa e com filha única em colégio privado, porque um pai tem Alzheimer e um bom muçulmano não abandona o pai. Alzheimer, um nome ocidental, Ocidente para onde a mulher quer emigrar, porque está farta do Irão. E o Irão vai com as suas garras, as da peculiar justiça que por ali se faz, destruir e destruir e destruir. E há ainda mais, há a criada que toma conta do pai com Alzheimer sem que o marido saiba. E que depois cai e perde uma criança. Porque a perdeu?
"Porque perdeu aquela mulher a criança?" A solução deste mistério faz de "A Separação" o mais atípico dos filmes de tribunal, e num tribunal termina, sendo a juiza derradeira a filha, a sacrificada filha daquele trio, porque ela sabe a verdade e, na mais tenra das idades era vai julgar.
Grande filme, o melhor que eu vi em 2011.