Nuno Moura.
Alguma da poesia mais interessante do virar do século e depois pertence a Nuno Moura. No ano 2000 fez sair na Mariposa Azual um livrinho de umas trezentas páginas onde, sob o nome de oito pseudónimos dava largas à sua inventiva poética. Nuno Moura não facilita e não encaixa. Nas correntes das escritas de poesia do rectângulo não há bem onde o meter. Assim o leio e espero não enganar-me, pois assim está bem.
Agora transcrevo, desse bendito livro, esquecendo a pseudonomia.
"dentro das pernas cabe um braço
mas a superioridade da língua
baralha tudo
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Uma mulher vai na parte mais bonita da rua.
O seu gelado passa de boca em boca no passeio contrário
mas pouco dos galos a combusta.
Apetece-lhe chegar a casa e pôr a cabeça sobre os pêlos~
do peito.
Ficava-lhe bem uma barba postiça lá para baixo
mas há muito tempo que não o faz.
Um cigarro antes de dormir.
Um beijo para acordar o charlie brown.
A camisola de ginástica perto do saco perdido de frio.
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Apanhou o táxi e disse, - um desastre quanto é?
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estarei na paragem do setenta e oito
e do trinta e cinco
mas de certeza
na do trinta e dois dos teus pés
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o pequeno pede ao pai
para ele pôr o jimi hendrix bem alto.
O pequeno acompanha
a música batendo o ritmo nas pernas do pai.
O pai nunca ouviu jimi hendrix assim
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eu tenho um olho torto que é o que escreve.
o que está quieto
só vê.
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um homem bebe uma água e deixa-se estar.
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13 de janeiro
a mascote que me acompanhou hoje foi um cão.
andou toda a tarde nas minhas costas.
as pernas abrem-me pelos joelhos e o alívio que sai
é uma corrente de ar que me traz sangue ao nariz.
por cima das botas do cão estão ossos bem aproveitados.
o pulso direito não corta a meta."
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