terça-feira, março 08, 2011

Caos Calmo 2008

Nanni Moretti é a prova provada  de que a Itália ainda vale a pena. Mas "Caos Calmo" não é um filme de Nanni Moretti, ou pelo menos não é realizado por ele mas sim por Antonello Grimaldi. Quem?... O personagem principal é representado por N Moretti, que é co-argumentista...
O "Caos Calmo" acontece porque Pietro perde a mulher num acidente doméstico enquanto está na praia a salvar uma estranha de se afogar - uma situação muito Morettiniana, e fica com uma pequena filha. Pietro é um executivo de uma grande empresa. E decide passar os dias a esperar - na praça em frente - que a sua filha saia do colégio, depois de a deixar nele pela manhã - óbvio complexo de culpa por não ter estado no sítio certo quando a mulher Lara caiu...
Este filme roça aquele arquétipo da produção europeia qualidade plus correcta, e por isso no co-starring está Valeria Golino, Alessandro Gassmann e até... um cameo por Roman Polanski! Os carros são sempre topo de gama, a segunda habitação também. Moretti/Pietro passa a fazer a sua vida naquele jardim. Resolve os seus negócios por telefone e almoçando com a secretária. Superiores, amigos e inferiores vêm pedir-lhe opinião, defender pontos de vista, oferecer promoções. Por outro lado, a sua dedicação à filha, o seu "estado peculiar" começa a ser comentado, conhecido. Faz amizade com a malta da zona, claro, como bom italiano.
Como se resolve este imbróglio? Pietro/Moretti literalmente fode a mulher que salvou de morrer afogada - a amante do seu futuro patrão? - uma forma muito masculina de seguir em frente. Depois, a filha diz-lhe que as amigas já se riem dela por o pai "não lhe desamparar a loja", ao que ele, que parece ir aceitar uma boa promoção, acede a não ficar mais ali pelo parque para sempre. A vida continua... Moretti sai da rua.
Como não é um Nanni Moretti, repito, é só meio, este é um bom filme. Reflexão divertida, não demasiado pesada, bem construída, sobre o luto e a gestão daqueles tempos em que precisamos parar - meses, às vezes - para depois seguir em frente. Vê-se bem, e Moretti é um óptimo actor. Até quando fuma ópio e protesta porque a droga não funciona: "Não bate, não bate!..."