O registo de uma tarde, esta.
Começou esta tarde aí pelas dezassete, hora a que voltei a casa. Saíra dela pelas dez e meia e já ía exausto, ferido.
Voltei e logo encontrei um sítio onde encostar-me. Encostar é um verbo interessante. Encostar a bicicleta é dos gestos mais clássicos do clássico cinema europeu e americano, e tem as suas ressonâncias Brideshead. Encostar o carro à berma pode ser para vomitar a noite anterior, fazer a criança urinar, desistir de vez.
Aqui há vários sítios onde eu posso encostar-me. Escolhi o mais habitual e comecei a analisar. Ou melhor, não. Li sobre a crise em Moçambique, absorvendo os pontos de vista de duas reputadas publicações. Li e reli o Babelia, o suplemento literário do El País. Percebi que a Cidade da Cultura de Santiago afinal é um grande acontecimento da arquitectura, sobretudo para o seu arquitecto. Simpatizei com a juiza do processo Casa Pia, que emagreceu muito e conseguiu discernir, das centenas de sevícias denunciadas, aquelas que efectiva e comprovadamente terão acontecido e aquelas que ficaram relegadas para a dúbia saca do Continente das irregularidades processuais. Li sobre o Sporting mas não quis acreditar. Comprovei que estou farto de Carlos Queirós e da cona da mãe do Luis Horta. Percebo que André Vilas-Boas tem afinal um grande plantel, que até resiste ao facto de Domingos Paciência - como eu gostei deste miúdo quando era jogador! - ser melhor treinador. Moçambique outra vez. As inanidades do JL Peixoto. E do Ricardo A Pereira que consegue só ter alguma piada a falar do Francisco Lopes. Repito o Babelia, caso tenha falhado alguma coisa. Politicamente falando, o país ao lado está tão ou mais fodido que o nosso. Vão levar com o PP que até vão guinchar! O Zapatero, apesar de morto, continua com aqueles pobres olhos claros de meter pena; já nem ele acredita no que anda para ali a fazer. O Rubalcaba, enfim, vou saltar os nomes, o governo espanhol tem por ministros gente que em uma sílaba que dizem fazem mais sentido que toda uma legislatura de discursos do governo português actual, enfim, eis o que penso enquanto me mantenho encostado. Pobre Rubalcaba. Pobre Espanha mais os seus nacionalismos de opereta... até o nosso simpático e sexy Luís Amado dispôs-se a falar sobre a selecção nacional de futebol...
Encostado a quê? Há quem se encoste a alguém, e leio sobre o pintor Victor whatever que foi "a musa" de Paula Rego até morrer de EM em 1988. Afinal encontramos uma mulher com "a sua musa". Mas que ela lhe chama "mentor" - older brother, enfim, marido. Gostei da sua pintura. E leio sobre a biografia de Clarice Lispector que pela tarde tinha folheado na FNAC e que não comprei, entre outras razões, porque tenho dois livros de CL por ler. Impressiona-me a mim e a meio mundo a cara de CL.
Parei, fiz algo para jantar, agora escrevo isto, a comida a esfriar aqui à minha direita.
Por muitos anos que viva, não vou esquecer o dia de hoje, dia onde a praia ainda teria sido possível, mas outras coisas não.
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