segunda-feira, agosto 16, 2010

O desequilíbrio documentado - Agustina Bessa-Luis e Mª João Seixas.

Comprados há aprox. um ano os DVD's agrupando uma trézia de programas da RTP com Agustina de 2005, só agora vi meia dúzia.
Filmados de uma forma fúnebre por Fernando Lopes e com um chefe electricista de nome Mário Soares, têm Mª João Seixas a entrevistar/conversar com Agustina sobre provérbios e aforismos, palavras enfim, é sabida a fama e o proveito que Agustina tem de ser uma emérita criadora dos últimos e uma inexcedível jogadora da palavra.
Falo de desequilíbrio porque o contra-ponto Mª João Seixas vs Agustina chega a impressionar. Mª João Seixas terá até uma cultura aqui e ali mais larga - talvez menos literata - que Agustina. Aliás Agustina tem a desarmante facilidade de dizer sobre várias coisas que não sabe, que não sabia... Mas em Agustina há, nota-se, uma teoria das pessoas e das suas construções que é sua, única, procurando aqui ela transmiti-la um pouco, et pour cause, jocosamente, risonha, zombeteira. Assim a sua visão sobre as mulheres e os homens, o Norte, a Europa, o Ocidente e o Oriente, visões suas, desalinhadas mas fortes e bem defendidas. Teoria que para se construir foi lida, pensada, mastigada, contestada, arrematada ao mais forte. Não resistindo à comparação, por ex. a maldade de que Agustina fala reside uns bons trezentos quilómetros para baixo do manto quotidiano de maldade de que alguns livros de Saramago vivem. E Mª João Seixas é afinal como eu, como outros, não inventa, compra, comprou, adquiriu, e daí vive, no seu caso num feminismo engagé que não vê muito para além de.
Estes programas sobrevivem única e exclusivamente à custa de Agustina. Doem à vista até que ela aparece, e lesam a medula mal ela se vai embora.
Vi os primeiros seis. Valeu bem a pena embora alguma coragem tivesse sido necessária.
Agustina morrerá proximamente. É exactamente o último grande ramo da erupção de valor literário de brotou em Portugal e que teve datas de nascimento na década de vinte, começando mais precisamente em 1919 (Sophia e Jorge de Sena).
Nada do que fôr então escrito conseguirá definir bem a certa imagem desta Mulher.